PSDB: o “ninho tucano” que foi do protagonismo ao papel de coadjuvante que mira em 2022
Desde as eleições estaduais de 2018 que afirmo que se há uma característica marcante no PSDB de Alagoas é o de conseguir ser “coveiro” de si mesmo. Reverter isso é a missão de Rodrigo Cunha caso tenha pretensões políticas de ser governador de Alagoas. Creio que tenha!
A sigla alcançou o auge político com o ex-governador Teotonio Vilela Filho (PSDB) e com o prefeito de Maceió, Rui Palmeira (ex-PSDB), ocupando os dois Executivos. Além disso, chegou a ter uma forte bancada na Assembleia Legislativa de Alagoas em tempos áureos.
Os tucanos ainda conseguiram a Prefeitura de Arapiraca e impuseram derrotas significativas ao MDB do senador Renan Calheiros e do governador Renan Filho. Porém, mesmo tendo eleito – no pleito passado – o senador Rodrigo Cunha (PSDB) e a deputada federal Tereza Nelma (PSDB), estarão na disputa municipal como meros coadjuvantes, muito provavelmente ao lado do deputado federal João Henrique Caldas, o JHC (PSB).
Em 2018, o prefeito Rui Palmeira – quando ainda era um tucano – não conseguiu capitanear a oposição ao MDB na disputa pelo governo estadual. Ao anunciar, às vésperas daquela eleição, que não seria candidato a nada e continuaria na gestão municipal, Rui Palmeira terminou por desarticular o grupo, que ficou sem cabeça.
O erro de Rui não foi não ter sido candidato. Essa era uma posição legítima, ainda mais tendo dois anos de mandato, como prefeito, pela frente. O erro foi desarticular o grupo de oposição ao MDB.
O papel de articulador da oposição acabou nas mãos do deputado federal Arthur Lira (PP), que conseguiu sua reeleição. Porém, os pepistas amargaram a derrota do ex-senador Benedito de Lira (PP).
O êxito de Rodrigo Cunha, naquele pleito, não pode ser atribuído ao partido. Pois, em sua eleição, Cunha tomou a clara decisão de correr por fora, ainda mais quando – inicialmente – a cabeça da chapa na qual os tucanos estavam era o atual senador Fernando Collor de Mello (PROS). O tucano também não queria ser visto ao lado de Benedito de Lira.
Collor desistiu da disputa por falta de apoio e o grupo – capitaneado pelo PP – colocou o ex-delegado da Polícia Federal, José Pinto de Luna, para disputar uma eleição para o governo do Estado que já era perdida. Resultado: um passeio do emedebista Renan Filho, que conseguiu retornar ao Palácio República dos Palmares sem precisar se esforçar muito.
Passada a eleição, o senador Rodrigo Cunha e o prefeito Rui Palmeira entraram em rota de colisão. O motivo: Palmeira não aceitava que os tucanos apoiassem João Henrique Caldas na disputa pela Prefeitura Municipal. Palmeira até insistiu no discurso de que o PSDB deveria ter candidato próprio. O problema é que o “ninho tucano” não tinha nome, uma vez que o chefe do Executivo municipal ajudou a enfraquecer a oposição e não tinha sucessor. Cunha, por sua vez, não abria mão da aliança com JHC. A parceria entre os dois já havia sido firmada nas eleições de 2018, quando um se elegeu para o Senado e o outro para a Câmara dos Deputados.
Diante disso, Rui Palmeira saiu do partido. A conjuntura política fez com que Rui Palmeira e Renan Filho tivessem que se aliar ao redor do nome de Alfredo Gaspar. Vale lembrar ao eleitor que – aqui nesse blog, em passado recente – indaguei o prefeito sobre a possibilidade de uma união com Renan Filho. Ele respondeu, na época, o seguinte: “só uma criança vai acreditar na possibilidade dos Calheiros se unirem comigo em um grupo político”.
Rui Palmeira – que foi ativo na campanha “Renan não” (com foco no senador Renan Calheiros), em 2018 – agora é aliado político de Renan Filho e se encontra fora do ninho tucano. Desde então, o partido só perdeu lideranças e hoje conta apenas com a expressividade de Rodrigo Cunha e da deputada federal Tereza Nelma. Como o senador Rodrigo Cunha é o dono da baqueta, em Maceió só cabe a opção da aliança com quem Cunha indicar.
Rodrigo Cunha é o cacique e ponto final!
O que restou ao PSDB? Assumir um discurso que engrandeça o seu papel de coadjuvante depois de ter sido protagonista na política alagoana. Como fará isso, indicando a participação feminina na chapa que disputará a Prefeitura de Maceió. É o discurso com o qual vai se vender, como se observa na mais recente nota oficial divulgada pela legenda.
Isso fortalece a deputada Tereza Nelma, pois essa sempre foi uma de suas bandeiras na trajetória política, e atende ao xadrez político de Rodrigo Cunha. Para o deputado federal JHC – em se consolidando a união – é também importante, pois constrói uma chapa com um discurso interessante: o jovem deputado de destaque e uma liderança feminina ao seu lado. Caso tenha êxito, o PSDB pode se renovar e fortalecer o caminho para que o senador tucano concorra ao governo do Estado em 2022.
Cunha – ao apostar em JHC – pode fazer de um partido que fez questão de se tornar “nanico” uma legenda forte para 2022. Essa é a aposta.
Claro, é preciso combinar com o eleitor.
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