Os desafios do transporte público em tempos de pandemia

29/09/2020 17:54 - Maceió
Por Dayane Laet - Especial para o CadaMinuto
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Enquanto a maioria da população dorme, dois funcionários da viação São Francisco trabalham na garagem da empresa no bairro de Santa Amélia, em Maceió, durante a madrugada, higienizando os últimos veículos que chegaram no decorrer da noite. Genésio Luiz e Jenilton Roque Vieira formam uma das três duplas responsáveis pela completa limpeza dos ônibus, que acontece duas vezes todos os dias desde que a pandemia provocada pelo novo coronavirus (Covid-19) chegou a Alagoas, em março deste ano.

Além da higienização, outros importantes fatores como a conscientização de funcionários e a adaptação de usuários do transporte público são os grandes desafios da quarentena que, essencial, permanecerá até que uma vacina eficaz seja aprovada e distribuída pelos órgãos de saúde para a população. 

 

 

“A gente termina acostumando com todo esse equipamento de proteção para trabalhar, porque entende que nossa saúde depende deles. A nossa e a de quem vai usar o transporte”, explicou Jenilton, logo depois de usar um jato de desinfetante hospitalar em um dos carros da São Francisco. Há cerca de três meses nenhum funcionário da empresa é afastado de suas funções por doença. Além da limpeza interna dos ônibus, uma enorme traquitana que lava os veículos por fora foi montada no pátio da empresa. 

Mas os desafios não param por aí. Manter os serviços com o mínimo de higiene e convencer a população de que a adaptação ao Cartão Bem Legal, por exemplo, é necessária para evitar o contágio de doenças como a Covid-19 pelo contato com cédulas de dinheiro, são teclas que precisam ser batidas constantemente. 

 

 

De acordo com informações do Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários do Estado de Alagoas (Sinttro-AL), 43 rodoviários foram afastados pelas quatro principais empresas que atendem Maceió por suspeita ou contaminação confirmada pelo novo coronavirus desde o mês de março. Destes, apenas três no mês de agosto. “A máscara incomoda pelo calor, sempre levo outra limpa na bolsa”, disse o motorista José Reginaldo da Silva. “Até agora funcionou”, comemora.

A prevenção tem sido o atual alvo das empresas. “São pequenas atitudes que refletem diretamente em milhares de usuários que utilizam nossos serviços”, explicou o gerente de manutenção Robson Bernardo, que coordena toda a desinfecção dos veículos da São Francisco. “Não podemos baixar a guarda, senão o vírus voltará a fazer vítimas”, disse.

Um desafio chamado Terminal Benedito Bentes

O maior bairro de Maceió, Benedito Bentes, possui um terminal rodoviário de grande porte, maior que muitas rodoviárias encontradas no interior do Estado. As plataformas são divididas de um lado pelos ônibus que circulam pela cidade e, do outro, pelos que fazem a integração dos conjuntos. A única coisa que não muda é a lotação e a correria de quem precisa descer de um veículo e correr para o outro, seguindo então em seu trajeto. 

 

 

Dados do Sindicato das Empresas de Transporte Urbano de Passageiros de Maceió (Sinturb) apontam que, durante o período de pandemia, cerca de 30 mil passageiros passam por ali diariamente. Em tempos normais, o número chega a 36 mil.  O número de ônibus que atendem todo o complexo habitacional é de 79.

Quando a reportagem esteve na rodoviária do bairro, centenas de pessoas aguardavam transporte e a maioria usava máscaras, embora o distanciamento social não fosse respeitado. A maioria. “O ônibus demora tanto que quando ele chega, todo mundo quer entrar logo. Quando não é para fugir do sol, é para encarar a viagem longa ao menos sentada”, desabafou a dona de casa Gerluce Leite de Lima, moradora do Cidade Sorriso II. “É um massacre diário”, lamentou.

Segundo os usuários ouvidos, apenas um coletivo por conjunto é fornecido pela empresa Real Alagoas para fazer o trajeto até o terminal, nos fins de semana. “Se pegarmos a hora de descanso do motorista então, a espera pode chegar até a duas horas aqui mofando”, denunciou o garçom Thomas Victor. “Daí junta pandemia com o medo de ficar pra trás, ninguém quer nem uma coisa nem outra e terminamos no velho empurra-empurra”, disse o garçom. “Alguns sem máscara, pra piorar”, falou.

A reportagem tentou ouvir a equipe da Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (SMTT) que estava no local ajudando na fiscalização, mas eles não quiseram falar. O fiscal responsável pelas operações da Real Alagoas no terminal também não quis comentar as denúncias de falta de veículos.

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