Muito dificilmente haverá uma recomposição entre as “partes” do PSL. A crise que envolveu a Executiva nacional do partido faz com que cada um dos envolvidos apresentem versões que se confrontam e estão repletas de acusações. São muitas feridas abertas para se curar ou cicatrizar tão rápido.
As declarações são cada vez mais incisivas, apontando traidores e acusações contra o presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), que chegou a ser chamado de “vagabundo” pelo deputado federal e líder da sigla na Câmara dos Deputados, delegado Waldir. O que se esperava da oposição veio de dentro de casa. Se um líder do partido chega a esse ponto, é óbvio: ele não pode ser mais líder.
Os reflexos serão muitos e inesperados.
Todavia, como já disse em outros textos, haverá sim impacto no cenário eleitoral de 2020 entre os pré-candidatos do PSL. Afinal, o maior “cabo eleitoral” desses ainda é o presidente Bolsonaro. É válido lembrar que, apesar das crises e do ranço ideológico por parte da imprensa, o governo federal tem sim dados positivos a serem explorados em um pleito eleitoral, como – por exemplo – os dados macroeconômicos e a redução da criminalidade em todo o país.
Por sinal, os escândalos de agora – por mais que estampem manchetes – estão longe de serem os mensalões e os petrolões da vida. Quem tiver olhos, que veja. É só aplicar sobre os fatos o chamado senso de proporcionalidade. Isso não quer dizer que a direita não deva ser criticada. Deve sim. A crise provocada no PSL atrapalha a agenda de país e a culpa é de parcela da direita que acaba sendo sua pior oposição, sem necessitar da ajuda de PT, PCdoB, PSOL etc.
Em alguns momentos, o próprio Bolsonaro pode ser responsabilizado pelas polêmicas vazias que levanta e acabam sendo jogadas no holofote como se fossem o mais importante do governo, quando não é.
Diante disso, como uma eleição bate à porta, as executivas estaduais do partido buscam o impossível: o melhor dos dois mundos. Manter a legenda preservada das discussões nacionais e ainda assim se apoiar na imagem do presidente Bolsonaro. Não é um cálculo fácil. A meu ver, é o que busca fazer o dirigente partidário Flávio Moreno em Alagoas.
Moreno foi candidato ao Senado Federal no ano passado. Em 2020, terá – como já tem - pretensões de disputar um dos cargos em jogo. É legítimo.
Ao comentar os episódios recentes envolvendo o PSL, Moreno se coloca como um defensor de Bolsonaro e insiste no discurso de “união”. Para ele, a disputa interna é um risco para a ascensão da esquerda e o “travamento de importantes pautas legislativas”. Na prática, se posiciona de forma a estar dos dois lados, ainda que não queira.
O erro do dirigente estadual é acreditar – se é que acredita de fato! - que o partido precisa apenas de ajustes. Não! O PSL precisa é ser passado a limpo. Bolsonaro cobrou maior transparência da legenda em relação a aplicação de recursos, ficou claro que há sim uma disputa em quando a perspectiva do Fundo Eleitoral, que não há agenda programática acima de alguns interesses pessoais, foca o caso dos laranjas que envolvem – nas investigações – o deputado federal Luciano Bivar.
Esse “passar a limpo” trará mais coisas para a luz do sol...
Isso não são meros “ajustes”. Quem votou em Bolsonaro – e de fato se posiciona contra a roubalheira que tomou conta do país no passado, dentro de um esquema de corrupção monstruoso que tomou conta do poder – cobra que esses pontos sejam esclarecidos. O presidente não esconde sua irritação com a legenda, com Bivar em especial, e o desejo de uma nova sigla, seja outro partido ou o próprio PSL. Em outras palavras, há sim a possibilidade do presidente mudar de legenda e com isso a divisão se ampliar.
Isso não são ajustes, repito.
Não se resolve com o discurso de “unir a direita”. Não dá para apagar o que já foi dito e discutido. Flávio Moreno afirma que continuará no PSL. Está certo, por enquanto. Afinal, não se toma decisões de forma precipitada sem o total conhecimento dos fatos. O próprio presidente Bolsonaro segue na sigla.
Todavia, no ritmo dos acontecimentos, ele vai se deparar com uma encruzilhada que lhe cobrará optar por um lado, mesmo o PSL de Alagoas estando distante da crise nacional.
Moreno diz que a sigla – no Estado – não recebeu fundo partidário, a maior parte do trabalho tem sido voluntário. Destaca a formação dos diretórios municipais e dos pré-candidatos. De acordo com ele, são 21 candidaturas às prefeituras e 400 às câmaras municipais.
Um ponto positivo do discurso de Moreno é também exigir transparência. “De 7 contas pendentes deixadas por administrações anteriores do PSL já resolvi 5. Tudo isso, sem verba partidária. Já visitei todas regiões do Estado em defesa de Bolsonaro. Todos queremos transparência”.
Mas, falta responder – e uma hora terá que fazer isso – a uma pergunta básica: em sua visão, quem tem razão: o lado de Bivar ou o de Bolsonaro? É para essa resposta que todos os que estão no PSL vão sendo empurrados, sem espaço para o meio-termo. A posição adotada refletirá no processo eleitoral de todo o país. Não se duvide disso.
É por essa razão que disse que o deputado estadual Cabo Bebeto foi muito mais certeiro ao afirmar sua posição.
Por enquanto, diz Moreno que: “Bolsonaro e seus filhos continuam no PSL. Ele já disse que continua no partido. Precisamos frear os ânimos. O Brasil não pode parar por conta dessa disputa. O PSL é o partido que garante 98% dos votos ao presidente nas votações no Congresso, o partido mais leal e fiel em âmbito nacional e nos Estados. Disputas existirão. O povo precisa frear na litigância. Leis precisam ser aprovadas, projetos precisam avançar, tanta coisa boa ocorrendo, mais de 157 mil empregos criados em setembro, décimo terceiro do Bolsa Família sendo pago em dezembro, nova previdência sendo aprovada, menor taxa de juros da história, redução da criminalidade, etc”.
E complementa: “Sou favorável à harmonia e os ajustes necessários no PSL. Meus inimigos são a esquerda. E acredito que ocorrerá harmonia, entre os aliados de sempre. Nossa guerra é contra a esquerda e os corruptos de sempre que estão rindo, junto com centrão dessa discórdia. Inclusive já dei minha humilde sugestão ao Presidente Bolsonaro e ao presidente nacional do partido, das ações necessárias. Continuo sendo defensor incondicional da minha instituição PF e do Governo Bolsonaro. Trabalho para construir a direita, a defesa do Governo Bolsonaro, o PSL e não destruir. Não sou defensor por ocasião do Bolsonaro, o faço diariamente”.
Eu desconfio que a harmonia que Moreno defende não chegará tão cedo…