Renan Calheiros credita avaliação de Bolsonaro a uma “revisão de estilo”. Ele sabe que não é só isso…

29/09/2020 10:30 - Blog do Vilar
Por Lula Vilar
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Em entrevista à jornalista Vanessa Alencar, aqui no Portal CadaMinuto, o senador Renan Calheiros (MDB) creditou o crescimento da avaliação positiva do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) a uma “revisão do próprio estilo” e ao auxílio emergencial. Renan Calheiros conhece política o suficiente para saber que não é só isso e que, mesmo que o presidente tenha mudado algumas posturas, como evitar os choques com a imprensa no “cercadinho”, há muito mais elementos que o fizeram, inclusive, estar mais forte no Nordeste.

Segundo uma pesquisa recente (de intenções de voto para 2022), Jair Bolsonaro supera o ex-presidente Lula (PT) na região Nordeste, que era tida como um reduto eleitoral dos petistas. Afirmar que isso se dá apenas por uma “mudança do próprio estilo” é uma bobagem. Há uma série de fatores que influem para o momento vivenciado por Bolsonaro, apesar das crises e de alguns erros do Executivo federal, como o de ontem, por exemplo, ao anunciar o “Renda Cidadã” de forma insípida e sem explicar detalhadamente como funcionaria a transferência de recursos para sustentar o programa.

Bolsonaro e seu governo deram um susto no mercado e isso refletiu na Bolsa de Valores e no câmbio do dólar. Porém, o governo federal tem acertos e fatores que fazem com que a avaliação positiva do presidente seja sólida. Não se trata apenas de um “estilo” ou do “auxílio emergencial”, como alguns gostam de pontuar.

Um dos fatores – que o senhor Renan Calheiros, em entrevista, finge ignorar – é o fato do governo Bolsonaro não ter tido escândalos de corrupção da forma como se viu nos governos anteriores, que foram as gestões petistas apoiadas por Calheiros. Era uma corrupção endêmica que servia de base para um projeto de poder, envolvendo inclusive as siglas aliadas, no loteamento de estatais etc, como a própria agremiação de Renan Calheiros: o MDB.

Os roubos escancarados pela Lava Jato tiveram reflexos políticos, e o “lavajatismo” acabou ajudando na eleição de Bolsonaro, pois parte de seus eleitores queria uma ruptura com o sistema. Esse sentimento ainda é presente. Sem outro nome que o canalize, acaba indo para Bolsonaro por gravidade.

Sem contar que a corrupção foi um dos fatores que levou à tragédia econômica. No governo Dilma Rousseff (PT) – apoiado por Renan Calheiros – foram dois anos de queda consecutiva do PIB a índices negativos. Só houve reversão no governo de Michel Temer (MDB), adversário de Calheiros, e se manteve positivo em 2019, no governo Bolsonaro. Ou seja: o país dava sinais de recuperação da tragédia.

Alguns podem dizer: “Mas há os escândalos envolvendo filhos do presidente”. Sim, há. Não se pode negar isso e se há denúncia que se apure.

O mais explorado deles envolve o senador Flávio Bolsonaro. Apesar de respingar no presidente e agora na primeira-dama, eis que não é uma questão que envolva o governo em si. Obviamente que, em função da gravidade das denúncias, elas precisam ser apuradas e, se houver culpa por parte dos acusados, que sejam presos. A lei deve ser aplicada para todos.

É claro que esses casos fazem com que o presidente perca em avaliação positiva. Porém, não o suficiente para que ele pare de crescer, ainda mais quando uma parcela da imprensa deixa claro o ranço ideológico.

Então, a ausência de grandes escândalos de corrupção contribue para que um povo que foi tão roubado em passado recente enxergue algo de positivo no atual governo.

Além disso, há os efeitos da pandemia.

Os reflexos econômicos das medidas restritivas atingiram muitas pessoas, que ficaram sem renda alguma. Paralelo a isso, muitos governos estaduais tiveram seus gestores apontados em desvios de recursos envolvendo justamente as ações de Saúde no combate à pandemia, o que mostrava o quanto o caos era lucrativo para essa gente. Isso fez com que o presidente ganhasse força no embate com os governadores.

