Na semana passada, publiquei nesse blog um trecho de uma conversa que o senador Rodrigo Cunha (PSDB) teve com jornalistas alagoanos. Frisei que traria – diante do volume de temas – outro texto sobre o assunto. Eis que faço isso nessa segunda-feira, dia 05. Cunha fez uma avaliação do próprio mandato e disse que se encontra em Brasília (DF) como um “fiscalizador” e evita se colocar como “situação” ou “oposição” em relação ao governo federal do presidente Jair Bolsonaro (PSL). “Analisarei temas e propostas caso a caso”, explica.
“Minha missão é buscar estar comprometido para fazer o melhor. Eu não quero errar, mas quando errar buscar consertar os erros. Cheguei lá por meio do voto de pessoas que buscavam a diferença. Então, mergulhei em Brasília para saber onde estou pisando. Assim foram os seis primeiros meses. Não quero deixar que ninguém me coloque no bolso e sei que temos um longo percurso de aprendizado pela frente”, avaliou o senador.
Para o senador alagoano isso envolve “gastar energias” em pautas que realmente importem, como a busca por recursos que possam ajudar o Estado de Alagoas. Uma de suas declarações – nesse sentido – soa como uma alfinetada no senador Renan Calheiros (MDB), que tem usado as redes sociais sempre para criticar as falas do presidente Jair Bolsonaro.
“Somos citados o tempo todo, cobrando posição sobre as falas do presidente. Eu prefiro criar uma central de capacitação, um corpo técnico bom no gabinete, para estarmos por dentro de ações e saber onde estão os recursos. Ou gasto minha energia com isso ou fico preso nessas pautas ideológicas. Vamos separar a pessoa do presidente do seu governo, pois até para julgar algumas coisas é necessário tempo e eu estou acompanhando as ações governamentais de perto. Eu não vou ser um comentarista das declarações do presidente. Não quero ser o comentarista do twitter do presidente. Eu prefiro trabalhar por Alagoas”, diz.
E complementa: “Claro, eu não vou deixar de dizer o que eu penso sobre determinados assuntos que o presidente fala quando eu for procurado, questionado. Mas, hoje é difícil você conseguir até mesmo expor um pensamento nas redes sociais diante desse ambiente polarizado”.
Questionado sobre uma avaliação do governo, Rodrigo Cunha foi mais genérico: “Há erros e acertos. Confesso que algumas situações e declarações em incomodam, como nesse episódio envolvendo o presidente da OAB, pois se perde uma semana com uma discussão que não dá em nada e o próprio presidente acaba atrapalhando e tirando a atenção do que de bom existe no governo”.
Cunha disse que “não quer ficar apenas conhecido pelo discurso, mas também pelo trabalho técnico” no exercício do mandato. “Há quem diga por aí que serei um senador que não trará recursos para Alagoas. Isso é uma mentira. No primeiro ano, cheguei com o orçamento já definido, mas tenho buscado um papel de fiscalizador e de cobranças para – como no caso das creches paralisadas em Alagoas – tenhamos soluções efetivas. Inclusive, vou brigar por muita coisa nas emendas impositivas”.
O senador defende uma maior integração da bancada alagoana – que supere as questões partidárias e ideológicas – para o melhor proveito de emendas. “Eu creio que a bancada federal deveria se reunir para traçar cinco eixos para aplicação de recursos. Defendo que um deles seja a questão das creches”, explicou. Segundo Cunha, a bancada se reuniu pouco no primeiro semestre. Ele pontou duas reuniões, mas mesmo assim sem a presença dos outros dois senadores: Fernando Collor de Mello (PROS) e Renan Calheiros.
Pinheiro
Para o senador alagoano, uma das vitórias conquistadas nesses seis meses é o seu papel em uma das comissões – a de Transparência. “É justamente um dos pontos centrais do meu mandato, que é a fiscalização da aplicação dos recursos públicos e das ações do poder Executivo”. Cunha destacou que o espaço conquistado permitiu – por exemplo – sua atuação no caso do bairro do Pinheiro, quando chamou a audiência pública que, em sua visão, serviu para a maior integração dos órgãos municipais e federais.
“Realizei a audiência para que os órgãos responsáveis sentassem na mesma mesa e compartilhassem das mesmas informações, na busca de soluções, pois era o que não vinha acontecendo. Isso facilitou as coisas depois disso. Não precisa mais ficar passando a informação por várias pessoas, se ganha celeridade para resolver os problemas, pois se torna público o conhecimento. Houve ali o diálogo e a articulação política para trazer resultados”, explana o tucano.
De acordo com ele, a partir da audiência se teve um “núcleo” de ação. “Isso é a história de buscar fiscalização e atuação, como teremos agora no segundo semestre, quando já aprovamos a convocação do ministro do Turismo para se explicar no caso em que há a acusação de utilização de laranjas para a eleição. É dinheiro público – pois envolve o fundo eleitoral – e a comissão está lá para isso. Ouviremos também o ministro Ricardo Salles sobre a questão envolvendo o Fundo da Amazônia”, frisou.
Previdência
O senador se mostrou favorável à Reforma da Previdência. “Serei responsável para estudar com profundidade o tema quando ele chegar ao Senado Federal. Mas é necessária a Reforma. É necessário fazer ajustes na Previdência, podendo haver mudanças em pontos negativos do projeto. Precisamos combater os privilégios, pois é algo que eu sempre atuei contra. Eu mesmo abri mão da minha aposentadoria especial para poder falar sobre isso. Agora, não sofro pressão de qualquer corporação e pretendo estar ao lado do país nesse tema. O Senado tem que debater o assunto para aprovar, não podendo apenas carimbar o que vem da Câmara, pois é – nesse caso – uma Casa revisora e assim deve se comportar”.
Para Cunha, o segundo semestre também tem um tema de relevância que merece ser trabalhado de forma séria: a Reforma Tributária. “Há uma ideia de uma comissão especial envolvendo Senado e Câmara, nesse caso. A discussão tem que ser sadia e acho que deve pegar o embalo da aprovação da Previdência para ter celeridade, assim como a discussão da revisão do pacto federativo na busca por repassar recursos de forma mais direta para os municípios.
Ao comentar sobre sua relação com os outros dois senadores alagoanos, Rodrigo Cunha foi enfático: “Não tenho compromisso com eles”. Para o senador tucano, a relação é formal e na busca pelo que for melhor para Alagoas, não entrando em espaços de compromissos políticos, pois há uma divergência extrema de visões de mundo.
Por fim, o senador reclamou do ambiente de polarização. “Eu fui contra a questão das armas, por exemplo. Fui muito atacado por isso e posto como opositor. Se for favorável à Reforma da Previdência, vão dizer que eu virei governo? O que tem que ser dito é que eu analiso caso a caso. Meu compromisso é analisar caso a caso e me posicionar conforme as minhas convicções, sem sofrer pressão de qualquer um dos lados. Não gasto energias com discursos ideológicos”, encerrou.