A América Latina é um continente cujos povos acumulam traumas desde os tempos mais remotos. Nos primórdios, houve sim uma colonização marcada pela violência e os graus se diferenciam conforme a localidade. Negar isso é bobagem.
Além disso, a chaga da escravidão – presente em vários cantos do globo – na América também se fez presente. Conhecer essa História é de suma importância para termos em nós o combate às injustiças e a construção da união.
No século passado, mais próximo ao nosso tempo, A América Latina conviveu com populismos, autoritarismos e supressões de liberdade...tudo isso oriundo dos mais diversos espectros políticos. Além, evidentemente, de ter se tornado um celeiro para o renascimento de ideologias seculares que deram errado em todos os locais onde foram testadas. “Os erros da Rússia se espalharão pelo mundo”, já diria o milagre.
No Brasil, por exemplo, a própria República nasce de um golpe de inspirações positivistas, mais tarde o desenvolvimentismo tomou conta do pensamento econômico do país junto com a influência cultural do marxismo e do gramscismo. O intelectual de esquerda Raymundo Faoro crava muito bem quando define o país como uma luta entre o estamento burocrático e o povo. Sim, estou elogiando um pensador de esquerda, pois acho que ele acertou, mesmo tendo divergências com sua posição política.
Ou seja: uma casta que se apossou do poder e usa do que é público como se privado fosse para subverter a democracia em interesses próprios, criando uma elite que decide tudo da forma mais burocrática possível, um conjunto de “amigos do rei” que se aproveitam desses laços para ter todas as benesses, como vimos no caso do clube das empreiteiras denunciado pela Operação Lava Jato. As raízes disso são muito antigas.
Da ilha Cuba – quando tomada pela ditadura de Fidel Castro – vimos surgir a OLAS, que tentou espalhar o modelo de revolução pelo restante do continente. No próprio Brasil, houve a guerrilha armada e virulenta que teve como resposta (e aqui desprezo os detalhes, mesmo eles sendo de extrema importância) o regime militar, que também teve seus erros ditatoriais e seu golpe. Ao longo da história, criamos inimigos imaginários como o antiamericanismo e – por ideologia – aprendemos a culpar os outros por nossas escolhas erradas.
O Brasil – um país continental – foi se tornando um anão diplomático nos últimos tempos. Suas potencialidades, por meio dos governos petistas em aliança com o Foro de São Paulo, serviu de cofre (como no caso dos empréstimos do BNDES) para financiar republiquetas ditatoriais como Cuba e a própria Venezuela.
Caro (a) leitor (a), aprender um pouco dessa História em detalhes é vital para entender os acontecimentos atuais. Indico aqui a obra de Carlos Rangel, republicada recentemente com o título Mitos e Falácias; o livro O Manual do Perfeito Idiota Latino Americano de vários autores, incluindo Álvaro Vargas Llosa; e, publicado atualmente, a obra O Embuste Populista de Glória Álvarez e Axel Kaiser. Além desses, O Continente da Esperança de Alejandro Pena e Conspiração de Portas Abertas de Paulo Diniz Zamboni. É urgente conhecer o que se passa, diante dos acontecimentos de agora, para não cairmos em cantos de sereia.
No Chile, as manifestações que já acarretaram em mortes, incêndios e ataques à fé de um povo não é uma mera insatisfação popular em relação a um governo. Existem os componentes de insatisfação, evidentemente, e um presidente acuado. Mas, os “protestos” foram sequestrados por ideólogos que possuem planos bem claros: o renascimento de uma esquerda associada ao Foro de São Paulo, que tem como parceiro as Farcs dentre outros criminosos.
Que o Chile tem seus problemas sociais – em que pese os números do crescimento econômico – é uma verdade. Porém, esses precisam ser resolvidos dentro da democracia real e não utilizando-se da palavra democracia como um fetiche em discursos que visam assumir o poder para ampliar a coerção estatal e difundir o ideário revolucionário.
