Li, no blog da jornalista Vanessa Alencar, sobre uma “live” do ex-governador Ronaldo Lessa (PDT) e da ex-senadora Heloísa Helena (Rede) juntos. São duas figuras históricas da política alagoana ligadas a setores da esquerda.

Ambos tiveram fases áureas na política local e deixaram suas marcas. Haverá quem concorde com eles e quem discorde de suas visões de mundo. Natural da democracia. Mas daquela parceria firmada no início da década de 1990 para hoje, muita coisa passou por debaixo da ponte. Essa parceria não se reedita. E se reeditarem, não encontrará o mesmo cenário.

Em relação à ex-senadora e também ex-vereadora Heloísa Helena (Rede), sempre tivemos discordâncias absurdas de visão de mundo, mas não faltou em nós o respeito de um para com o outro. Vejo em Heloísa Helena uma figura autêntica em que pese discordar da maioria de suas ideias. A autenticidade de Heloísa Helena teve um preço. No auge, ela se sacrificou em uma candidatura à presidência da República.

Depois, teve vitórias estrondosas para o cargo de vereadora por Maceió, mas o xadrez político não permitiu seu retorno ao Senado Federal ou a Câmara dos Deputados. Heloísa Helena – em sua caminhada – tem alguns méritos. As alianças que não firmou poderia ter resultado em êxito, mas foi justamente por não firmá-las que pode falar com mais autoridade que Ronaldo Lessa ao ser confrontada com seu eleitorado.

Ela bateu de frente com o PT e com o PSOL, partidos dos quais já fez parte. Ela criticou as alas mais sectárias da esquerda e sempre deixou claro que compreende que os muitos monopolizadores de virtudes e da roupagem do bom-mocismo, que a esquerda busca colocar em si mesma, não passam de sepulcros caiados. Por isso, também sofreu críticas enormes, em que pese seguir ligada a compreensões seculares de mundo e até da visão religiosa.

As críticas de Heloísa Helena eram sistemáticas. As de Lessa, meros rompantes em função das circunstâncias em que se encontrava.

Todavia, gostem ou não dela, é justamente por falar muitas vezes o que é inesperado para uma voz de esquerda que merece se fazer presente no debate público, independente de ter cargo eletivo ou não. Jamais votei e jamais votaria em Heloísa Helena. Ela sabe disso. Assim como se eu fosse candidato (Deus me livre desse dia!), ela também jamais votaria em mim por eu ter uma visão de mundo conservadora. Mas, ouso dizer (ainda que alguns leitores meus não compreendam), Heloísa Helena faz falta na Câmara de Vereadores.

No período em que lá esteve, ela escancarou hipocrisias. Na época, eu era repórter setorista do Legislativo municipal e até fiz críticas a Heloísa Helena por conta de algumas pautas, mas dentro do que é natural da democracia.

Quanto a Ronaldo Lessa, foi o nome responsável por levar ao poder uma significativa parcela da esquerda alagoana, mas sua biografia é controversa e cheia de alianças políticas, idas e vindas incompreensíveis a muitos eleitores. Lessa se vendeu como aquele que iria contra as forças do atraso. Balela. Lessa se encaixou nos planos do senador Renan Calheiros (MDB) feito luva, quando tentou retornar ao Palácio República dos Palmares. Ali, se anulou. Perdeu as eleições.

Aliás, Calheiros sempre colocou o PT e o PCdoB onde quis. Isso diz tanto da esquerda quanto de Calheiros. Renan Calheiros fez o mesmo com outras lideranças. Estamos falando do Ronaldo Lessa, que perdeu uma eleição para o Senado para o atual senador Fernando Collor de Mello (PROS), e depois se aliou ao próprio Collor. Lessa é ainda o que se tornou rival ferrenho do ex-governador Teotonio Vilela Filho (PSDB), mas depois estava junto dos tucanos para compor espaços na prefeitura de Rui Palmeira.

O PDT – de grande partido que foi em Alagoas – se tornou um nanico em busca de sobrevivência. Não nego que hoje Ronaldo Lessa tem capilaridade eleitoral e força política, mas amarga um ostracismo que é fruto também de decisões erradas tomadas no momento em que tinha muito mais força do que tem hoje. Isso faz com que as pretensões de Ronaldo Lessa de disputar a Prefeitura de Maceió sejam facilmente atropeladas pelos demais grupos que aí estão.

A “live” de Lessa com Heloísa Helena é só um factóide para realçar nomes, para tentar se colocar no jogo, e sem qualquer pretensão de concretude.

Com todo respeito, pois não se trata de crítica às pessoas, mas simplesmente de uma visão do “jogo eleitoral”, não há espaço para a reedição do que foi o ano de 1992. O contexto é outro e até mesmo as ideologias e posturas heroicas nas quais esses políticos se travestiam possuem agora o contraditório com toda força.

Lessa, aos poucos, vai se tornando um personagem de si mesmo. Diferente, Heloísa Helena soa com muito mais sinceridade aos seus eleitores. Os dois juntos – portanto – possuem muito mais a perder do que a ganhar. Heloísa Helena se basta em seu eleitorado. Ronaldo Lessa, não! Ele depende muito mais das circunstâncias.

Em resumo, posso não concordar com as ideias de Heloísa Helena, mas ela acredita nas ideias dela. Normal. Ela também não acredita nas posições que defendo. É a democracia!