Como já bem sabe o leitor que me acompanha, eis que reafirmo: sim, sou cristão. Sim, sou católico. Aprendi a amar a Nosso Senhor Jesus Cristo e a Igreja Católica. Porém, isso não faz de mim melhor do que ninguém; muito pelo contrário, pois pela forma como sou, eis que me coloco no último lugar das filas dos pecadores e com confiança extrema na misericórdia divina.

Agora, se é para “apanhar” por ser cristão, eu apanho com gosto na defesa dos valores que acredito e na defesa da minha Fé, sempre com total e todo respeito aos que, em sua liberdade concedida por Deus, tomam outros caminhos. Cada um sabe de si. Não imponho minha Fé a ninguém.

Aprendi a amar a Cristo por enxergá-lo não como uma ideia a ser seguida, como um conjunto de valores que possa ser classificado dessa ou daquela forma, ou como um professor de moral e ética, um Cristo histórico, um filósofo etc. Aprendi a amá-Lo por meio do que Ele mesmo diz de Si. O Homem que é – em sua natureza humana e divina indissociável – Caminho, Verdade e Vida. É Aquele que nos brindou com o Sermão da Montanha, lá no Evangelho de Mateus. É Aquele que morreu na Cruz não por amor a humanidade – em um sentido abstrato, como posto nas ideologias – mas por cada um de nós, por cada homem, pela remissão dos nossos pecados, em uma Paixão que, como coloca São Paulo, é “loucura para os gentios”.

Esse Amor reordenou – e tem reordenado – tudo em mim, inclusive o maior zelo e amor para com o próximo, independente de qualquer coisa, por aprender a enxergar em cada humano – por mais que discorde desse e me veja, às vezes, tomando por ruins sentimentos humanos – a centelha divina que nos leva aos pés da Cruz.

Em épocas em que ser cristão é algo tão atacado, vilipendiado e que o mundo oferta tantas possibilidades aos prazeres superficiais e/ou artificiais, eis que me agarro cada vez mais a Nosso Senhor Jesus Cristo e busco compreender, com total humildade, cada sentença do Pai Nosso e do Credo, em seus 12 passos.

Não me envergonho de ser cristão. Não me envergonho de anunciar isso em ambiente secular, na imprensa secular ou onde quer que esteja. Ao contrário, tomo por obrigação, levando em consideração o que nos manda fazer a oração eucarística: dar graça em todo e qualquer lugar, seja na alegria ou no sofrimento. É, para mim, Cristo o Centro que ordena todas as coisas. Eis Nele a minha cosmovisão, mesmo quando O ofendo por ser um pecador miserável dotado de espinhos na carne como tantos outros irmãos.

Portanto, é sim, por meio dos valores cristãos que analiso meus atos no mundo e busco julgar o que considero o bem e o que considero o mal, buscando superar o segundo e crendo que Ele não nos oferta cruz que não possamos carregar, para que, quando pensemos em desabar, saibamos a quem recorrer para sermos fortaleza. Não busco com isso convencer ninguém de nada, muito menos querer mudar o mundo. Se, com alguns de meus escritos – nesse sentido – ajudei alguém, eis que não fui eu quem ajudou. Fui mero instrumento. Mas, quando errei, a miséria foi toda minha e peço perdão por isso.

Afinal, nesse vale que atravessamos, nossos pecados sempre estarão a nossa frente, diante de nós, para que entendamos o tamanho Amor de quem nos acolhe apesar de tudo, sempre lá, de braços abertos, para nos receber e, como diz Santo Agostinho, não nos punir como bem merece nossas faltas.

Por isso, caros leitores, peço licença – no dia de hoje – para deixar a política um pouco de lado e destacar isso. É que se inicia, para nós católicos a Quaresma. Eis um período de conversão (e a conversão é diária) em que refletimos sobre os nossos atos e buscamos o jejum, a oração e a caridade. Para alguns, superstições. Porém, para outros – como eu – ápice de um diálogo profundo e silencioso com nosso Deus. Um diálogo que se dá por nós, pelos que amamos e por todos.

É como diz o Sermão da Montanha: que virtude teria em devotarmos o bem só a quem nos ama se todos são aptos a fazer isso? O Sermão da Montanha é prenúncio do Calvário, pois buscar refletir sobre ele e tentar segui-Lo, apesar de nossa miséria, é ouvir o mundo dizer que estamos ficando loucos ao não revidar determinadas coisas, a calarmos mais em determinadas circunstâncias que exigiriam os nossos gritos etc.

