O senador Rodrigo Cunha (PSDB) – em um evento em Arapiraca – disse assegurar que o PSDB terá participação decisiva nas eleições de 2020 tanto em Maceió quanto em Arapiraca. O problema é que Cunha – mesmo tendo assumido a condição de dirigente máximo do partido em Alagoas – lida com o “ninho tucano” que não se renovou e fez questão de se enterrar no processo eleitoral passado, o que faz com que acumule sequelas.

O prefeito de Maceió, Rui Palmeira (PSDB), que era a maior “estrela” da legenda e com capacidade de liderar uma oposição em relação ao MDB do senador Renan Calheiros e do governador Renan Filho (MDB), não soube ocupar o lugar que tinha no xadrez político.

Repito o que já disse em outros textos: o erro de Rui Palmeira não foi não ter sido candidato ao governo, mas simplesmente o de manter o silêncio até a última hora, e ao anunciar sua desistência nas redes sociais desarticulou o grupo.

Maurício Quintella – que então estava ao lado dos tucanos – acabou se aliando ao MDB, disputou o Senado Federal, perdeu e hoje é secretário de Infraestrutura na gestão de Renan Filho. Rui Palmeira também perdeu o PDT. O grupo ficou desnorteado e sem candidato.

A aposta inicial foi a candidatura do senador Fernando Collor de Mello (PROS) ao governo em 2018. Articulada pelo PP do deputado federal Arthur Lira e pelo ex-senador Benedito de Lira (PP), essa não se sustentou. Coube ao PROS – na época liderado pelo deputado estadual Bruno Toledo – buscar um candidato tampão: o ex-superintendente da Polícia Federal, José Pinto de Luna.

No final das contas, a oposição apenas cumpriu tabela e o PSDB acabou sendo mero coadjuvante nesse processo após brigas internas por não terem engolido muito bem o nome de Collor. Eis um dos motivos para a desistência do senador.

Rodrigo Cunha foi um lobo solitário nesse processo e quis se afastar até da própria chapa a qual fazia parte por conta da presença de Benedito de Lira. Hoje, Cunha é o nome mais importante do PSDB pela posição que ocupa pela sua capilaridade eleitoral. Porém, nunca foi um articulador da legenda.

Resumido ao papel de coadjuvante, o PSDB não tem nomes para a sucessão de Rui Palmeira, tendo que recorrer ao secretário municipal Eduardo Canuto, ao presidente da Câmara Municipal, Kelmann Vieira ou a deputada federal Tereza Nelma.

Ainda assim, dentro do grupo político ao qual faz parte, há outros partidos que também almejam disputar a majoritária na capital alagoana. Entre eles, o PP do vice-prefeito Marcelo Palmeira e do deputado estadual Davi Davino.

Não por acaso, os nomes do PSDB não emplacam nas recentes pesquisas eleitorais. É um dado concreto com o qual o “ninho tucano” tem que lidar. Se um dia o PSDB teve tempos áureos em Alagoas, hoje é uma legenda resumida a velhos nomes e sem qualquer perspectiva de crescimento em Maceió.

O desafio para Rodrigo Cunha é grande. Além disso, há a própria aproximação entre Cunha e o deputado federal João Henrique Caldas, o JHC (PSB). O deputado deseja concorrer à Prefeitura de Maceió e Cunha pode ser uma porta de diálogo com os tucanos, mesmo sabendo que JHC e Rui Palmeira não se bicam.

O fato é que Rodrigo Cunha tem o capital político que tem por conta dele mesmo. É um estranho no ninho em seu próprio núcleo político, como se viu nas eleições passadas. O discurso de Cunha é apenas para consumo interno, pois – muito provavelmente – nem o próprio senador acredita nele. O PSDB dificilmente será competitivo em Maceió.

A situação é um pouco diferente em Arapiraca. Em que pese sofrer junto à opinião pública, Rogério Teófilo – o atual prefeito – é uma liderança local. Está com dificuldades para aglutinar forças políticas, mas diferente de Rui Palmeira, ele parte para uma reeleição e já está credenciado para ela.

Por lá, Cunha pode ter um papel de elo para unir forças políticas que atualmente se afastam de Teófilo em função da sua administração. Terá pouco menos de dois anos para isso. É tempo suficiente. Na realidade, quando deram o comando do PSDB para o senador Rodrigo Cunha, entregaram a ele um abacaxi e nada além disso…

O discurso do senador tucano parece muito mais o de um coach motivacional da turma do que de um leitor da realidade que o cerca! Simples assim. O partido de Cunha é especialista em ser atropelado pela História.