Um dos parlamentares federais mais influentes da Câmara dos Deputados, o alagoano Arthur Lira (PP) deu a sua opinião – em entrevista ao Jornal das Alagoas – sobre a aprovação do fundo eleitoral de quase R$ 2 bilhões.
Para Lira, é importante que essa quantia – oriunda do bolso do contribuinte – tenha essa destinação, pois, caso contrário, muitos partidos políticos que existem atualmente no país não teriam outra forma de se manterem com vistas ao pleito de 2020.
A declaração de Lira está em uma matéria do jornalista Delane Barros. Ora, se alguns partidos políticos inexistem sem o dinheiro público é de se indagar: então, eles representam quem já que ninguém é capaz de investir em suas ideias? Devem ser desertos de ideias… Eis a crise da representatividade, a população não se enxerga nessas legendas. A eleição passada mostrou muito bem isso.
Estamos em um sistema político que há muito carece de uma reforma séria. Afinal, muitas dessas legendas que, na visão de Lira, seriam extintas sem o fundo eleitoral não passam de agremiações de aluguel, sem qualquer identidade ou linha ideológica definida. Em outras palavras: não fariam falta alguma ao povo, mas deixariam saudades para os caciques que amam os fundos de financiamento destas. Não por acaso, há caciques que vivem disso. A profissão deles é “dirigente partidário”.
Como legendas nanicas, elas passam a orbitar em torno de um partido grande, assim, ou se tornam capachos ideológicos ou mera ferramenta fisiológica no processo. Há coisa muito mais importante no país para se destinar dinheiro público.
Vale ainda lembrar que a turma queria que até os advogados deles fossem bancados com dinheiro público. É uma graça.
Infelizmente, todas as vezes em que o Congresso diz que fará uma reforma política o que ocorre é uma mera reformazinha eleitoral pensando sempre nas benesses de quem já se encontra no poder.
Em minha visão, portanto, a declaração de Arthur Lira não se sustenta e não serve de justificativa para o desperdício de dinheiro com o fundo eleitoral. No final das contas, esse fundo faz com que todos banquem tudo, como ocorre no fundo partidário onde o dinheiro do contribuinte pode acabar em uma legenda que ele não apoia.
Sem contar que o sistema partidário brasileiro tem muitos partidos e – como já dito – não passam de 50 tons de quase a mesma coisa. Agora, desde as duas últimas eleições polarizadas, é que nasce nesse país uma preocupação em formar espectros políticos com base em ideias, tendo assim a esquerda, o centro, o centro-esquerda, o centro-direita e a direita, com divisões ainda como conservadores e liberais. Estamos engatinhando nesse processo e alguns partidos até se reformulam, assim como surgiu o Novo, por exemplo.
Antes disso, era tudo estatismo correndo. Esse estatismo só variava de grau, conforme a intensidade da defesa da visão socialista. Era tão sem sentido que até a social-democracia, na figura do PSDB, era tido como a “ultra-direita” brasileira. É para gargalhar. Sendo assim, a maioria dessas legendas nanicas simplesmente não se justificam, não representam ninguém. É uma imensa crise de representatividade.
Essas agremiações servem para fazer chapa, para contabilizar tempo de televisão, para pensar nos fundos que os deputados federais eleitos trazem para as siglas, enfim...servem para um monte de coisa. Porém, dentre as serventias é preciso excluir uma: elas não servem para discutir o país.
Agora, eu sou um defensor do sistema pluripartidário e de candidaturas avulsas. Porém, não faz sentido é a existência de diversos partidos cujos estatutos e visões de mundo pouco se diferenciam, que não possuem identidade e que são criados apenas ao sabor do jogo político para abrigar determinadas forças desse xadrez, como ocorreu com a fundação do PROS – por exemplo – lá na época de Dilma Rousseff (PT), como forma de esvaziar outros partidos e ampliar a base fiel ao petismo.
Chega a ser tão ridículo que o PROS apoiou o PT na campanha passada e, em Alagoas, era formado por pessoas mais à direita. Quer exemplo maior de falta de identidade do que esse? Por qual razão o eleitor tem que sustentar uma patacoada dessas?
Então, discordo de Arthur Lira. O parlamentar alagoano ainda fala que é “sem demagogia e sem falso moralismo” que se posiciona.
Com todo respeito à opinião do parlamentar e à divergência, mas vejo isso como um mero recurso retórico. Quer dizer que quem tem posição contrária a dele é demagogo e moralista? Não descarto a existência dos demagogos que votam no Congresso pensando apenas nos ventos da opinião pública sem que estas sejam suas convicções de fato. Mas, Lira usa uma retórica para o convencimento alheio que se apoia na generalização. Não é bem assim.
Existem sim fortes argumentos para ser contrário ao fundo partidário, ao fundo eleitoral e para se defender o financiamento privado de campanha. Sinceramente, creio que o brasileiro está cansado de bancar o banquete e ficar só com as migalhas.