Psicóloga orienta sobre os cuidados com a saúde mental das crianças durante a pandemia

18/07/2020 12:06 - Especiais
Por Mara Santos*
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Em meio à pandemia do novo coronavírus, é comum que apareçam sentimentos de insegurança, apreensão e ansiedade. As mudanças de rotina, o isolamento social e as mortes em decorrência da doença, têm causado problemas emocionais em adultos.Porém, também nas crianças a situação que a pandemia impõe à sociedade pode gerar consequências graves para a saúde mental dos pequenos.

Apesar de estudos realizados por centros de pesquisas mundiais afirmarem que as crianças, assim como bebês e adolescentes até os 18 anos, são menos suscetíveis a desenvolver sintomas da Covid-19, há uma preocupação de especialistas quanto a saúde emocional delas por conta da dificuldade de processar a situação atual com toda a insegurança e a tensão que envolve o assunto.

A psicóloga infanto-juvenil, Camila Saturnino, explica que o isolamento social acarretou novas condições e mudanças de rotina na vida da criança, como por exemplo, o uso de máscara para uma determinada idade, aulas online, afastamento de pessoas queridas, além da falta de laser. Ela afirma que a partir dos três anos, quando a criança inicia um período de maior interação e amplia o repertório verbal, o impacto é maior, “pois as crianças se tornam curiosas, questionadoras” e tendem a sentir com maior intensidade o que ocorre ao seu redor e algumas mudanças de comportamento devem ser observadas.

“Existem alguns comportamentos que os pais podem ficar mais atentos, como, excesso de irritabilidade, quando a criança apresenta uma irritação intensa e constante por qualquer motivo, choro frequente. Nas crianças maiores, atentar para um maior isolamento dentro do próprio ambiente familiar, desmotivação para realizar atividades cotidianas e relatos negativos. Além disso, elas podem apresentar alguns sintomas fisiológicos provindos da ansiedade, como dor de barriga, e reclamações de dores de cabeça”, alerta a psicóloga.

A psicóloga infanto-juvenil, Camila Saturnino.

Camila aponta que crianças, principalmente as menores, estão iniciando sua vida social, de compreensão de mundo e do que sentem e, muitas vezes, vão responder a determinadas situações com comportamentos inadequados, pois ainda não sabem como lidar com o que sentem. Por isso, é preciso ter cuidado com atitudes adultas que desmereçam ou banalizem as emoções dos pequenos, porque podem ser prejudiciais. “A baixa tolerância dos pais em determinadas situações diante da nova condição de vida causada pela pandemia, também atua de forma prejudicial, visto que além das crianças, os pais também vêm sofrendo e tendo que lidar com uma série de situações estressantes e que afetam seu psicológico”, completou.

Observados o comportamento e os possíveis prejuízos no processo de socialização, a psicóloga diz que se as situações estão se intensificando ao ponto de os pais não terem mais controle sobre o comportamento da criança, é o momento de procurar ajuda profissional. Organizar uma rotina familiar também ajuda.

“Uma rotina organizada, tanto na vida do adulto quanto da criança, é importante, pois ajuda a diminuir a ansiedade e os pais conseguem ter mais controle sobre as atividades cotidianas. Uma rotina desorganizada confunde a criança e pode causar estresse, para ela e para os pais” analisa 

Com especialidade em educação infantil, a psicóloga, também destaca a importância de que a rotina, além de organizada, seja saudável, e que equilibrar atividades escolares com atividades recreativas é um bom caminho para ajudar os pequenos a superarem o período difícil. A participação ativa dos pais é fundamental.

“Equilibrar as atividades escolares com atividades mais recreativas, podem ajudar a criança a enfrentar essa fase. Por exemplo, realizar circuitos motores, utilizando garrafas petes, o próprio sofá ou até os brinquedos da própria criança, pular corda, fazer brincadeiras de roda cantada, amarelinha, e até realizar aulas de dança em casa. É importante destacar que no momento da brincadeira, os pais devem se desprender de formalidades e participarem de forma ativa, podendo aproveitar o momento para desenvolverem um diálogo mais assertivo com a criança e fortalecerem ainda mais o vínculo afetivo”, diz Camila.

