O discurso do presidente Jair Bolsonaro (PSL) na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) não trouxe novidades para quem já acompanha a agenda do governo. É óbvio que – como em todo governo – é preciso que existam críticas e vigilâncias e este também já cometeu alguns equívocos, como nos discursos desencontrados em relação a criação de um novo imposto nos moldes da CPMF, nas polêmicas vazias por frases do próprio presidente e pela falta de tato de Bolsonaro em algumas discussões, como quando respondeu ao presidente da França, Emmanuel Macron de forma tosca. O cargo exige saber agir.

Naquele episódio, com um pouco mais de compostura, Bolsonaro teria dado a resposta adequada falando apenas da soberania, dos dados da Amazônia em quadro comparativo com a Europa e partiria para as ações que o governo só tomou posteriormente em relação às queimadas. O presidente acabou por jogar querosene na fogueira política e tensionou ainda mais a corda, dando aos adversários as pedras que eles queriam, quando qualquer pauta adversa ao governo é abraçada pelo progressismo.

Episódios assim são lamentáveis e o presidente precisa entender que não é mais um deputado estadual e que suas falas possuem mais peso. Nem tudo se resume a “mitadas”.

No entanto, na ONU, o presidente – em diversos momentos de seu discurso – soube dar o recado. Bolsonaro criticou o estatismo oriundo das ideias socialistas e pontuou a necessidade da maior liberdade econômica no país, desburocratizando setores, trabalhando com concessões e privatizações, reduzindo impostos para que o Estado consiga focar em serviços essenciais à população.

Quem acompanha meu blog sabe que há muito defendo esse caminho para o país. Escrevo textos sobre isso antes mesmo de surgir a candidatura de Bolsonaro.

De fato, a maioria dos indicadores macroeconômicos do Brasil estão melhorando, como, por exemplo, a menor taxa de juros da História. A tendência é isso refletir no micro, como já vem ocorrendo – ainda que timidamente – com a abertura de postos de trabalho.

A legislação da Liberdade Econômica – já sancionada – é um passo importante nesse sentido. O estatismo e o chamado socialismo do século XXI é o que se observa na Venezuela e na situação lamentável que aquele povo enfrenta diante do regime ditatorial de Nícolas Maduro, apoiado pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e outras siglas mais vermelhinhas.

Todavia, é de responsabilidade do Executivo buscar também – apesar dos impasses com o Legislativo nacional – buscar celeridade na aprovação das reformas estruturantes. Não se trata apenas da Previdência. É um absurdo que se tenha demorado um ano para aprovar essa, diante da situação calamitosa não só do país, mas de estados e municípios.

É preciso correr com a reforma tributária e com uma revisão do pacto federativo que passe realmente a fazer valer um mantra já dito pelo presidente: “Menos Brasília e Mais Brasil”. Facilitar as relações de trabalho em um ambiente de maior produtividade e com mais liberdade é o que gera riqueza, renda, empregos e abre portas para o empreendedorismo. O Brasil possui esse potencial e é preciso trabalhar para que ele aconteça.

As relações do Brasil – no passado recente – com seus parceiros ideológicos também foram expostas por Bolsonaro. De fato, elas existiram e o dinheiro do brasileiro acabou financiando republiquetas alinhadas, como Venezuela e Cuba. Casos que ainda precisam ser melhor explicados, pois se trata de dinheiro público, como nos empréstimos via BNDES. O Brasil sofre as consequências também do regime venezuelano e o presidente destacou isso: “O Brasil também sente os impactos da ditadura venezuelana. Dos mais de 4 milhões que fugiram do país, uma parte migrou para o Brasil, fugindo da fome e da violência. Temos feito a nossa parte para ajudá-los, através da Operação Acolhida, realizada pelo Exército Brasileiro e elogiada mundialmente”.

