"Consequências do isolamento social e o impacto da pandemia na saúde mental" foram os temas de discussão na noite desta terça-feira (4), durante mais uma edição do programa Direto da Província, que contou com a participação da psicóloga Zaíra Mendonça. A live, conduzida pelo jornalista Luis Vilar, foi transmitida pelo Instagram do portal CadaMinuto (@portalcadamin).

 

A pandemia provocada pela covid-19 vem causando danos humanos, econômicos e sociais sem precedentes, resultando em um crescente número de pessoas com transtorno de ansiedade e depressão. Para a psicóloga e presidente do Conselho Regional de Psicologia de Alagoas (CRP-15), Zaíra Mendonça, o pior da pandemia se dá na saúde mental “porque existem altos índices de fatores estressantes que trazem à tona, criam e intensificam sofrimentos psicológicos, como o desemprego, luto prolongado, depressão, desigualdades sociais, transtorno de ansiedade, aumento de estresse pós-traumático, entre outros fatores”, explica.

 

Ela destaca ainda que os mais afetados em termos de saúde mental são as pessoas que já tinham problemas psicológicos instaurados antes mesmo da pandemia, mas que todos, de alguma maneira, foram atingidos pelo isolamento social. “Sem dúvida, as pessoas que já possuíam diagnósticos de depressão, ansiedade e que já viviam em sofrimento psíquico intenso foram as mais afetadas”.

 

A psicóloga reforça também a importância da atenção dos pais com os filhos durante esse período. “Os pais precisam ficar ainda mais atentos ao comportamento dos seus filhos, principalmente os adolescentes. A adolescência é uma época natural de transgressão e o isolamento social tem dificultado ainda mais esse processo. É importante estabelecer meios de diálogo e negociações. Também é fundamental que pais e filhos estejam abertos a flexibilizar algumas questões, respeitar os limites e rodiziar as responsabilidades e tarefas familiares”, ressaltou.

 

O luto

 

Para Zaíra, um dos pontos que mais afeta a saúde mental das pessoas é o impacto emocional causado pela impossibilidade de se promover rituais funerários. “Naturalmente o processo da despedida é doloroso e, somado ao fato de não poder velar o ente querido, devido ao risco de contágio, se torna ainda mais difícil. Para isso, é necessário estabelecer uma ‘normalidade’ dentro da realidade que estamos vivendo. O processo do luto exige que a gente compartilhe aquele momento de dor. A sugestão é estabelecer rituais de despedidas, como velórios e missas, mesmo que sejam via internet”, pontuou.

 

Segundo a psicóloga, situações como essas podem elevar o nível de ansiedade, causando danos ainda maiores à saúde. Ela explica como identificar a necessidade de procurar ajuda profissional. “A ansiedade é completamente normal, se trata de uma resposta do nosso corpo quando algo não está bem. Mas é preciso ficar atento e entender momento de procurar ajuda profissional, que é quando a gente minimamente não consegue dar conta do que fazíamos com naturalidade no dia-a-dia. Essa ajuda profissional será tratada de forma específica de pessoa para pessoa”, esclarece.

 

Vulnerabilidade social

 

Em relação à vulnerabilidade social, a psicóloga destaca que durante a pandemia questões sociais ficaram ainda mais escancaradas e que trabalhar políticas públicas voltadas a esse grupo, de maneira imediata, é fundamental. “Descobrimos uma vulnerabilidade ainda maior com a pandemia. A gente precisa fazer com que a população tenha acesso às políticas públicas e aos benefícios ofertados pelo Governo Federal e demais órgãos, porque muitas delas sequer têm acesso à informação”.  

 

Para fazer com que o atendimento psicológico e de assistência social chegue às classes mais desfavorecidas, a psicóloga informou que no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) onde trabalha, vem buscando oferecer assistência de forma integrada, proporcionando medidas de acesso à informação segura, por meio das mídias sociais do Conselho e buscando manter o fortalecimento e vínculo direto com a comunidade.

 

Como sugestão, a psicóloga destaca que Estado e municípios deveriam criar campanhas educativas em prol da saúde mental, com o foco principal na classe de maior vulnerabilidade social. “Desde o início se fala muito da saúde física, dos cuidados com as mãos, uso de máscaras, álcool em gel... Mas é de extrema importância pensar também em estratégias que cuidem da saúde mental de cada indivíduo, considerando os enormes danos psicológicos causados por essa pandemia, principalmente para aquelas pessoas que vivem em condições sanitárias precárias”, finalizou.