Conversei, no final de semana passado, com a deputada federal Carla Zambelli (PSL). Ela esteve em Alagoas para um evento do Aliança Pelo Brasil, o novo partido do presidente Jair Bolsonaro. Tratamos de vários assuntos da política nacional, como a perspectiva de consolidação do Aliança para esse pleito, pontos que envolvem o governo federal, o Congresso Nacional e até o Supremo Tribunal Federal (STF).
Zambelli é uma das pessoas do PSL que deixará o partido. Ela – assim como tantos outros – permanece na sigla apenas em função do risco de perder o mandato.
Todavia, Zambelli é enfática: quem nessas eleições – independente do Aliança Pelo Brasil já estar pronto para o pleito ou não – permanecer no PSL não deverá contar com o apoio de Bolsonaro. “É um impeditivo”, diz a deputada federal. Em Alagoas, por exemplo, a antiga sigla do presidente ainda se apresenta como uma “direita” que apoia Bolsonaro e que trará os candidatos bolsonaristas, como coloca o dirigente estadual Flávio Moreno.
Para Zambelli, quem faz esse discurso está sendo “falacioso”. Sobre o cenário do Aliança Pelo Brasil para 2020, a deputada federal avalia que ter o partido pronto para o processo eleitoral é algo que não depende apenas dos que estão envolvidos com a “montagem ou apoiamento” da agremiação. “São várias variáveis. Algumas dependem de nós. Outras não”.
De acordo com a deputada federal, o apoiamento da população tem sido algo positivo e que fez com que o Aliança Pelo Brasil batesse as metas de coleta de assinaturas. “Tem sido impressionante a resposta, a participação nos eventos”. Todavia, ela ressalta a dependência do processo cartorial e do reconhecimento a ser feito pela Justiça Eleitoral, o que torna difícil a participação do Aliança na disputa por prefeituras e cadeiras de vereador.
Mas, o partido de Bolsonaro trabalha com o “plano B”, que é apoiar candidatos que estejam em outras siglas, mas alinhados aos ideais do presidente. “Eu e outros deputados federais vamos apoiar pessoas nos estados, inclusive em Alagoas, mas isso vai depender do histórico de cada um. É importante que o eleitor busque isso, procure nas redes sociais quem é quem e vote bem, independente de votar em candidatos do Aliança ou não”, ressalta.
“A gente acredita que vai passar das 500 mil fichas de apoiamento e tem que passar, pois nem todas serão consideradas válidas, porque às vezes há erros de preenchimento. Há a possibilidade de não sair o Aliança para a eleição desse ano. Já estamos trabalhando com essa possibilidade de pessoas importantes para a gente saírem em uma rede de apoiamento para formamos um grupo bolsonareano independente de partido”, explica Zambelli.
Para ela, o discurso das campanhas municipais tem que passar pelo lema “Menos Brasília, Mais Brasil”, que tem sido um dos pontos trabalhados pelo presidente Bolsonaro e pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. “Não adianta pulverizar o poder se na ponta ele for corrupto. Então, é importante que nessas eleições se tenha essa conscientização. É isso que eu tenho dito às pessoas. Que votemos em pessoas corretas. Vamos renovar a política. Isso independente de partido ficar pronto ou não”, pontua.
Racha na direita
Indaguei a Zambelli sobre o racha que ocorreu na direita. Logo nos primeiros meses de governo, Bolsonaro enfrentou crises internas, como o primeiro embate com os militares e depois na própria base de apoiadores. Alguns – como o caso do youtuber Nando Moura – passaram a acusar o presidente de traição. Do outro lado, os apoiadores de Bolsonaro classificaram os dissidentes como “isentões ou traidores”.
“Isso enfraquece um pouco, independente de ser uma depuração da direta. Eram pessoas que estavam do nosso lado. Então, tínhamos número, não é? Numericamente isso enfraquece a gente, mas também nos fortalece em outro sentido, que é o qualitativo. Pois é uma depuração que o povo quer ver. Muita gente surfou na “onda Bolsonaro”, mas em muito pouco tempo mostrou quem verdadeiramente é. Eu, muitas vezes, sabia da índole de algumas pessoas. Sabia que isso ia acontecer em algum momento, mas achava que isso ia ser lá para 2022, quando – numa reeleição de Bolsonaro – alguém tentaria derrubar o presidente para ser candidato”, opina a deputada federal.
