No dia 29 de maio, publiquei – aqui nesse espaço – uma fala do economista Cícero Péricles em relação ao atraso do governo estadual de Renan Filho (MDB) no sentido de apresentar um plano para a retomada da abertura econômica.

O governo do Estado iniciou um Grupo de Estudos para materializar essa flexibilização. Todavia, como bem lembrou Péricles – e eu concordo com ele! - com atraso, pois as perdas já se mostram incalculáveis por mais que algumas entidades do setor produtivo alagoano divulgue números.

Há a realidade da doença provocada pelo novo coronavírus (Covid-19 ou vírus chinês). Evidentemente que, diante disso, é preciso precauções e medidas sanitárias, além de um plano gradual. Agora, o que não se pode é – diante da desculpa de se estudar a situação – manter as pessoas, que dependem do trabalho para terem o seu ganha pão, totalmente sem perspectivas enquanto a economia simplesmente desmorona.

Nunca é demais dizer: não são apenas números, são vidas.

O desemprego e as falências fazem com que Alagoas registre milhares de perdas de postos de trabalho. Muitas dessas atividades que, por sua natureza, não registram aglomerações já poderiam ter retornado diante de protocolos que são semelhantes aos seguidos hoje por supermercados, farmácias, livrarias, bancas de revista e outros comércios autorizados. Afinal, como mostram os próprios dados do chamado “isolamento social”, a quarentena imposta não reduziu significativamente a mobilidade das pessoas, pois essas precisam trabalhar para sobreviver. Ninguém se expõe ao risco por querer, mas por necessidade.

O prolongamento excessivo pode resultar em um “remédio” com efeitos piores que a doença, pois trará outros males tão graves quanto à população, como outros problemas de saúde, depressão e por aí vai. Tudo isso também mata. É preciso equilibrar a questão das medidas sanitárias com o grave problema enfrentado no cenário econômico. Isso precisa ser feito o quanto antes e o governo estadual não pode demorar mais. A quarentena em Alagoas já dura meses. O setor do Turismo, por exemplo, que é uma das “indústrias” na qual nossa economia se baseia tem sofrido duramente.

O setor produtivo – como se observa pelas notas divulgadas pela Fecomércio e Aliança Comercial – está disposto a cooperar nas medidas a serem adotadas para que se tenha a segurança possível diante do quadro vivenciado. É preciso, mais do que nunca ouvi-los. Continuando as coisas como estão, a própria administração pública terá dificuldade de manter seus compromissos, como folhas salarias e pagamento aos seus fornecedores. O caos social deve se impor.

O governo de Renan Filho não pode atrasar mais em apresentar um plano claro, objetivo e transparente sobre a retomada econômica. O Grupo de Estudos – montado tardiamente – já teve tempo o suficiente para isso, mas até o presente momento em que escrevo esse texto, tudo o que foi apresentado é dito de forma genérica.

Hoje, encerra-se mais um decreto do governador. Qual a perspectiva? No momento em que escrevo, ainda essa não existe. Alguns setores da imprensa – inclusive o CadaMinuto – falam em mais uma prorrogação da quarentena até o dia 30 de junho.

Como tudo nesse governo estadual é anunciado de última hora, deixando todo mundo no suspense, eis que só nos resta mais uma vez esperar.

Infelizmente, ainda há aqueles que fazem a falsa dicotomia entre saúde e economia. Já expliquei em outros textos a razão de discordar disso, de chamar de “falsa”. Inclusive, no texto de 29 de maio há essa argumentação. O leitor pode conferir, caso deseje.

Além disso, o estado – e aqui falo do governo federal – não tem condições de manter o auxílio emergencial para sempre. Recordo aqui que a Câmara Municipal de Maceió aprovou um projeto de complemento do auxílio por meio do Executivo municipal. O prefeito Rui Palmeira (sem partido) vetou. E ele tem razão de vetar. Afinal, diante da crise vivenciada – para além da inconstitucionalidade – há simplesmente a ausência desses recursos. As receitas estão caindo para todo mundo, na esfera federal, estadual e municipal.

São reflexos.

Então, faz todo o sentido as falas do economista Cícero Péricles, ao participar de uma live promovida pela deputada estadual Jó Pereira (MDB). Ele se pauta em dados para demonstrar uma preocupação que deveria estar presente na administração estadual desde suas primeiras medidas. Segundo o economista, Alagoas tem hoje mais de 26 mil empregos formais a menos, com uma queda só no comércio que atinge os 8%. Mais que isso: 68% das famílias alagoanas estão inadimplentes e mais de 30% não conseguirão pagar as suas dívidas.

Repito o que escrevi antes:

Para quem acha que isso representa apenas os números frios de uma economia que pense na saúde mental dessas pessoas, na ausência de perspectiva em um país que já amarga a dificuldade de se conseguir estar no mercado de trabalho, na preocupação com os filhos, com garantir o sustento diário e tudo aquilo que também gera doenças em função dessa situação vivenciada.

O Estado – como sempre – não conseguirá dar resposta a isso. O setor produtivo – por mais incremento que venha a ter agora, ou facilidade e desburocratizações – terá problemas enormes para se reerguer.

Aconselho aos (às) leitores (as) que assistam a live, no canal oficial da deputada estadual Jó Pereira, e percebam as falas de Cícero Péricles. Ele é taxativo: a discussão do retorno da atividade econômica em Alagoas está muito atrasada em relação a outros estados. Ele diz que é necessário pensar em um plano de investimentos e na continuidade dos programas ofertados pelo governo federal.

Pois é, mais uma vez, o socorro estará além das fronteiras. Ora, ora, ora, eis o que sempre eu disse aqui em outros textos, mas não necessariamente com essas palavras. Porém, o governo Renan Filho apresenta o seu grupo de estudos como se tivesse descoberto a pólvora, como se estivesse tudo dentro do tempo.

Eis a fala de Cícero Péricles: “O diálogo e planejamento dessa retomada está muito atrasado aqui. Precisamos de agilidade e apresentação de propostas, visando o avanço dos outros estados. Precisamos começar a planejar as medidas que serão tomadas daqui pra frente, assim como defender fortemente a prorrogação das medidas tomadas pelo governo federal, como é o caso do auxilio emergencial e da suspensão da dívida do Estado”.

Um plano era para ontem. Péricles destacou ainda a importância da iniciativa do governo – ainda que com atraso. Afinal, é o óbvio: “Um plano e um calendário acalmam e permitem a algumas empresas planejarem sua retomada. Cada segmento da economia tem um perfil. O drama está nos setores considerados não essenciais, que precisam ter planejamento diferenciado”.

Mas há quem ache que é ser muito “capitalista malvadão” falar sobre isso agora!