A criação de um novo partido – o Aliança Pelo Brasil – anunciada pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) terá seus desdobramentos nos cenários regionais.

A questão é simples: 1) criar uma legenda demanda tempo e incertezas em função da burocracia e das decisões da Justiça; 2) Bolsonaro, em tese, não precisa ter tanta pressa, pois o pleito que ele mira se dá em 2022; 3) no entanto, há – nos diretórios locais do PSL – pré-candidatos que se encontram em uma encruzilhada: escolher entre permanecer onde se encontram para disputar as eleições ou hipotecar total apoio ao presidente da República.

Não há espaço para o meio termo. Cada vez mais, a questão é essa: ou se é Bolsonaro ou se é PSL. É mais fácil apoiar o presidente em outra sigla do que estando no próprio PSL.

Isso não quer dizer que muitos dos pré-candidatos do PSL não sejam de fato apoiadores do presidente, mas apenas que será difícil conciliar o uso da imagem de Bolsonaro, em suas candidaturas, com a permanência em uma sigla.

Afinal, a situação está posta de tal forma que a ruptura do presidente com o PSL praticamente faz uma divisão política que é lida entre os que o acompanharão e os que o abandonarão pelo caminho.

Independente de se gostar ou não de Bolsonaro, é inegável que ele tem um forte capital político e que é o principal cabo eleitoral de muitas candidaturas em 2020, na disputa por prefeituras e por cadeiras nas casas legislativas municipais. Será mais fácil alguém ter o apoio de Bolsonaro estando em qualquer outro partido já que o Aliança Pelo Brasil dificilmente se concretizará de forma tão simples e tão rápida, devido aos entraves com a Justiça.

Para quem tem mandato nos legislativos – federal ou estadual – há um componente compreensível: se deixarem a legenda agora correm o risco de perder seus mandatos. Todavia, isso não quer dizer que não traga também problemas quanto aos posicionamentos a serem tomados.

O deputado estadual cabo Bebeto (PSL), por exemplo, é cirúrgico. Em conversa comigo, ele se posicionou em uma única frase: “Eu fui, sou e serei fiel ao presidente Jair Bolsonaro”. Bem, para um bom entendedor meia palavra já é o suficiente.

Bebeto já havia – por sinal – claramente assumido um lado. Estrategicamente, ele está correto nisso: aguarda os desdobramentos para assim preservar o mandato. Mas, mesmo cauteloso não deixa de ter a coragem da posição assumida. É um ponto positivo do parlamentar para com seus eleitores.

Entre os apoiadores de Bolsonaro, conversei também com o empresário Leonardo Dias. Ele pretende ser candidato a vereador. Estava filiado ao PSL, mas já deixou a legenda. Dificilmente Dias – caso seja candidato – disputará eleições pelo Aliança pelo Brasil. Repito: acho muito difícil a sigla já está pronta para o ano de 2020.

Em todo caso, Dias acredita que Bolsonaro acertou ao buscar montar o novo partido. Ele coloca ainda que é preciso ter cuidado nas ocupações de espaços regionais para não repetir os conflitos que existiram dentro do PSL no passado, permanecendo um partido genuinamente conservador. Agora, qual partido abriria espaço para quem pensa assim, sabendo que o pré-candidato já demonstra o interesse de migrar para o Aliança Pelo Brasil caso eleito?

Tentei ouvir também o presidente do PSL, Flávio Moreno, sobre o assunto. Mas não obtive êxito. O espaço está aberto para que ele também possa expor a sua análise sobre a situação.

Reitero: não é fácil, pois há também nesse processo preocupações legítimas com a consolidação de vias que permitam êxitos eleitorais. É da política.