Dados mostram que entre janeiro a 15 de julho, deste ano, o Corpo de Bombeiros Militar de Alagoas (CBM-AL), registrou 94 ocorrências envolvendo cobras. Já no mesmo período, só que referente ao ano de 2019, a corporação registrou 66 chamados. Para buscarmos entender por qual motivo este animal tem aparecido tanto, o CadaMinuto, conversou com Biólogo especialista em animais silvestres e professor da rede pública de ensino estadual, Leo Almeida, que afirmou que um dos fatores que levam a esses aparecimentos de serpentes, estão ligados com a invasão do homem a natureza.
“Os aparecimentos e os ataques ocorrem justamente pela destruição de seu habitat. Quando você tá construindo, você junta entulho, produz lixo, acaba atraindo ratos e consequentemente acaba atraindo as jararacas, que é uma das espécies de serpentes que temos em nosso estado. As jararacas, elas são animais silencioso, não é igual a cascavel, que avisa com o chocalho para que as pessoas possam se distanciar”, explicou o biólogo.
De acordo com dados do Hospital Escola Dr. Helvio Auto (HEHA), unidade assistencial da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal), como referência para tratamento de acidentes ofídicos no estado, recebeu do início do ano até o dia 16 de julho, 105 casos de picadas de serpentes.
Conforme informou o hospital, os casos mais comuns são de empeçonhamentos por picadas de jararaca, com 48 casos. Em segundo lugar vem as cobras não peçonhentas com 37 casos, em terceiro lugar aparece a cascavel com 15 casos, seguida da coral-verdadeira com 4 ataques. A surucucu foi responsável por uma única picada.
Em 2020, Marechal Deodoro desponta como o município de Alagoas com maior número de casos atendidos pelo Hospital Helvio Auto, com 13 ataques de cobras venenosas, 11 deles causados por jararaca.
Onde elas vivem?
Leo Almeida explicou que as Jararacas, tem como seu principal habitat em bordas de mata e próximo de regiões que possuem rios, pois são em rios e nas regiões ribeirinhas que elas põe seus ovos para que eles possam sem desenvolver com segurança e que também possam se alimentar de pequenos sapos, já possuem em grandes quantidades na região.
“A região de Marechal Deodoro, é uma das cidades que há muitas construções, principalmente em regiões onde eram de mata, o que facilita esse aparecimento como eu já expliquei. Na região de Marechal, também é possível encontrar muita coral”, afirmou.
Outras cidades
A cidade de São Miguel dos Campos está em segundo lugar, com 7 casos; 6 pessoas picadas por jararaca e 1 por serpente não peçonhenta. Já Maragogi aparece como o município com o maior número de ataques de Cascavel, com 3 casos.
Ao encontrar uma serpente, o que fazer?
Na maioria destes casos, a curiosidade fala mais alto e quem não tem aquela vontade de se aproximar do animal, que na maioria das vezes nunca foi visto tão de perto. A curiosidade pode “falar” mais alto, mas conforme as orientações do Corpo de Bombeiros, a melhor maneira é se afastar, pelo menos é o que garante o comandante do grupamento de busca e Salvamento, Tenente coronel Roberto Wanderley.
Segundo o comandante, a espécie que as equipes mais encontram em meio as ocorrências, são as jiboias e ele explicou como funciona o processo de captura até onde estes animais são encaminhados.
“Realizamos a captura deste animal, com alguns equipamentos que temos a nossa disposição e depois, colocamos em um recipiente, que chamamos de uma caixa de transporte e aí sim, com toda a devida segurança, conduzimos para sede do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA)”, contou.
Segundo o coronel, a melhor alternativa em um momento como este é procurar se distanciar, com todo o cuidado, tanto para não entrar em pânico, quanto para não assustar o animal, e desta forma, evitar qualquer tipo de acidente.
Já em casos de ataques, a instrução e o tempo resposta serão essenciais. “Quanto menor for o tempo resposta, por parte da pessoa que foi picada, melhor. Procura ajuda o mais imediato possível. Ligar para o 193, do Corpo de Bombeiros ou até mesmo para o 192, do SAMU”, disse.
Ainda segundo o comandante, de imediato, deve ser feita a lavagem do local onde houve o ataque por parte do animal, para que possa evitar possíveis infecções, pois a boca da cobra possui muitas bactérias.
“Há pessoas que dizem que é bom puxar o veneno com a boca, e dentre outros remédios caseiros que existem, e são recomendados pelos mais velhos, mas isso não existe, não é o protocolo de atendimento. O correto é lavar com água corrente e sabão, se na região da picada tiver anéis, correntes ou algo do tipo, deve ser retirado, pois depois da picada, a região tende a ficar inchada e fica mais difícil ainda de realizar essa remoção”.
Por fim, Roberto Wanderley destacou que ficar calmo poderá ser uma ótima alternativa. “Tentar ficar calmo, pois quanto mais nervoso o indivíduo fica, mas sangue circula e mais o veneno, caso a cobra seja venenosa, vai se proliferar pelo corpo”, finalizou.
O tratamento médico
Costuma-se ser dito pelos mais velhos, que depois de ser atacado por uma serpente, é preciso matar o animal e levar ele até o hospital, para que com base na serpente que lhe picou e que você levou até a unidade de saúde, o médico posa ministrar a medicação correta. É mito!
A médica infectologista, Luciana Pacheco, alertou esta prática não é necessária e que conforme os sintomas que o paciente irá apresentar, os médicos e a equipe de saúde, vai saber ministrar a medicação necessária. “As manifestações clínicas são soberanas, por meio dos sintomas nós sabemos qual tipo de veneno foi inoculado e qual a serpente responsável, não é necessário correr mais riscos para trazer o animal”.
O Hospital Helvio Auto dispõe de quatro tipos de soros diferentes para administração em pacientes de acordo com a espécie de serpentes, que são as mais comuns da fauna de nossa região: jararaca, cascavel, coral-verdadeira e surucucu.
Além do Hospital Escola Dr. Helvio Auto, por uma questão de rapidez e logística, outras unidades no interior do estado também dispõem de soros antiofídicos, como em Santana do Ipanema, Palmeira dos Índios e Arapiraca.
*Sob supervisão da editoria