A carta entregue pelo vice-governador Luciano Barbosa (MDB) ao diretório de seu partido, mas endereçada ao emedebista-mor de Alagoas, senador Renan Calheiros, contém algumas verdades, como por exemplo, dizer que suas pretensões de disputar a Prefeitura de Arapiraca já eram conhecidas.
É fato. Elas eram mesmo!
Eu mesmo, aqui nesse blog, falei sobre o assunto ainda quando era período pré-eleitoral, entrevistando até o deputado estadual Ricardo Nezinho (MDB), que confirmou a disputa interna dentro do partido entre ele e Luciano Barbosa. Outros colegas de imprensa também falaram sobre o assunto e destacaram o motivo pelo qual Barbosa deixou a Secretaria de Educação.
Então, o senador Renan Calheiros bancar o “surpreendido” - como fez em entrevista à jornalista Vanessa Alencar – é uma falácia. Se nos quatro cantos de Alagoas era ecoada a possibilidade de Luciano Barbosa ser candidato à Prefeitura de Arapiraca, Renan Calheiros quer enganar a quem ao dizer que não sabia? Logo Renan Calheiros, o oráculo enxadrista da política alagoana? Ah, tá...
Acreditar que Calheiros foi surpreendido é o mesmo que acreditar em Papai Noel dentre outras figuras míticas. O que está em jogo no MDB é o projeto eleitoral de 2022. Quando Luciano Barbosa destoa dele – em função de um possível compromisso previamente assumido – causa danos irreversíveis ao “calheirismo”.
Se Barbosa tinha esse compromisso, ele foi firmado “de boca”. E aí, pode-se acusar o vice-governador de traição, de descumpridor de acordo e até de passar para trás o grupo que o fez ascender. E isso é reprovável. Afinal, até na família de Vito Corleone há alguma ética e vale alguns fios de bigodes amarrados. Agora, como tal compromisso não é contratual, resta ao MDB comandado por Renan Calheiros tomar as providências e construir uma narrativa.
Isso não muda o fato de que os interesses de Luciano Barbosa já eram conhecidos. Obviamente, Barbosa não é santo e já sabia também do vespeiro no qual estava entrando, pois tentaria dar uma rasteira em Renan Calheiros.
Outra alfinetada de Luciano Barbosa, na carta entregue, que é verdade é a seguinte colocação: “Processo de ética por requerer um pedido de registro de candidatura? Expulsão? Não via esse rigor ético do MDB em relação aos filiados que foram envolvidos em escândalos e até mesmo condenados por corrupção”.
Verdade, Luciano Barbosa. Mas sabe quem se envolveu em escândalos? O senador Renan Calheiros. A alfinetada foi certeira, não é Barbosa? Ainda que sem citar nomes. Velhas táticas da política.
Se Renan Calheiros é culpado ou inocente, aí é com a Justiça. Inclusive, Calheiros já foi alvo de processos que foram arquivados, mas há outros. Eles causam escândalos. Barbosa só não teve a coragem suficiente para nominar os membros do MDB que passam por isso, pois o senador é um deles.
Agora, Luciano Barbosa, não existe “vontades ou percepções individuais equivocadas”. As percepções dos Renans (pai e o governador Renan Filho (MDB)) são corretas: é de que a posição do vice-governador os complica. Possuindo eles a posição que possuem, natural que busquem agir. Portanto, “as percepções individuais” possuem nomes: Renan Calheiros e Renan Filho.
Diante disso, quando Luciano Barbosa afirma não compreender a razão de “tamanha agressão, justamente contra quem sempre esteve junto em todos os momentos vivenciados pelo partido e especialmente ao lado de vossa excelência”. É falácia. Ele sabe muito bem as razões. Ele sabe em qual vespeiro mexeu. Ele sabe o quanto ele passa agora a ser uma peça protagonista na rearrumação das forças políticas e o quanto isso desagrada Renan Calheiros e Renan Filho, pois ambos não terão a máquina pública nas mãos na eleição de 2022.
Luciano Barbosa não é ingênuo! Ele sabe muito bem disso.
Outro trecho que me chamou atenção é quando Luciano Barbosa diz o seguinte: “Não é bom exemplo para Alagoas e para a cidadania, nem colabora para o desempenho político eleitoral do MDB, essa atitude de terra arrasada, com a sequência de atos truculentos, anulando uma convenção legítima, dissolvendo indevidamente um diretório municipal leal aos interesses e projetos do partido e tentando aniquilar, sabe-se lá por qual razão, as chances concretas de eleger o prefeito e uma boa bancada de vereadores na segunda maior cidade do estado”.
Eu não sei quanto ao leitor, mas eu – caro, Luciano Barbosa – já vi tantos maus exemplos no MDB que esse é só mais um…
“Que exemplo inusitado é esse que está sendo exibido para Alagoas, onde o próprio diretório estadual impugna ilegitimamente uma candidatura e suas hostes com amplas chances de vitória? A quem serve a cruel instauração de processo de expulsão sem a mínima e justa causa, coroando um rolo compressor e fundamentado no curioso argumento do pedido de registro da minha candidatura prefeito? A quem interessa e por quê? Seguramente não é ao MDB”, diz ainda Barbosa.
Eu indago: que exemplo inusitado é esse que está sendo exibido para Alagoas desde sempre, quando o emedebista-mor chegou a rasgar a Constituição para manter direitos políticos de uma presidente que sofreu impeachment? Que exemplo inusitado é esse que está sendo exibido para Alagoas desde sempre, quando emedebistas e Lava Jato praticamente viram sinônimos? Que exemplo inusitado é esse que está sendo exibido para Alagoas quando a Polícia Federal tem como alvos parentes do vice-governador em uma operação na Saúde do Estado? Claro, eles podem ser inocentes. Mas não deixa também de ser um escândalo. Ora, mais um dos tantos exemplos que o MDB costuma dar, pois nunca deixou de ser um partido fisiológico e comandando com mão de ferro pelo calheirismo.
Na carta, Luciano Barbosa finge não saber o que sabe, constrói uma narrativa vitimista, mas não deixa de pontuar algumas verdades. Esse é o tipo de briga em que se todos se exaltarem e falarem demais é capaz de todos terem um pouco de razão. Garanto aos leitores: Luciano Barbosa sabe melhor do que qualquer um como funcionam as mentes dos Renans.