Minha preocupação, quando analiso alguns cenários nacionais ou locais aqui nesse blog, não é com governos, mas com o país, com a Alagoas que aprendi a amar e com a Maceió, que para mim é terra tão querida.

Nesse sentido, sempre coloco que, independente de qual seja o governo de plantão, erros devem ser criticados e acertos reconhecidos. Porém, tudo isso dentro de um senso de proporcionalidade da gravidade real das coisas.

Até mesmo nos governos petistas (dos quais sou um ferrenho crítico), já cheguei a reconhecer o acerto que foi a união de programas sociais no Bolsa Família. Esse programa – que se inspira nas ideias do economista Milton Friedmann – é um acerto no seguinte sentido: simplifica ao auxílio aos que estão na miséria e precisam, de alguma forma, serem inseridos na atividade econômica do país, além de reduzir a máquina estatal (não precisa de ministérios, funcionários, carimbos etc) a tornando mais eficiente e dando mais liberdade ao cidadão que recebe a ajuda.

O que tenho dito, no entanto, é que o Bolsa Família – para ser eficaz no combate à pobreza – deveria estar dentro de um contexto (e os governos precisam trabalhar para isso) em que o programa diminua com o tempo em vez de aumentar. Pois, em tese mais pessoas estariam saindo da pobreza e se inserindo no mercado, pois é um rico setor produtivo que gera emprego, aumenta renda etc.

Infelizmente, quando os governos petistas adotaram uma matriz econômica heterodoxa se despreocuparam com a inflação, aumentaram os gastos públicos, geraram orçamentos deficitários e uma série de outros fatores que nos levaram aos desastrosos anos de 2015 e 2016, quando tivemos PIBs negativos.

A retração na atividade econômica fez com que explodisse o número de desempregados, com que o chamado “risco Brasil” aumentasse, com que se perdesse a confiança para investimentos e por aí vai.

E olhe que aqui nem estou falando da roubalheira, do aparelhamento da máquina pública, das relações internacionais pelo viés ideológico e outros problemas que já comentei em outros textos.

O fato é que na década passada o Brasil piorou. Isso é um fato. Muitas vezes (na maioria das vezes, na verdade) é fácil causar um dano. O difícil é conseguir fazer o reparo. O Brasil precisa retomar o crescimento e isso requer uma série de reformas profundas que reduzam os gastos públicos e tragam mais liberdade econômica.

Os principais problemas do país – nos últimos anos – foram a segurança pública e a economia, pois o misto de violência com a ausência de perspectivas impacta, sobretudo, na vida dos mais pobres. São esses que estão mais expostos às consequências nefastas dos altos índices de criminalidade, do desemprego, do mercado totalmente informal, ao ponto de crescer a taxa de desalentados (como medido em recentes pesquisas do IBGE), que são aqueles que até mesmo já perderam a esperança e desistiram de procurar uma vida melhor. Isso é muito triste.

O senso de prioridade nos debates públicos, nesse país, dá mais atenção às questões periféricas (que também merecem atenção, evidentemente) do que ao mais importante, que é responder a pergunta: como garantir um país seguro, em todos os níveis, incluindo a segurança jurídica, e que seja capaz de atrair investimentos, não mais estando condenado aos voos de galinha, que é quando parece que vai melhorar, mas em poucos anos as tragédias se repetem.

Nesse sentido, o estudo divulgado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) é um alerta. Divulgado recentemente, o levantamento mostra algo que até já tratei em outros escritos: a piora factível do país e não o mundo imaginário dos ideólogos que vivem a defender os que se dizem “pais dos pobres” por conta de suas preferências políticas.

A CNC revela que a década de 2010 foi um período perdido. Os resultados são piores do que os da década de 1980, quando lidamos com a inflação em patamares insuportáveis. Lembrando que a questão da inflação só foi solucionada com o acertado Plano Real, que é sim um mérito do governo tucano do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ainda que esse presidente tenha sido a abertura da porta do inferno.

Com Fernando Henrique também aumentaram os gastos públicos e – em que pese algumas privatizações – houve o inchaço da máquina e a manutenção da lógica estatista, de um pacto federativo que centraliza recursos e decisões na União, condenando estados e prefeituras a viverem de pires nas mãos.

Aliás, o Brasil nunca teve uma discussão municipalista profunda. As próprias entidades, que deveriam puxar esse debate, o fazem de forma tímida e sem entender realmente a questão, como acontece com a Associação dos Municípios Alagoanos (AMA) em Alagoas.

É uma tragédia ouvir as falas de determinados prefeitos que sequer sabem discutir o pacto federativo. É válido lembrar que, associada a essa discussão, tem que está reforma administrativa e a reforma tributária, no sentido de simplificar e reduzir impostos sem deixar de levar em conta o impacto disso nas contas públicas.

Não pode jamais ser um debate populista. Justamente por isso que é tão difícil, pois nossos políticos estão acostumados a vender promessas que não podem ser executadas para serem eleitos como promotores de um “mar de rosas”.

O Brasil precisa acordar para o que é mais importante. Nesse sentido, é sim um grande feito do governo federal do presidente Jair Bolsonaro a redução da criminalidade; mas não apenas do governo federal, pois o trabalho de muitos estados devem ser reconhecidos. Alagoas, por exemplo, teve bons resultados nesse campo antes mesmo da eleição de Bolsonaro. Sou um crítico do governador Renan Filho (MDB), mas nessa questão sua gestão acertou.

