Não sei se as denúncias feitas pelo deputado estadual Davi Maia (Democratas) – em relação ao Lacen, o laboratório estadual de Alagoas que está na linha de frente do combate à pandemia do Covid-19 – correspondem à realidade ou não. Porém, o que é visível é que são graves e que – segundo próprio Maia – há documentos vastos que comprovam muita coisa. 

 

O dito por Davi Maia foi endossado pelo também deputado estadual Cabo Bebeto (PSL), que também acompanha o assunto e também diz ter uma série de documentos que comprovariam as denúncias.

 

Essas envolvem nepotismo, favorecimento em compra de alimentos, equipamento quebrado, pagamento dobrado por exames, dentre outras. 

 

O problema é que alguns desses pontos – caso se comprove – coloca em xeque justamente os números estatísticos apresentados por Alagoas, pois – pela própria dinâmica dos testes – seria impossível ter aumentos significativos nas “últimas 24 horas”, como divulga o governo do Estado, uma vez que há uma demora para a entrega do resultado. Logo, o divulgado é sempre o acumulado dos testes positivos.

 

O pior: há uma suspeita de subnotificacões de infectados, o que faz com que a taxa de letalidade diminua, mas ao mesmo tempo o número de casos aumente. Isso torna mais díficil as análises e consequentemente a base de dados necessárias para as decisões futuras. Logo, é muita coisa que está em jogo nessa discussão. 

 

O líder do governo, Sílvio Camelo (PV), na manhã de hoje, durante uma sessão ordinária da Casa, classificou as denúncias de Davi Maia de “fake news” e foi acompanhado pelo também parlamentar Francisco Tenório (PMN). 

 

Eles acusam Maia de ter dado ouvidos a ex-funcionárias que se encontram “magoadas” por terem sido demitidas. Bem, não importa a motivação das denunciantes, mas sim se o que dizem é verdade ou não. Se for verdade, ainda que seja um revanchismo, o mérito das falas precisam ser levados em conta. 

 

Caso não seja verdade, que os fatos sejam amplamente esclarecidos para se comprovar isso. 

 

O Lacen divugou uma nota, no dia de ontem, que pode ser lida no CadaMinuto. A nota trata de um ponto das denúncias feitas por Maia, mas não todos. É preciso ir além. 

 

Agora, uma observação: ninguém nessa discussão se coloca contra o Lacen. Ao contrário, todos reconhecem a importância do órgão e justamente por isso cobram esclarecimentos da forma mais minuciosa possível, para que justamente o laboratório estatal passe a funcionar como deve. 

 

Entra em cena, portanto, um papel importante que pode ser cumprido pelo parlamento estadual por meio de suas comissões permanentes: detalhar os fatos. É lametável que reuniões tão relevantes, como essa que ocorrerá na Comissão dos Direitos Humanos (em função da pandemia), não sejam feitas de forma aberta pela TV Assembleia. Deveria. É para isso que existe a TV Assembleia. Sessões assim – com essa dimensão – teriam que ser transmitidas ao vivo. 

 

Como a Comissão de Direitos Humanos vai discutir esse assunto hoje, inclusive com presença dos envolvidos, sugiro aos senhores deputados estaduais que divulguem a íntegra, seja por áudio ou áudio e vídeo. A população agradece, pois pode formar o juízo de valor sem intermediários.

 

O assunto é importante e exige isso em nome da transparência, pois o que foi levantado em plenário precisa sim ser detalhado, ainda mais depois que o deputado Francisco Tenório foi tão incisivo ao dizer que Davi Maia está fazendo uma “fake denúncia”. 

 

Não adianta mais essa questão ficar no falatório. 

 

Vale lembrar que o caso também já se encontra no Ministério Público Estadual. 

 

Não basta uma troca de notas oficiais e falas da oposição. Diante de tal assunto, o mínimo que se exige é uma investigação aprofundada. E aí, meus caros (as), se Davi Maia errou ao levantar o assunto, que pague por isso. Mas, se acertou ao apontar irregularidades no Lacen, a responsabilidade é direta do senhor governador Renan Filho (MDB). Não esqueçamos disso.