Durante uma rodada de lives exibidas nos últimos dias 08, 09 e 12 de outubro pelo perfil @visaodasgrotas no Instagram, nove jovens moradores das grotas de Maceió, não apenas falou com desenvoltura sobre arte, cultura e lazer “nas quebradas”, como também relatou de que forma a participação no projeto realizado em parceria com o ONU-Habitat.
“Nós ficamos muito satisfeitos de eles terem ocupado o perfil do projeto no Instagram com suas falas, pautas e debates, de forma livre e dinâmica, complementando o que eles(as) devem produzir após as Oficinas de Comunicação Popular, que possuem roteiro e objetivos específicos para cada fase do projeto”, complementou.
A experiência inédita na vida de cada integrante fez, por exemplo, a estudante Ewellyn Lourenço, 19, enxergar possibilidades que não imaginava, como a realização de uma produção audiovisual por mulheres jovens, negras e moradoras de periferias. Neste componente do projeto, o grupo de nove jovens tem a missão de captar imagens e entrevistas de moradores das grotas com o objetivo de produzir um documentário sobre a pandemia e o contexto social e econômico dos assentamentos informais situados na capital.
“Ver pessoas da periferia fazendo esse trabalho é algo que me deixa muito representada. São mulheres falando sobre seus gostos, sua cultura e seu local”, comentou Ewellyn, moradora da grota Santa Helena, no bairro de Chã da Jaqueira, durante a live de abertura intitulada “Ela me Representa: Mulheres no Audiovisual”.
A jovem Agnes Vitória, 21, residente da grota do Rafael, no bairro do Jacintinho, acrescentou na sequência: “As mulheres que atuam nessa área não têm visibilidade a ponto de serem enxergadas por um público maior. Nós mulheres precisamos ser representadas. E só iremos nos sentir representadas a partir do momento em que ocuparmos determinados espaços”, formulou.
Num processo revelador e potente, que tanto altera a percepção da realidade ao redor quanto promove maior engajamento nas questões pertinentes às comunidades, a jovem confirmou o impacto transformador da iniciativa. “Eu sou outra pessoa depois que eu comecei o projeto, que me abriu os olhos para muita coisa. Mudou a minha visão de ver o mundo, como compositora e como poeta”, confidenciou, antes de encerrar a participação com uma poesia cantada de sua autoria.
O projeto do ONU-Habitat com o Governo de Alagoas também oferece a oportunidade de os próprios participantes contribuírem como agentes de transformação do entorno em que habitam. “A gente sempre foi colocada nos espaços como objeto e agora está sendo como protagonista. Isso é algo potente”, enalteceu Mary Alves, 25, moradora da grota do Ary, durante a segunda live cujo tema foi “Cultura como Forma de Contribuição Social”.
Sobre a experiência que demanda mais interação com a comunidade, Mary destacou a relação com as crianças durante a realização das entrevistas. “Eu queria entender como as crianças estavam compreendendo a pandemia. E elas estavam entendendo o que estava acontecendo. Elas não podiam me ver na rua que começavam a perguntar: ‘Tia, você vai filmar hoje?’”. Mary passou a ser a “cineasta da quebrada”, como apontou a tutora Eloysa Lopes, que fez a mediação da live.
Próximos passos
A série de lives, idealizadas e conduzidas pelo grupo de tutores(as) e jovens do projeto Visão das Grotas (@visaodasgrotas), faz parte do desafio da Fase 3 – “Minha Grota é massa” –, que tem como objetivo identificar as potencialidades urbanas das grotas e vocações sociais e econômicas dos(as) moradores(as).
Na próxima quinta-feira (15), o grupo de nove jovens participará da quarta e última Oficina de Comunicação Popular do projeto. Depois disso, eles(as) terão mais uma semana para registrar novas imagens e entrevistas com moradores(as) das grotas. Na sequência, como encerramento do projeto acontecerá um encontro virtual com jovens de comunidades do Rio de Janeiro e cidades da África lusófona – países que têm o Português como idioma.
A parceria do Governo de Alagoas com o ONU-Habitat começou em 2017 e, desde então, diversos projetos foram e vêm sendo desenvolvidos nas comunidades mais vulnerabilizadas de Maceió. O programa Vida Nova nas Grotas, por exemplo, já promoveu e continua proporcionando uma verdadeira revolução urbanística em dezenas de assentamentos informais na capital.
*Com Agência Alagoas