Cuidado com o excesso no uso de eletrônicos

Diante a pandemia, muitos pais vêm a internet, jogos e desenhos por meio dos aparelhos eletrônicos como ótimos aliados, tornando esses equipamentos como uma válvula de escape. Mas, segundo a psicóloga, é preciso ter cuidado com o excesso.

“Tudo em excesso pode causar algum dano para nossa vida, inclusive o uso da tecnologia. Nesse período, em que o isolamento vem se prolongando, muitos pais se encontram aflitos tentando controlar o tempo que os filhos usam os eletrônicos. Muitas crianças estão tendo aulas online e o uso do celular ou computador é imprescindível. Porém, passar boa parte do dia diante de uma tela não é saudável psicologicamente e nem fisicamente. As crianças podem vir a desenvolver problemas de visão e até de postura, já que ficam muito tempo em uma única posição”, observa.

Camila continua o alerta, “problemas mais graves podem surgir a longo prazo. Psicologicamente a criança tende a ficar mais isolada dos membros da família, pode apresentar diminuição ou perda de apetite e não desenvolver alguns repertórios comportamentais importantes para uma socialização saudável, como ter iniciativa para a comunicação, por exemplo. Por isso, é fundamental que os pais estabeleçam uma rotina com regras e definição de tempo para o uso dos eletrônicos, tempo esse que será organizado diante da rotina de cada família. 

Explicar o que está acontecendo

Começar um diálogo para explicar as crianças o que está acontecendo no mundo neste momento, não é uma tarefa fácil. É importante ressaltar que é responsabilidade dos pais entender bem o que acontece, para explicar e ensinar sem provocar medo e dar esperança. 

A psicóloga explica que, normalmente, as crianças são questionadoras e sempre estão atentas ao que os adultos conversam, ou ao que veem na televisão. Ela salienta que é natural que as perguntas sobre o que está acontecendo aconteçam e que os pais devem dar as devidas explicações de uma maneira mais leve, lúdica.

“Será natural perguntar o que está ocorrendo, o porquê de não saírem, ou de saírem com máscaras, por que não podem ir à escola. Então, é relevante dar uma explicação sobre o que está acontecendo. Porém, os pais devem encontrar uma maneira mais lúdica para contar a situação, evitando trazer informações em excesso, para não causar medo desnecessário na criança. A partir dos quatro anos em diante ou quando a criança começar a fazer questionamentos sobre a situação, é o momento para uma explicação”, afirmou.

Crianças em idade escolar

Desde que a situação de pandemia foi decretada, em março, pela Organização Mundial de Saúde (OMS), as aulas presenciais foram suspensas, com o objetivo de proteger as crianças e evitar a propagação do coronavírus. Em Alagoas, o governo estadual determinou a paralisação das atividades escolares em todos os níveis educacionais, privados ou públicos.

Para alguns alunos, as aulas passaram a ser realizadas em regime especial, não presenciais, e os estudantes seguem estudando em casa, com os pais tentando conciliar, na nova rotina, o trabalho formal e doméstico com as atividades escolares dos filhos. 

A psicóloga Camila Saturnino orienta que é importante que os pais ajudem os pequenos a terem uma rotina de estudos. Ela afirma que a tarefa vem sendo um desafio para os pais e cita alternativas que podem ajudar na motivação das crianças quanto as atividades escolares.

“Os pais poderiam usar algumas alternativas como assistir as aulas online e realizarem as atividades solicitadas pelos professores. Criar um ambiente especifico para a criança realiza-las. Se a criança, por exemplo, estuda pela manhã, é interessante acordá-la pelo menos uma hora antes das aulas iniciarem, para vestir o uniforme escolar, e prepará-la para a aula, tentando assim seguir uma rotina o mais próximo possível da situação normal, de quando a criança está no ambiente físico da escola. Evitar procrastinar as tarefas enviadas pelos professores, pode diminuir os acúmulos de exercícios e consequentemente o estresse da criança, dessa forma os impactos emocionais serão menores quando as escolas voltarem a funcionar”, pontuou a psicóloga.

 

*Sob supervisão da editoria

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