Quanto mais durou o isolamento, quanto mais a economia se esfacelava, mais o discurso de Bolsonaro passou a fazer sentido em relação à cobrança por uma reabertura. Pessoas que perderam seus empregos, seus negócios, suas rendas passaram a ser mais críticas quanto ao prolongamento das medidas restritivas. Ao sentirem isso, só tiveram como socorro imediato o auxílio emergencial do governo federal. E aí, sim: ele entra aqui como um dos fatores que “anabolizaram” a aprovação do presidente. Bolsonaro demonstrou resiliência, apesar das críticas justas e injustas que sofreu, por ter onde se apoiar.

Renan Calheiros sabe disso. Porém, evita se aprofundar para passar a sensação de que o presidente teve que se “adequar” para ter uma boa avaliação. Ora, independente do “estilo” adotado por Jair Bolsonaro, ele vem sendo criticado o tempo todo por significativa parcela da mídia. Bolsonaro não teve “refresco” entre muitos formadores de opinião. Talvez, a maioria. Isso não quer dizer que todas as críticas feitas ao presidente sejam injustas. Longe disso.

O governo federal parece ser feito de ilhas. De um lado, os militares com seu positivismo. Do outro, a equipe econômica tentando traçar planos com base em números para modernizar a economia do país. Há ainda os que possuem os velhos vícios da política e de quem o presidente agora se aproxima, como é o caso da estreita relação com o deputado federal e líder do Centrão, Arthur Lira (PP). Por vezes, vemos um verdadeiro bater de cabeças. Além, evidentemente, do abandono de muitas pautas de costumes apresentadas por Bolsonaro nas eleições.

Algumas dessas ações de Bolsonaro foram criticadas até mesmo pelo professor Olavo de Carvalho, que é abertamente um de seus maiores apoiadores. O que chamo atenção aqui é que há determinadas críticas que são feitas independente de qualquer coisa que o presidente faça, mas única e simplesmente porque há setores da imprensa que são dominados pela esquerda. Agora, há sim críticas que são merecidas, pois governo nenhum é perfeito e todos precisam ser vigiados o tempo todo. Políticos são nossos empregados e não o contrário.

E isso inclui Bolsonaro. Ele foi eleito para ser cobrado por suas promessas de campanha. Quando foge disso, merece a pancada. Assim como quando erra, merece a pancada.

Então, Bolsonaro errou sim. O governo errou com o Ministério da Educação, pode errar feio na forma como se aproxima demasiadamente do Centrão e quando se afasta de pautas caras à direita sendo – assumidamente – um governo de direita. Porém, também acertou.

Em todo caso, o crescimento da popularidade de Bolsonaro não se dá apenas por um ou outro aspecto, mas por um conjunto de fatores nos quais nenhum desses elementos pode ser desprezado. E há ainda o fato de seus adversários não terem se renovado, e serem os mesmos nomes que foram sumariamente rejeitados no processo eleitoral de 2018, tendo em vista o resultado daquelas eleições que deixou muitos medalhões de fora, sendo a reeleição de Renan Calheiros uma exceção, quando observamos o ocorrido com outros caciques políticos em seus estados.

Não falo aqui, portanto, apenas da disputa presidencial. Isso ainda pesa no Brasil de agora.

Vale ressaltar que, aqui nesse texto, eu nem citei a maior presença do governo federal – e em alguns casos do próprio Jair Bolsonaro – em uma agenda intensa de obras e eventos, divulgando ações por regiões do país. É óbvio que isso é fazer política. É óbvio que se pensa no fortalecimento da imagem do governo. É óbvio que, em alguns casos, são continuidades de obras que vinham de governos passados, mas concluí-las é mérito e explorar o fato político é legítimo.

Em Alagoas, por exemplo, houve a presença do Ministro de Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, destacando o trabalho do Executivo federal junto ao Canal do Sertão e de obras de reurbanização em Maceió; e também a do Ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, garantindo recursos para o Programa do Leite e de universalização do acesso às águas, que é desenvolvido pelo governo estadual de Renan Filho (MDB). Pesquisem no Google e verão coisas assim espalhadas pelo país. As visitas de Bolsonaro e de seus ministros também tiveram algum impacto.

A avaliação é mais ampla do que “topificar” apenas dois fatores. Renan Calheiros sabe disso…

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