A oração se dá pela busca do diálogo e da intimidade com Deus. É a forma como temos de bater a porta, de insistirmos na súplica e assim entendermos, por meio do que Ele nos concede, o alinhamento da nossa vontade com a vontade de Nosso Senhor, pois não é fácil enfrentar os desígnios, como por exemplo as perdas, e ainda assim sermos gratos por Deus nos conceder a passagem por esse mundo na busca pela salvação de nossas almas, que é nosso bem mais precioso, pois é o único que não deixaremos para trás.

O jejum nos leva a mortificação de desejos que nos levam ao mal, como sermos maledicentes, orgulhosos, vaidosos, dependentes de prazeres carnais etc. O jejum redefine as coisas e nos mostra o que verdadeiramente importa para que tenhamos algumas de nossas necessidades firmemente alimentadas para não fraquejarmos no caminho e na busca por – mesmo com tantos defeitos – fazermos o bem e entendermos que somos instrumentos. O jejum nos leva a pensar em que tem menos que nós e o quanto ainda temos que estender a mão.

A caridade, como posta por Paulo, é a forma mais bela de amor que não busca méritos por amar, mas simplesmente ama. Por isso silenciosa, sem alarde, sem gritar aos quatro cantos o que se fez e o que se faz, mas confiantes de que quando a fazemos com Cristo, por Cristo e em Cristo devemos até agradecer pela oportunidade de termos sido caridosos, pois isso melhora muito o nosso ser. Ensina-nos a compadecer, a termos compaixão e empatia pelos pecadores, acolhendo-os e buscando a correção fraterna, sem disputas, por rejeitarmos o pecado, como nos ensina Santo Afonso de Ligório. Rejeitarmos o pecado e não o pecador, pois todos nós somos pecadores e não gostaríamos de sermos rejeitados por Nosso Senhor.

Que nossa Quaresma, digo aos leitores católicos como eu, seja refletindo sobre esses três pilares. Que Deus nos conceda a Graça de sermos sal e luz na terra. Que lembremos que o sal nunca ganha o mérito da boa comida apesar de ajudar a dar gosto, pois o mérito é todo do cozinheiro. Que lembremos que a luz ilumina, mas é invisível para tornar tudo visível. Assim, quem sabe, possamos ajudar em algumas conversões ou, ainda que timidamente, impulsionar algumas reflexões para aqueles que andam a perder a Fé.

Que sejamos no mundo o que verdadeiramente somos em essência, sem doar a Deus apenas o resto de nossos dias e sem negá-Lo diante das adversidades.

Meus queridos, já cometi – em minha vida – pecados dos quais me arrependo profundamente. Posso dizer que quando fui aos pés da Cruz pela primeira vez, eu fui me arrastando e temendo, mas, ainda assim, Cristo me acolheu. Ele me concedeu a Graça de sentir o quanto sua misericórdia é infinita e o quanto o perdão é importante.

Ele me fez aprender a amar, de uma forma que eu jamais pensei ser possível, a minha filha, minha esposa, minha irmã, enfim todos os meus. Sou criatura falha, cheia de misérias e marcas na alma, porém, ainda assim, Deus foi bom para comigo e tem sido o melhor amigo, na alegria e nas desgraças.

Não desesperemos, não nos abandonemos, não percamos o que nos é dado de graça e sem merecimento. Tenhamos mais prudência com a vida e com as palavras, recorramos mais ao silêncio e ao ouvir do que ao falar. Lembremos, assim como com os apóstolos, se vier a tempestade e teu misero barquinho ameaçar naufragar, saiba que Nosso Senhor Jesus Cristo está lá, dormindo no chão do barco a espera de que você suplique e chame.

Que Deus nos abençoe e cuide de todos nós. Que nos ensine a sermos cristãos. A conversão é diária e aprender a ser cristão também…

Fiquem com Deus.

Aos que não compartilham de minha fé, independente de qualquer coisa, sintam-se abraçados nessa Quaresma. Deus respeita as nossas escolhas e muitas vezes se afasta, mas fica sempre ali por perto na esperança de nosso retorno para casa...