A densidade eleitoral do PT está refletida nas pesquisas

22/09/2020 09:43 - Blog do Vilar
Por Lula Vilar

Em entrevista ao CadaMinuto, o candidato do PT à Prefeitura de Maceió, Ricardo Barbosa, avaliou o fato dos postulantes à majoritária, em 14 capitais do país, não aparecerem entre os favoritos na corrida eleitoral, conforme as pesquisas que foram realizadas até agora.

Isso inclui Maceió, em que Barbosa – que já ocupou o cargo de vereador na capital alagoana – não alcança sequer dois dígitos e aparece nas posições finais da lista de candidatos.

O petista acredita que “a densidade eleitoral do PT não está refletida em pesquisas”. Eu discordo frontalmente de Ricardo Barbosa. A densidade eleitoral do Partido dos Trabalhos é de fato a que se encontra aí. O PT paga por seus erros, como ocorreu nas eleições passadas. Isso não significa dizer que membros da agremiação ainda não tenham alguma capilaridade eleitoral.

Claro que há uma densidade, como se observou em uma recente pesquisa eleitoral – publicada pelo PoderData – em que o ex-presidente condenado por corrupção Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula (PT), ainda aparece com 21% das intenções de voto e o atual presidente Jair Bolsonaro (sem partido), mesmo diante das crises que enfrenta, surge com 35%. Ainda há um sentimento “plebiscitário” no campo nacional.

Mas ainda assim há uma diferença entre o que é de Lula e o que é do PT, mesmo que os dois estejam umbilicalmente ligados.

Essa pesquisa ainda mostra que, no Nordeste (um reduto eleitoral considerado petista), Bolsonaro surge com 45% e Lula fica 23%. É válido lembrar que Lula ainda tem uma densidade maior do que o PT, mas já não possui a mesma força. Em parte por conta dos atos praticados pelo próprio Lula e as condenações sofridas e, em outra parte, pelo próprio PT que comandou um dos maiores escândalos de corrupção no mundo, envolvendo diversos partidos aliados na época.

O PT não inventou a corrupção no país. Porém, ao mesmo tempo em que se vendeu como bastião da moralidade para chegar ao topo, ampliou o sistema de corrupção do país em nome de projeto de poder que tinha características ideológicas. A legenda, por diversos momentos, ainda afrontou valores de uma significativa parcela da população e o governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) foi um desastre político e econômico. Foram dois anos, por exemplo, do PIB negativo e de orçamento deficitário do qual o país ainda se recupera.

O PT mentiu sobre seus adversários, sofreu com os resultados da Operação Lava Jato, não conseguiu reavaliar sequer os próprios erros e ainda assumiu o discurso do “nós contra eles” sem compreender a realidade ou se descolando completamente dela. Tudo isso terá reflexos nas eleições municipais, ainda mais diante da polarização em que o país se encontra.

Não por acaso, PDT e PSB tentam formar uma aliança nacional para assumir o protagonismo das esquerdas nas eleições espalhadas pelo país. Em Alagoas, o candidato dessa união é o deputado federal João Henrique Caldas, o JHC (PSB). Porém, a boa avaliação alcançada pelo presidente Jair Bolsonaro faz com que o discurso de JHC seja mais ameno em relação às críticas ao chefe do Executivo federal. JHC – em entrevista – já falou sobre manter um “bom diálogo” com o governo federal e que não trará a pauta nacional para o âmbito local.

O PT vive – portanto – seu declínio. Negar isso é negar a realidade. Com exceção daqueles petistas que possuem uma densidade própria, os demais sentirão o peso do que a sigla representa hoje, angariando – é verdade – uma parcela dos votos da esquerda, mas perdendo votos até mesmo entre aqueles que são anti-bolsonaristas, pois há, entre esses, os que buscam alternativas, como já enxerga o PDT, o PSB e até mesmo outros partidos que tentam se posicionar como mais moderados, como é o caso de PSDB e Democratas.

Não por acaso que, alguns anti-bolsonaristas tentam xingar “bolsonaristas” de “petistas ao contrário” ou destacar supostas semelhanças entre as militâncias para expô-las como “radicais”. As declarações de Ricardo Barbosa parecem não levar isso em conta.

Não se trata, portanto, apenas de “reflexos de um quadro onde o PT sofreu ataques, que começou no impeachment da presidenta (Barbosa que usa essa palavra) Dilma”. São reflexos sim, mas não de ataques vazios feitos ao PT, mas de críticas com substância e de divergências com os planos que o Partido dos Trabalhadores tinha para o país. Em uma democracia, é natural que se rejeite um partido que se quis hegemônico e se envolveu em tantas corrupções.

Barbosa está certo em um ponto, a meu ver: quando o eleitorado começar a ouvir o debate da campanha e o PT se fizer presente vai – de fato – associar o presente com o passado. Agora, eu duvido que o resultado seja sentir saudades do PT. Em todo caso, acredito sim que o Partido dos Trabalhadores ainda tem densidade eleitoral, mas – pelo retrato do momento – não é o suficiente para ser a força que já foi um dia, do ponto de vista eleitoral.

Some-se a isso o fato do histórico do PT em Maceió não ser dos melhores. Sempre teve dificuldades para fazer vereadores e na majoritária acumula derrotas.

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