Pode ser ingenuidade deste que vos escreve, mas que seja… Prefiro guardar em mim alguma ingenuidade do que ser consumido pela perversidade de deixar de enxergar no outro uma pessoa igual a mim.

Mantenho a crença de que somente valores sólidos que conduzam o hábito das virtudes e enxerguem o ser humano pelo que ele tem de mais precioso é o que nos salva. Não falo aqui de salvar o mundo ou de crenças utópicas em uma sociedade ideal que é tão fomentada pelas ideologias seculares. Esse modelo de racionalismo gerou tragédias no século XX que se apoiavam em visões pseudo-centíficas que tentavam descrever um mundo melhor. Quem tiver dúvidas, perceba a História e reflita sobre ela, como fez Alain Besançon em seu A Infelicidade do Século.

Em regra, as ideologias seculares produzem monopólios de virtudes que se creem salvadores da pátria, mas são verdadeiros sepulcros caiados. É uma das consequências da mentalidade revolucionária, esteja ela onde estiver.

Por isso, prefiro acreditar no hábito da virtude a ser praticado por esforço, pois somos todos nós humanos também tomado por mazelas e precisamos aprender a combater as nossas para nos tornarmos, a cada dia, melhores.

Como creio no transcendente e sou cristão, observo o que sábios – como Santo Tomás de Aquino – falavam sobre virtudes cardeais e teologais. As primeiras direcionam a nossa conduta, como no caso da prudência e da busca por Justiça. As segundas são aquelas que dialogam com nossa alma, como a fé, a esperança e a caridade, que estimulam a compaixão e a enxergar o outro como nosso semelhante, com a mesma centelha divina e com os mesmos espinhos na carne.

É isso que nos leva a ser solidários com qualquer um que seja vítima de injustiça, independente de concordarmos ou não com suas ideias. Afinal, uma injustiça segue sendo uma injustiça mesmo quando cometida contra alguém que eu discordo. É nesse sentido, que nem preciso saber quem é a vítima para – diante dos fatos – entender que ali temos uma vítima real da crueldade injustificável e isso precisa ser combatido.

Não conheço a professora que foi alvo de um ataque racista, ocorrido essa semana em um colégio particular de Maceió. Não sei quais são as ideias que a guiam, nem me interessa. Isso é o que menos importa. O que importa é que ela foi vítima de um crime, de uma ação injustificada e precisamos buscar a Justiça e prestar solidariedade.

Eu sou solidário a ela. Nenhum ser humano pode ter o direito de nos humilhar por conta de características físicas, etnias, questão sexual etc. É repudiável e é crime o que essa professora sofreu. Quem cometeu tem que pagar por isso e rogo para que a pena imposta seja educativa para que a agressora reveja seus conceitos, sua soberba e sua miséria de se achar superior.

Pelos relatos, os pedidos de desculpas da agressora ainda pioraram a ofensa, pois demonstram uma visão de mundo deturpada que segrega pessoas em função de preconceitos injustificáveis. O pedido de perdão só é sincero quando vem da profunda contrição e do arrependimento, quando se enxerga a mazela promotora da crueldade. Os relatos não indicam isso, mas simplesmente a forma açodada e hipócrita de tentar aliviar para si as consequências do mal feito ao outro. Isso só demonstra a tentativa de manipular uma situação em que se enrenda em benefício próprio e não na busca sincera pela reparação do dano.

Então, a professora está coberta de razão em levar o caso adiante e buscar a Justiça. É, sem sombra de dúvidas, o que ela deve fazer, buscando assim o didatismo que é produto da justiça universal, pois a pena é também pedagógica para muitos.

Imagino as consequências de tal injustiça em quem a sofre. A humilhação sofrida causa traumas e cicatrizes na alma que cobra de quem sofre uma ação de superação e reação com danos psicológicos. Em momentos de fragilidade, o indivíduo se sente inferior, sofre, se vê incapaz e exposto. Não ser solidário a essa situação é de uma insensibilidade terrível. É lamentável que casos assim ocorram, mas assim como o bem está presente no mundo, o mal também. O mal é algo a ser combatido sempre.

Quem ideologiza essas coisas é tão cruel quanto, pois os maldosos estão em todos os espectros políticos e camadas de uma sociedade. O mal ocupa espaço em todos os cantos. Seres humanos que se deixam contaminar por eles também. E ainda há aqueles, o que aparenta ser o caso da agressora, que acham que podem cometer o mal pelo fato de enxergarem o outro como subalterno ou dependente, seja por uma oferta de emprego ou por qualquer outra relação estabelecida. Isso é um agravante.

Que a professora encontre conforto, forças e justiça. É o que defendo. Que o trauma seja superado pela força de sua centelha divina, pois é criatura preciosa como todos nós somos. Digo isso sem nem conhecer se ela comunga ou não, mas não poderia aqui deixar de falar. Era até para ter feito antes, mas diante de uma semana turbulenta não consegui escrever muito nesse blog.

Devemos repudiar a injustiça sempre. Buscar promover a justiça em todos os momentos. Assusta-me como o preconceito ainda faz morada na alma de muitas pessoas. Ele é usado de forma política, de forma coletivista, de forma ideológica, enfim...de diversas maneiras para promover sentimentos mesquinhos das mais variadas formas. É deplorável. Isso traz consequências, vítimas reais, amarguras e produz personalidades terríveis incapazes de enxergar o outro como igual, independente de classe, etnia ou orientação sexual. Nada disso é o que define caráter.

Li atentamente, aqui no CadaMinuto, o texto da jornalista Raíssa França e a parabenizo por tocar em alguns pontos desse tema, ampliando-o e mostrando, sobretudo, a reação solidária dos estudantes para com a professora. Que bom observar essa consciência nos meninos e meninas ali presentes. A solidariedade pública em nome de um bem é algo reconfortante. Não elimina o dano sofrido pela vítima, mas mostra a esperança, pois não estamos sozinhos quando agredidos pelo mal, pois ainda há aqueles que entendem o valor do ser humano pelo simples fato dele ser humano.