O colega de Portal CadaMinuto, Marcelo Bastos – que é um profundo conhecedor dos números das eleições em Alagoas, com obra interessantíssima sobre o assunto – levanta um questionamento em relação à presença feminina no pleito de 2020. Ao citar os nomes da ex-senadora e ex-vereadora Heloísa Helena (Rede), a deputada federal Tereza Nelma (PSDB) e a deputada estadual Jó Pereira (MDB), Bastos indaga: por que não elas?

Bem, a resposta vai além da discussão sobre a participação feminina e passa também pelo xadrez político. Das citadas, apenas Heloísa Helena não é detentora de mandato. Não sei, portanto, se tem a pretensão eleitoral para disputar uma majoritária em Maceió. Agora, sem dúvidas é o nome – em Alagoas – de maior capilaridade da Rede. De fato, teria um impacto no processo eleitoral que é difícil de calcular nos dias de hoje.

Heloísa Helena conseguiu – após sair do Senado por conta da disputa pela presidência da República – uma eleição histórica para a Câmara de Maceió, mas amargou derrota ao tentar retornar para Brasília. São desgastes que se acumulam. Além disso, há – no cenário – uma polarização que coloca o combate esquerda e direita em cena. O que se viu em 2018 – na disputa presidencial – deve gerar seus reflexos na eleição local. Heloísa Helena, por seu histórico na esquerda, mesmo já tendo criticado a própria esquerda, também lidaria com isso, além das condições de viabilizar uma majoritária com chances, o que inclui a construção de grupo.

Em todo caso, dos nomes citados, é o único que – em tese – dependeria apenas de si mesmo, diante da expressividade que possui dentro do partido.

Dos nomes colocados por Marcelo Bastos, o que mais chama atenção é o de Jó Pereira. A deputada estadual, de fato, tem conseguido um protagonismo dentro do parlamento estadual. Na maioria das vezes, esse destaque surge justamente de Pereira confrontar o governo de Renan Filho (MDB) em algumas áreas, como no caso do Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza, nas pautas da Educação, na cobrança em relação às políticas públicas da Agricultura, entre outras, onde seu comportamento é mais de oposição que de situação.

O problema é que Pereira pertence a um grupo. Este é liderado pelo ex-deputado estadual Joãozinho Pereira. Ele dificilmente deixaria a deputada estadual romper de vez para andar pela avenida que lhe colocaria na disputa de uma majoritária, pois tal grupo tem espaços dentro do Palácio República dos Palmares e a palavra final do MDB fica nas mãos do senador Renan Calheiros e do governador Renan Filho. O nome de Jó Pereira não me parece ser prioridade.

Pereira – se tiver essa pretensão – tem que ter outra legenda nas mãos e começar a articular essa candidatura desde já, contando com o aval da família. A mesma situação se dará se – em 2022 – Jó Pereira mirar no Senado Federal ou no Executivo estadual, pois nos caminhos que traça também são duas possibilidades que se abrem. Sem isso, no máximo, a deputada estadual vai conseguir – na correlação de forças – a chance de disputar uma das cadeiras da Câmara de Deputados.

Agora, uma coisa é fato em relação à deputada estadual: quanto mais ela se destaca – independente do mérito das pautas – mais a Assembleia Legislativa do Estado de Alagoas fica pequena para ela. Pereira já incomodou até o deputado estadual Olavo Calheiros (MDB). Isso é um sinal de que incomoda os palacianos. Agora, diferente de Heloísa Helena, Jó Pereira é uma esquerda que não carrega o ranço de esquerda, mas em seu pensamento estão todas as pautas vermelhas que polarizaram o país. Isso, inclusive, se faz presente nas recentes discussões que ela trava. Numa polarização, ela também sofreria as consequências.

Em todo caso, Jó Pereira não depende só dela para ser candidata. Nem partido tem, por mais que consiga ter a projeção que lhe permita essa candidatura. Renan Calheiros e Renan Filho – é válido lembrar – não são conhecidos por deixarem novas lideranças crescerem. Pereira teria mais futuro fora do MDB do que dentro dele. Mas até isso – aposto! - é uma decisão que não depende dela. No entanto, é sim uma liderança que se destacou e vem se destacando para além das fronteiras de seu reduto eleitoral.

Jó Pereira – em algum momento – vai se deparar com uma encruzilhada: crescer ainda mais ou aceitar as determinações do grupo ao qual faz parte. A escolha pode lhe condenar a uma vida política eterna de deputada estadual ou prefeita de um dos municípios da região onde tem mais votos. Simples assim.

Os palacianos possuem alternativas, como por exemplo (segundo bastidores), uma aproximação com o procurador-geral de Justiça, Alfredo Gaspar de Mendonça, podendo – a depender dos diálogos – ser ele o candidato. Gaspar de Mendonça diz que não pensa nisso e que seu foco tem sido o Ministério Público Estadual.

Por fim, Marcelo Bastos cita Tereza Nelma (PSDB). O problema é o “ninho tucano”. O PSDB fez questão – com a mal exercida liderança do prefeito Rui Palmeira – de se tornar o coveiro da própria legenda em Alagoas. O senador Rodrigo Cunha (PSDB), que hoje é a maior expressão do partido, se caracteriza por ser quase um “lobo solitário”. Rui Palmeira – ao deixar para última hora a decisão de que não seria candidato ao governo, no ano passado – desmobilizou a oposição, que teve como principal articulador o deputado federal Arthur Lira (PP).

Diante disso, o PSDB não consegue apresentar quadros competitivos, apesar de afirmar que vai ter candidato no futuro pleito. Os nomes que são cogitados passam pelo secretário municipal Eduardo Canuto e o presidente da Câmara de Maceió, Kelmann Vieira. Nelma é até uma das forças da legenda, pois ocupa uma posição na Câmara de Deputados. Porém, está longe de ser a primeira da lista. Os tucanos terão que conversar com a base de apoio, que engloba outros partidos que possuem pré-candidatos. No PP, por exemplo, o vice-prefeito Marcelo Palmeira e o deputado estadual Davi Davino possuem interesse na disputa.

O PSDB terá que se reinventar e não apenas em Maceió. Em Arapiraca também, já que o prefeito Rogério Teófilo (PSDB) não vive um bom momento.

Dos nomes citados, o de Jó Pereira é o que tem maior expressividade atualmente. Todavia, no xadrez alagoano – dominado do jeito que é – isso não quer dizer muita coisa...