Tenho falado, aqui nesse espaço, sobre a importância de não enxergar a discussão, diante da pandemia do novo coronavírus, em relação à questão da Saúde e da Economia como uma dicotomia ou como se fossem temas excludentes.
Para um estado como Alagoas – que padece da ausência de uma diversificação econômica – não apresentar essa perspectiva de reabertura do setor produtivo o quanto antes significa caminhar para um caos social de consequências imprevisíveis e com dificuldades para recuperar o prejuízo.
Não adianta o governo do Estado de Alagoas, comandado por Renan Filho (MDB), apresentar como serão as fases para a reabertura e os eixos nos quais as mudanças de etapa se apoiam se não houver uma perspectiva clara, transparência nas ações e um diálogo mais eficiente com o setor produtivo em seus diversos ramos.
O Executivo tem sempre “surpreendido” os alagoanos com os novos decretos ao final dos prazos dos decretos anteriores, provocando diversas reações em empresários e trabalhadores.
Pelas recentes notas divulgadas pela Fecomércio e pela Abrasel (setor de bares e restaurantes) é perceptível que não tem havido o diálogo necessário com esse setor sequer para acelerar a reabertura econômica com base em protocolos sanitários rígidos.
É notória a insatisfação das entidades com a forma com a qual o Executivo tem conduzido o processo. Como já frisou o economista Cícero Péricles (tratei do assunto aqui), até mesmo o tal Grupo de Trabalho visando a retomada das atividades foi criado com atraso.
Agora, mais uma pesquisa (divulgada aqui no CadaMinuto) mostra a dimensão do caos social que poderemos enfrentar. O dado é o seguinte: 255 mil pessoas em Alagoas foram afastadas do trabalho que tinham no mês de maio. Destas, 129 mil deixaram de receber remuneração. Ainda há aqueles que tiveram perdas em sua renda.
Isso traz problemas incomensuráveis para a maioria das famílias alagoanas, sobretudo as mais pobres. É preciso ser muito ignorante para também não perceber que isso se desdobra na saúde, pois é uma situação que atinge física e mentalmente muitas pessoas, com outros diversos males para além da questão do novo coronavírus.
De forma indireta, a queda acentuada na produtividade vai impactar em todo mundo, pois até mesmo a receita do Estado e dos municípios vai cair de maneira tal – como já apontou a presidente da Associação dos Municípios Alagoanos, Pauline Pereira – que nem mesmo a tal “recomposição” do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) será o suficiente.
Gestões municipais podem começar a atrasar salários, a não conseguirem pagar fornecedores etc. Em muitas cidades, essa situação representa um impacto imenso no comércio local, já que a atividade principal e o maior empregador é justamente a prefeitura.
Com a queda de arrecadação, teremos o comprometimento de serviços essenciais.
Portanto, o governo de Renan Filho não pode atrasar ainda mais na apresentação de perspectivas de datas para que as empresas possam se preparar, para que haja uma retomada o quanto antes, reduzindo os danos na perda de postos de trabalho etc.
Obviamente, tudo isso sendo feito com medidas sanitárias rígidas e de maneira gradual. Todavia, algo precisa ser feito – de forma urgente – para não ampliar a pobreza e a miséria. É disso que se trata. A preocupação é com os mais pobres e não com os mais ricos, ora bolas.
A taxa de desocupação em Alagoas é maior que 12%. Um outro traço da nossa economia é o fato de 425 mil pessoas estarem na informalidade, o que corresponde a uma taxa de 43,8%. A situação só não é pior por conta do auxílio emergencial pago pelo governo federal, que chegou a 57,1% dos lares alagoanos. Como frisou Pauline Pereira recentemente, isso corresponde a 3% do PIB do Estado.
Esses são dados que também precisam estar na mesa do governador Renan Filho para que ele avalie melhor suas decisões. Pensar sobre isso não é descuidar da doença que se enfrenta, mas caminhar para ajustes necessários.