Para Zambelli, outra dificuldade é que a união na direita se dá por projetos e ideias. “A gente está acostumado com a união da esquerda, que não é pelo bem do Brasil, mas pela quantidade de dinheiro que eles vão roubar. Eles se protegem a qualquer custo. Na direita, a gente critica pessoas em função dos valores que defendemos. Eu não critico muito. Eu não critico governo. Não critico ministro. Eu critico pontualmente algumas pessoas, como critiquei, quando vi que estavam errando feio e isso se comprovou depois de algum tempo”, explica.
A parlamentar ainda ressalta que a defesa do governo federal fez com que ela fosse vista como uma “passadora de pano oficial”. “Eu defendo o governo Bolsonaro não porque ache que um governo será perfeito. Não acho que vá ser perfeito. Não acho que Bolsonaro seja perfeito. Eu acredito que ele está fazendo o melhor que pode, com os recursos que pode e com o poder que ele tem nas mãos. A gente tem um Congresso Nacional que, na maioria, ou é de corrupto ou é de esquerda. Em sua maioria, um Congresso que quer lutar contra as propostas que derrubam a corrupção. Tem alguns poderes ainda corrompidos e isso acaba atrapalhando o andamento do presidente. Isso independente dele. As pessoas tem que entender isso”, avalia.
Rodrigo Maia
Diante do que a parlamentar expõe, questionei a ela sobre como enxergava a postura do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (Democratas). Eis a resposta: “Nas pautas econômicas, ele mais ajuda. Nas demais, aí depende de cada pauta. É no varejo. A gente não consegue criticar o Rodrigo Maia no atacado. Eventualmente, ele abraça um pouco as casas de algumas figuras que querem derrubar ministros, como ocorreu no caso do ministro da Educação. Mas isso é do jogo democrático. Ele tem o direito de criticar e a liberdade de expressão está aí para ser atualizada”.
“A gente nunca imaginou que o Rodrigo Maia fosse ser um apoiador 100% do governo. Ele nos ajudou com a Reforma da Previdência, vai nos ajudar com Tributária, Administrativa. Com a Reforma Politica, devemos ter embate. Eu estou começando a aprender, e isso a gente aprende lá dentro, que não adianta querer criticar genericamente uma pessoa. A gente tem que atacar os pontos, os fatos e não atacar pessoas. Rodrigo Maia tem sido excelente para algumas coisas e para outras não. Mas ele tem até recebido as minhas críticas e tem entendido”, complementa.
Zambelli nega ainda que – como pontua alguns críticos – haja um “acordão” entre Bolsonaro e o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli. “Eu acho que o presidente percebeu que se não houver o mínimo de conversa e diálogo entre o STF e o Executivo fica ingovernável o país. Não é fácil para o presidente, por tudo que ele viveu, a quantidade de injustiças que ele viveu, inclusive algumas do Poder Judiciário, abrir mão da ideia individual em prol do Brasil. Qualquer pessoa que enxergue mais de perto vai perceber que se essa proximidade não existisse a governabilidade seria impossível de ser realizada”, defende a deputada federal.
Na visão dela, a busca por diálogo tem sido correta. Ela coloca que essa postura ajuda a manter os índices positivos que o Brasil tem conseguido, sobretudo na pauta econômica. “Nós tivemos um 2019 com excelentes índices em tudo. O dólar está alto por uma questão internacional e é o único índice difícil de você controlar internamente porque depende de outros fatores. Mas, o governo Bolsonaro vai muito bem em todos os índices econômicos. Em tudo que foi possível o governo melhorar, ele melhorou. Inclusive aqui no Nordeste. O envio de recursos federais para o Nordeste é três vezes maior do que para o Sudeste. Isso no bruto. Se for pegar o proporcional é quase seis vezes maior. Temos um presidente que está preocupado com tudo. É o primeiro governo, desde 1990, que fez menos o toma-lá-dá-cá. Os ministros são de quadro técnico. Então, é bem falácia dizer o contrário”.