Caros (as) leitores (as), 

 

Permitam-me iniciar a semana com uma postagem completamente fora do esperado e distante do que tem tomado conta, hegemonicamente, dos noticíarios: o novo coronavírus, Covid-19, vírus chinês, enfim, como queiram…

 

Em relação a esse tema, nos últimos posts, tenho destacado minha preocupação com o momento, levando em consideração dois fatores: a Saúde, que carece sim de medidas protetivas; mas também a Economia, pois não enxergo como elementos separados, já que ambos dizem respeito à vida e, consequentemente, sobrevivência das pessoas. Infelizmente – e voltarei a isso durante a semana – há quem subestime e há quem superestime a pandemia a qual enfrentamos. 

 

O meu desafio tem sido a busca do que é real, sem cair nas narrativas ou paixonites políticas. Aconselho ao leitor fazer o mesmo: a busca do equilibrio e da verdade. 

 

Mas, esse será outro papo que escrevo aqui em breve…

 

Esse texto terá um pouco também do atual momento, mas procurarei ir para além disso…

 

Bem, diante do isolamento social que consome a muitos, eis que eu queria falar um pouco sobre Literatura. Sou um amante dos clássicos e compartilho de uma máxima que resume bem o que penso: o clássico não é clássico porque é velho, mas sim por ser eterno. 

 

Então, nessa quarentena imposta tem aproveitado para revisitar alguns desses amigos: de Fiodor Dostoievski a William Shaekespeare, os momentos de ócio – em que pese siga trabalhando arduamente no home-office - acabam sendo frutíferos. 

 

Todavia, em tempos de isolamento, lembrei de uma obra que versa sobre as “ilhas” nas quais o homem se encontra em contato consigo mesmo, sua solidão moral e seus pensamentos inconfessos. 

 

Falo de Moby Dick de Herman Melville. Acreditem: não é apenas um livro sobre uma baleia, mas sim sobre o humano. A obra explora a comédia, a tragédia e a epopeia das grandes aventuras. O homem ao mar sempre foi um tema presente na literatura mundial.

 

O mar acaba por ser metáfora do desconhecido, do aventureiro, do perigoso, do isolamento e do inesperado. É assim, por exemplo, com Robson Crusoé de Daniel Defoe (livro que gosto muito). 

 

Em Melville, temos, de um lado, o frágil humano com todos os seus defeitos, a fugir da humanidade para o isolamento, e, do outro, a força impetuosa da natureza tanto no ambiente inóspito quanto na imensa criatura indomável. A aventura do marujo Ishmael que se lança à caça do animal mostra o quanto somos expansionistas e desbravadores diante do desconhecido, mas ao mesmo tempo frágeis e tomados pelo inesperado. 

 

Ainda mais quando o inesperado nos traz inúmeras situações complexas que precisam ser concatenadas para se ter uma melhor visão do que tende a ser infinito, como a aparenta – aos olhos do solitário marujo – ser o mar bravio que o aguarda e requer soluções para a sobrevivência e êxito. 

 

Assim, nos deparamos com o psicológico de Ishmael, que faz da natureza – que ali se encontra presente por ser simplesmente a natureza, despida de qualquer adjetivo – o mal. O que seria um obstáculo vira um inimigo onipresente que pede para ser desvendado nos seus aspectos visíveis e invisíveis. 

 

Os diálogos de Ishmael consigo mesmo leva à questionamentos em relação à cultura, à  formação da sociedade, aos aspectos religiosos de seu tempo e até mesmo a forma como o adversário histórico do momento já foi visto pela humanidade em diversas fases. Não por acaso, há as citações ao livro bíblico de Jonas, ao Leviatã de Hobbes e até mesmo ao também religioso Jó. 

 

É um passeio na cultura ocidental. Então, meus caros, Hermann Melville – sendo revisto por mim, nesses dias – também me fez pensar sobre o isolamento social e buscar referências de quando adverários semelhantes ao Covid-19, ainda que em graus diversos, nos impuseram desafios da natureza, obstáculos, como se inimigos onipresentes fossem. Fizeram-me ir a um mar metafórico à caça de todos os elementos complexos com os quais lidamos nesse momento, mas que muitos marujos de plantão tentam simplificar. 

 

Há o psicológico de várias pessoas, algumas abatidas e outras apoiadas em alguma fé, diante da ausência de perspectiva momentânea. É certo que tudo passa, mas o passar das coisas também nos altera, pois ninguém se banha no mesmo rio duas vezes. Então, o que mudará em cada um de nós depois de tudo isso. Mais solidários? Mais voltados ao transcendente? Mais materialistas? Não sei. 

 

Há, ao menos para mim, os aspectos religiosos de uma visão profundamente cristã na busca de compreender o mundo. Os tempos difícieis – caros (as) leitores (as) – acabam por redobrar minha fé em Nosso Senhor Jesus Cristo. E aí, lembrei que em meu pequeno barco, nesse oceano, também posso avistar e me acalmar no Salvador que caminha sobre as águas. De certo, feito Pedro, se eu sair do barco afunde e precise de sua mão para me puxar de volta. 

 

Há também os aspectos materiais, como o que ocorrerá com a economia, a preocupação com nossos entes queridos, as precauções a serem adotadas, como uma questão se entrelaça na outra dentro de um turbilhão de vozes, em que todo mundo quer ter razão, sobretudo nos tempos atuais, nos quais a privacidade se esvai no meio das redes sociais – outro mar bravio de incertezas – onde todo mundo fala em voz alta. 

 

O fato é que Merville me levou a paralelos e me vi assim como Ishmael já se sentiu: impotente diante das forças da natureza que ali simbolizavam um profundo e divino mistério da força que é capaz de trazer o belo, o encantador, mas também o destrutivo e amedrontador. E isso pode estar em um mar gigantesco cuja vista não alcança o fim ou na minúscula coisa que é um vírus com capacidade letal, ainda que não tão grande. Ambos nos colocam diante de nossa fragilidade e isso seria o suficiente para acabar com toda a nossa arrogância. 

 

Todavia, o medo não pode paralisar. A vida pede passagem. 

 

Mas, eis aí meus caros (as), a beleza da Literatura em qualquer um dos momentos de nossas vidas. Ela preenche vazios, nos dá chão firmes para pensarmos nossas experiências a partir de outras, sejam reais ou fictícias. Assim, entendermos mais da humanidade em sua complexidade, naquilo que foge ao cientificismo, ao tecnicismos e às ideologias. 

 

A Literatura – essa porta mágica para universos particulares, apesar de histórias universais – nos enriquece de experiências, de sensações e de paralelos entre acontecimentos que nos impulsionam ao melhor agir por melhor compreendermos a nós e aos outros, sejam nos momentos bons ou ruins. 

 

Então, meus queridos (as) leitores (as), o posto de hoje é para dizer, no final das contas, apenas uma coisa: não permita que a vida passe sem se fazer leitor, sem abraçar determinados clássicos, sem beber de suas fontes riquíssimas. Acredite, fará a diferença. Ajudará a pensar, compreender, questionar, sentir, decidir… enfim…

 

Não precisa – evidentemente – ser Moby Dick (que aqui cito por ser uma obra de meu agrado), mas há tantos outros aí pelas estantes desse mundo que aguarda apenas alguém com coragem o suficiente para encarar esse obstáculo de transformar a própria solidão ociosa em uma solidão moral produtiva. 

 

Que tenhamos uma semana sem perder a fé. Que sigamos nesse mar bravio não buscando sermos melhores que outros, mas melhor que nós mesmos a cada dia.