Caso Davi: após serem pronunciados a júri, defesa de militares diz que não há provas

27/09/2020 08:03 - Geral
Por Daniel Paulino*
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Seis anos após o desaparecimento do jovem Davi da Silva que sumiu depois uma abordagem policial no bairro de Benedito Bentes, na parte alta da capital, em agosto de 2014, os policiais militares Eudecir Gomes de Lima, Carlos Eduardo Ferreira dos Santos, Vítor Rafael Martins da Silva e Nayara Silva de Andrade, acusados de matar o jovem, foram pronunciados pela juíza Juliana Batistela Guimarães e vão a júri popular. 

Ao Cada Minuto, o advogado Napoleão Lima Júnior, responsável pela defesa dos militares, afirmou que apesar da pronúncia, há falta de provas que venham comprovar que os acusados foram os policiais que realizaram a abordagem a Davi e seu amigo Raniel ou que pelo menos eles estivessem na região, no momento do fato.  

“A tese de defesa é de negativa de autoria, vez que os autos demonstram que não houve sequer abordagem dos policiais a Raniel e Davi”, complementou.  

A defesa explicou ainda que não se pode falar em possíveis erros cometidos por qualquer um dos atores da justiça, seja ele juiz, promotor, delegado ou advogado, pois cada um cumpre seu papel com independência e dentro de seu discernimento jurídico. “No processo criminal quem vai dizer da inocência ou culpa do réu são as provas dos autos, que como disse neste caso, demonstra clarividente inocência  dos policiais acusados”, disse Napoleão.  

Durante a abordagem, Davi estava na companhia de seu amigo, Raniel Victor Oliveira da Silva, que foi encontrado morto meses após o sumiço do colega. Raniel que era a principal testemunha do caso, foi ouvido pelas autoridades policiais e em um segundo momento, afirmou que reconhecia os militares que hoje são acusados pelo crime, como os autores da abordagem, mas a defesa questiona até que ponto esse reconhecimento pode ser confiável.  

“É aí onde está o grande erro. Raniel inicialmente, após o dia da suposta abordagem, foi levado a presença do promotor de justiça do controle externo da atividade policialh onde lhe foi apresentado todas as policiais femininas, e as fotos de todos os policiais que faziam parte do batalhão de radiopatrulha, inclusive dos próprios acusados, e Raniel disse não ter reconhecido nenhum deles e nenhuma das policiais femininas como sendo os policiais que abordaram ele e Davi no dia do fato”, contou a defesa.  

Ainda conforme os esclarecimentos da defesa dos acusados, dia após o primeiro momento, ele compareceu novamente a presença das autoridades, desta vez, na presença da comissão de delegados que investigaram o caso. “Foi aí que surpreendentemente ele achou por bem reconhecer a guarnição dos ora acusados como sendo a que abordou a ele e a seu amigo Davi. Ora, soa estranho tal reconhecimento no mínimo duvidoso porque Raniel não reconheceu os policiais um dia após o fato, mas reconheceu dias após o fato? É de causar muita estranheza. Infelizmente esta dúvida ficaremos com ela eternamente devido à morte de Raniel no decorrer da marcha processual onde não será possível indagá-lo sobre o episódio”, concluiu. 

Por fim, Júnior disse que contra a pronúncia, a defesa interpôs recurso em sentido estrito que será encaminhado ao Tribunal de Justiça de Alagoas (TJ-AL) para ser submetido a julgamento perante a câmara criminal onde os militares poderão ser absolvidos sumariamente ou mantida a decisão.  

 

“A mãe do Davi aguarda que ele aponte na esquina para abraçá-lo”, diz o primo da vítima  

 

O primo da vítima, Magno Moura, que durante todo o processo de investigação, sempre se manifestou em nome da família, disse que mesmo após seis anos, a mãe de Davi, ainda acredita que o filho possa reaparecer. “. A mãe do Davi todos os dias aguarda que ele aponte na esquina para abraçá-lo. Esse martírio não pode continuar acontecendo”, finalizou.  

Magno espera ainda que diante do que já foi investigado e apontado pela Polícia Civil e MP se faça justiça. “Discordo da ideia que nada foi descoberto. O que não sabemos é onde está o corpo do Davi, mas os responsáveis pelo seu desaparecimento sabem e precisam responder. É uma questão de justiça e de dignidade humana enterrar seus mortos”.  

 

“OAB cobra a postura e agilidade das instituições”, diz Gabriela Lamenha  

 

A representante da comissão de Direitos Humanos, da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-AL), Gabriela Lamenha disse à reportagem que o caso do Davi é um caso muito emblemático, tanto pela violência cometida, pelo assassinato da única testemunha do caso e como também do tempo que esse processo vem se alastrando.  

“Avaliamos que se o procedimento tivesse sido realizado de forma mais rápida poderíamos ter tido a oportunidade de ouvir a única testemunha do caso e quem sabe termos conseguido resguarda-lo, assim como suas memórias em forma de depoimento. Temos certeza que o posicionamento da OAB, bem como o apoio da sociedade em lutar para que o caso não fosse caído no esquecimento foi fundamental para que, mesmo num período longo, este viesse a ser encaminhado e ficamos no aguardo do resultado do Júri”, disse Gabriela. 

 Gabriela Lamenha, da Comissão de DH da OAB (Foto: Arquivo Pessoal)

 

*Sob supervisão da editoria 

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