Assim como Renan Filho acerta ao colocar na Fazenda alguém que pensa mais em números do que em ideologias, que é o caso do secretário George Santoro. Tanto é assim que em 2015 e 2016, Santoro reconheceu a crise e foi mais enfático em relação às necessidades de mudanças do que o próprio governador, que era mais cauteloso nas falas por conta dos seus laços políticos com o PT.

Retornando ao estudo da CNC, eis que na década de 2010 – caros (as) leitores (as) – o Brasil cresceu 14,1%, o que dá uma média anual de 1,3%, conforme o levantamento. Para se ter uma ideia do que isso significa, basta olhar para a década de 1980. Com todos os problemas, naquele período se cresceu 33%, com média anual de 2.9%. A situação do país só não foi pior por conta das bases montadas anteriormente, que davam uma estabilidade, mas, ainda assim, fomos novamente assombrados pelo fantasma da inflação.

Agora, para 2020, a previsão do mercado é que essa inflação esteja dentro da meta e que o PIB aponte para uma década melhor. O orçamento deficitário começa a melhorar, o que significa maior possibilidade de investimentos. Que assim seja, independente de governo. Governos passam!

Esses dados, no entanto, nos dão a ideia do que é a herança maldita que caiu no colo dos governos posteriores ao PT.

Não tenho bola de cristal. Portanto, não sei se conseguirão – esse e os futuros governos dessa década – reverter a situação. Espero que sim, torço para que sim. Vejo, no ministro da Economia, Paulo Guedes, o pensamento que considero o correto, sobretudo quando aponta para a liberdade econômica. As recentes declarações do ministro – que para mim são infelizes – não me faz perder a fé nos resultados práticos, pois 2019 foi um bom ano em relação ao cenário macroeconômico.

Obviamente, falhas todos os governos terão. Estes devem ser criticados por essas falhas sim. O presidente, por exemplo, poderia parar de se envolver em polêmicas vazias com frases atabalhoadas que só alimentam fogueiras. Boslonaro parece ter o dom de querer apagar fogo com gasolina. Perde-se um tempo danado com isso, mesmo quando no mérito acerta ao rebater parcela da imprensa. Muitas vezes, o presidente, é seguido por alguns de seus ministros e assim pautam o noticiário com pedras que são atiradas contra eles mesmos.

Nesse sentido, gosto do estilo do ministro Tarcísio Gomes, que produz resultados e ponto final. É um ministério – o da Infraestrutura – cuja agenda positiva é exemplar. O mesmo se deu com o ministro da Saúde, que deu um exemplo de como agir de forma serena quando o caso do coronavírus começou a assustar a população. Cito esses como exemplos.

Exemplos ajudam.

Por isso que, no balanço, o governo – em suas ações práticas – tem mais acertado que errado. No que há de erro, que tenhamos a visão crítica dentro do senso de proporcionalidades, pois não há governo perfeito e o preço da liberdade é de fato a eterna vigilância. O problema é que muitas críticas são potencializadas pelo ranço ideológico de uma ala da imprensa que detesta Bolsonaro.

Mas vejam o quanto o Brasil precisa de reformas profundas. Na última década, o encolhimento da produção foi de 6,9% no acumulado. É um resultado bem próximo dos anos de 1980, quando o índice foi de 7,2%. Isso também ajuda a entendermos o tamanho do desafio.

O atual governo tem contra si o tempo. Caso não desate esses nós para iniciar uma profunda reforma na máquina administrativa, para rever a questão dos impostos, diminuir os gastos públicos e reduzir a concentração de poder e recursos em Brasília, perderemos mais uma janela de oportunidades e aí, mesmo tendo começado a reverter a tragédia do passado, seremos condenados a um voo de galinha.

O Brasil pode ir mais longe na próxima década e tem tudo para conseguir. Basta se modernizar e aderir a filosofia que entende que o livre mercado é a melhor forma de gerar riqueza. Chega de estatismo. Chega de socialismo, que é essa filosofia do fracasso que nunca deu certo em canto algum…

Ao falar isso, confesso gostei das declarações recentes do governador Renan Filho. Ele está certo – espero que na prática seja assim também, apesar de ter dúvidas – quando hipoteca apoio às reformas. No retorno das atividades legislativas, ele destacou a necessidade de acelerar o cronograma legislativo para a aprovação dessas.

Renan Filho destacou a reforma tributária como “fundamental para o país”. “Precisa ser feita. O Brasil tinha muitas amarras para retomar o crescimento, algumas foram removidas lá atrás, algumas agora no atual governo federal, como a reforma da previdência. Mas precisa ser feito mais, precisa de reforma tributária, de uma reforma administrativa que trate de maneira mais clara as carreiras do serviço público, para que o país reencontre o caminho do crescimento, especialmente a da geração de emprego. É fundamental que no campo federal a agenda de reformas ande. Lá, a agenda é tão apertada quanto aqui por ser um ano eleitoral”.

O governador está correto nessa declaração e – vejam – conseguiu até mesmo reconhecer avanços nesse atual Executivo federal, mesmo sendo um opositor ao presidente e tendo várias críticas a ele. Renan Filho, de certa forma, nessa fala se pautou pela razão. Não tiro nenhuma das críticas que já fiz ao emedebista, que tem seus momentos de bravatas. Todavia, acerta no discurso em relação ao que o país precisa no cenário macro.