Depois de dias de campanha e de portaria da Justiça Eleitoral, candidatos se tocam de “aglomeração”. Ah, tá...

07/10/2020 15:55 - Blog do Vilar
Por Lula Vilar
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Desde o início da campanha eleitoral que a maioria dos candidatos à majoritária provoca aglomerações sem qualquer cuidado com protocolos sanitários. Foi assim nas inaugurações de comitês, nas caminhadas realizadas etc. 

Não faço aqui juízo de valor sobre as caminhadas. Apenas mostro o quão hipócrita é proibir – por meio do poder coercitivo estatal – a realização de eventos da iniciativa privada, proibir cinemas, teatros e museus de funcionarem, mas praticamente deixar as “aglomerações eleitorais” correrem solta. 

O governador Renan Filho (MDB), que chegou a afirmar que os eleitores não votassem em candidatos que aglomeram, ficou “pianinho” sobre o assunto quando a campanha “pegou fogo”, mesmo sabendo que essas atividades desrespeitam o seu decreto e o protocolo sanitário estabelecido pelo seu governo. Fossem eventos de cunho semelhante, mas realizado pelo setor produtivo, Renan Filho estaria dando lição de moral em rede social. 

Mas, evidentemente, agora, o senhor governador precisa fazer “vista grossa”. Afinal, sabe que seu próprio candidato – Alfredo Gaspar de Mendonça (MDB) – promoveu atividades assim. O chefe do Executivo estadual até se fez presente em eventos de campanha com concentração significativa de pessoas.

Todavia, se Alfredo Gaspar de Mendonça produziu aglomerações, os seus adversários também. Então, todos – absolutamente todos – merecem a crítica. E não sejamos hipócritas: o candidato que não aglomerou não o fez por não ter eleitor suficiente. Simples assim! 

As atividades de campanha repercutiram negativamente, é óbvio! De um lado, pessoas que até defendem maiores avanços no processo de reabertura do setor produtivo, com realização de eventos e retorno às aulas presenciais apontavam a hipocrisia dos políticos; do outro, evidentemente, a turma que defende que ainda não é hora de maiores aberturas também reclamava. 

O fato é que agora, diante de uma portaria da Justiça Eleitoral, há candidatos realinhando os discursos para fazer parecer que tomaram decisões por conta própria, ao cancelarem eventos, como se tivessem abdicado das atividades de rua. Ora, se fosse por iniciativa própria e fosse realmente tão grande a preocupação, tal decisão viria antes. 

Um desses candidatos é Alfredo Gaspar de Mendonça, que gravou até vídeo. Com todo respeito que tenho ao candidato, a posição de agora surge depois da repercussão negativa para as campanhas, de decisões judiciais no interior e da perspectiva da Justiça Eleitoral agir em Maceió, como fez com a portaria da 54ª Zona Eleitoral. 

Alfredo Gaspar apenas tenta sair na frente, com o vídeo, explicando a paralisação das atividades que também deve ser adotada pelos demais candidatos em função da Justiça. Não fosse isso, tudo seguiria como antes. 

Diz Alfredo Gaspar de Mendonça, sem mencionar a portaria da Justiça Eleitoral: “As eleições acontecem em meio a uma pandemia, por isso, a partir de agora nossa coligação está cancelando todas as caminhadas da campanha eleitoral. Só faremos reuniões em espaços abertos, arejados e com a distância segura entre as pessoas. O combate ao vírus não pode parar, todos temos que fazer a nossa parte”.

O “a nossa parte” de Alfredo Gaspar se faz 11 dias depois do início da campanha eleitoral. “Coincidentemente” depois das imagens das caminhadas começarem a repercutir negativamente, de candidatos começarem a ser cobrados em redes sociais e da 54ª Zona Eleitoral se posicionar. 

Eu não acredito em coincidências. E aqui cito Alfredo Gaspar pelo vídeo em que se explica, mas é algo que serve a quase todos. Outros candidatos devem adotar o mesmo tom, como por exemplo, Davi Davino Filho (Progressistas) que deve lançar nota a imprensa, segundo soube por bastidores. 

A nota virá com mais do mesmo e - semelhante a Gaspar de Mendonça - como um ato tomado sem qualquer contexto, mas sim como se o candidato tivesse tido uma iluminação diante do óbvio depois do início da campanha. É comovente…

ATUALIZANDO

Eu não disse que Davi Filho seguiria a mesma linha:

Olha aí a nota do candidato do Progressistas:

“Estou suspendendo as caminhadas e vou intensificar as carretas, com adoção de som itinerante. Vamos buscar alternativas pra continuar conversando com o povo e observando as orientações. Como disse lá no início da pré- campanha, pra candidato que só faz campanha em gabinete, fica tudo mais fácil. Eu estou habituado às ruas, a sempre descer e subir grota para me encontrar com as pessoas, no contato olho a olho. Vamos intensificar o uso da comunicação digital e do Guia Eleitoral, e seguir com a campanha, que tá se fortalecendo cada vez mais”.

Ah, que preguiça…

 

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