Em relação à Amazônia, que é o assunto de plantão desde a repercussão das queimadas, o governo federal precisa fazer um mea-culpa: demorou a agir in loco. Hoje, a presença das Forças Armadas tem resultado na prisão de criminosos ambientais e multas, pois o assunto é sim grave e precisa ser discutido com seriedade. Claro que a oposição capitaliza isso e cria um apocalipse em cada esquina, mas é dever do governo preservar o meio ambiente, não permitir o desmatamento e a exploração ilegal e punir com severidade os criminosos.

O governo federal – antes de cair na discussão que o tema tomou – deveria ter partido pra cima do problema com mais eficácia ao mesmo tempo em que apresentava suas posições. Agora, o presidente acerta quando fala em soberania ao tratar do assunto. Os interesses internacionais em relação à Amazônia não se de anjos de candura que apenas querem proteger o meio ambiente de um vilão que eles elegeram.

Somos um dos países que mais preserva até mesmo por conta da extensão da área. Temos uma Europa Ocidental preservada. O governo deve e pode assumir maiores missões nesse sentido em busca do desenvolvimento sustentável, sem os exageros dos discursos ideológicos, sem desprezar os dados científicos e com foco no futuro.

Do discurso de Bolsonaro, destaco ainda a preocupação demonstrada pelo presidente com a liberdade econômica e a liberdade política. Espero que tudo isso se concretize na prática, abrindo – como posto pelo chefe do Executivo - a economia para que nos integremos às cadeias globais de valor, fazendo valer na prática acordos de livre comércio, seja de forma multilateral ou bilateral, mas sem oferecer a soberania em troca, que é o que diferencia globalização e globalismo.

A adesão à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que se encontra engatilhada, é um passo importante nesse sentido.

Quando à liberdade política, defendo e sempre defenderei que aqueles que pensam diferente de mim tenham espaço na discussão pública. Que suas ideias sejam rebatidas, nunca censuradas.

De forma indireta, Bolsonaro criticou Macron. Desta feita, o fez de forma correta. Mas diante do que já havia sido dito, acaba por rememorar toda a polêmica.

Por fim, na questão indígena: é preciso respeitar esses povos, mas não tratá-los como se estivessem em um zoológico. A integração com respeito, solidariedade e compreensão dos direitos é de fundamental importância. Essas populações precisam de maior atenção, pois muitos estão isolados e necessitam de serviços básicos que o Estado pode fazer chegar. Quem sabe potencializar a forma como eles podem desenvolver riquezas nas próprias regiões que são ricas por natureza. Há caminhos para isso.

Muitas vezes, esses povos são explorados e possuem suas riquezas roubadas por pessoas que os usam como massa de manobra.

Do ponto de vista político, o presidente acertou ainda ao falar dos indicadores da segurança pública. Qual governo não buscaria colher os louros da redução de indicadores que afetam cotidianamente todos os brasileiros? Aqui em Alagoas – por exemplo – o governador Renan Filho (MDB), de forma acertada politicamente, também trabalha com esses números que são positivos em sua gestão. A criminalidade no Brasil chegou a patamares insuportáveis. Nesse quesito, Bolsonaro está tão certo quanto Renan Filho. É óbvio que ainda há muito por fazer…

Nacionalmente, transferências de presos para isolar os comandos de facções, apreensões de grandes quantidade de drogas, dentre outras ações são pontos positivos que devem ser reconhecidos.

Agora, o governo federal tem problemas sim! Há radicalismos impulsionados em determinados setores que enxergam qualquer crítica como posição adversária, há problemas envolvendo o PSL e o senador Flávio Bolsonaro – que precisa explicar as situações envolvendo o seu nome – que acabam atrapalhado o governo, os supostos laranjas do PSL precisam sim ser investigados, o governo ainda se comunica muito mal, dentre outros pontos que já critiquei aqui. Há governo, nossa função é sermos vigilantes. Nós somos patrões, eles são os empregados. Que Bolsonaro seja cobrado sempre por suas palavras.