Não por acaso, os protestos do Chile são vistos como modelos pela esquerda brasileira. O próprio ex-presidente condenado Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula (PT), quer – como dito por ele – transformar o Brasil em um Chile. As declarações de Lula são absurdas de tão incendiárias.
Ali está o Foro de São Paulo, que muitos ironizam, satirizam e até mesmo fingem não existir seja por má-fé ou ignorância. Vai saber! Mas não adianta negar os fatos. É só prestar atenção neles que a verdade se revela. E aí, vem a máxima de Groucho Marx: você vai acreditar em mim ou nos seus próprios olhos.
Os mais recentes ataques às igrejas e aos símbolos da fé cristã deixam bem claro o componente nessas ideologias e seu completo desprezo às ideias contrárias, à tolerância e à democracia de verdade.
Na Bolívia, a situação é diferente. No país, há apoiadores de Evo Morales (que renunciou à presidência diante das fraudes nas eleições) e há os opositores que foram às ruas. Morales se guia pelas ideias cujas consequências vemos na Venezuela do ditador Nícolas Maduro.
Morales tentou se perpetuar no poder fraudando a escolha popular. É regra. Quando essa gente não vence, imediatamente tiram da sacola a palavra “golpe”. Todavia, a instabilidade na Bolívia é sim perigosa. Os acontecimentos por lá precisam encontrar uma solução rápida por vias eleitorais, caso contrário pode abrir espaço para autoritarismo e populismo. Quanto mais rápido se resolver o problema, melhor.
Quanto à Argentina, houve uma troca de governo legítima – aparentemente – e a esquerda volta ao poder por decisão das urnas. É de se respeitar a democracia sempre. Agora, não se pode deixar de ficar apreensivo com as falas do presidente eleito Alberto Fernández. Se de fato Fernández adotar o controle de preços dentre outras medidas socialistas, o que é ruim pode piorar, sobretudo para o mais pobre, pois teremos mais inflação, instabilidade econômica e ampliação do poder coercitivo estatal. É justamente quando começa a morrer a liberdade individual.
O presidente Macri tem culpa nisso, pois não agiu de forma a realizar reformas liberalizantes no país. Ficou pelo meio do caminho.
O momento na América Latina é de tensão e de incertezas. Isso também afeta o Brasil. O atual governo brasileiro – que tem méritos e erros – tenta promover políticas de maior liberdade econômica, mas lida com um estamento burocrático que o ataca. Mas, não bastasse isso, promove muitas crises internas. O presidente Jair Bolsonaro não pode ser um incendiário. Por isso, acertou ao não entrar na pilha de Lula e – até para surpresa minha – foi mais comedido nas declarações. Afinal, poderia correr o risco de responder até mesmo por crime de responsabilidade caso mirasse no Supremo Tribunal Federal (STF).
Inserido nesse contexto, o Brasil precisa aprender a agir de forma cirúrgica, pois há reformas estruturantes que são necessárias, como foi a da Previdência e como precisa ser a tributária e a discussão sobre o pacto federativo. Quanto mais instável o momento, mais difícil aprová-la. Nesse ponto, temo o hospício que virou o PSL e o fato de muitos ditos direitistas serem meros oportunistas sem qualquer tipo de visão política.
O país ainda tem o desafio de passar para investidores confiança – como deu para sentir diante da queda do Risco Brasil – demonstrando segurança jurídica. Isso não depende apenas do presidente. É terrível – independente do mérito da decisão – quando tempos uma Suprema Corte que muda de entendimento sobre pontos da Constituição de forma tão célere, como ocorreu no caso da prisão em segunda instância. Vejam que isso refletiu no dólar e na bolsa de Valores. Engana-se quem acha que isso só afeta os mais ricos.
Torço para que os países aqui citados encontrem seus rumos para terem prosperidade e paz. É a minha torcida – como cidadão – pelo meu país também. Determinados solavancos na América Latina parecem nos condenar o tempo todo ao subdesenvolvimento, mesmo diante das potencialidades que esse continente possui.