No início dessa semana, a Gazetaweb fez uma reportagem – assinada por Marcelo Amorim – que mostra, de forma surpreendente, que o governo do Estado de Alagoas abandonou uma obra que, ainda conforme a matéria, custou R$ 600 mil aos cofres públicos. A matéria jornalística merece todos os elogios.

As imagens presentes na reportagem revelam o retrato do descaso e cobram explicações do governador Renan Filho (MDB). O motivo é simples: não se brinca com o dinheiro público. Pois, nada é gratuito no Estado. Tudo é pago com impostos. E nesse país, o contribuinte é massacrado por uma alta carga tributária. Em contrapartida, não observa os serviços essenciais sendo prestados a altura.

Por essa razão, aqui também cabe uma reflexão global: a redução do poder coercitivo do Estado para que se tenha menos impostos sendo pagos. Isso ajuda a ampliar as ações do setor produtivo e fazer o Estado passar a arrecadar mais na base. Com seu poder de ação reduzido, deixa de ser empresário ou “babá” para de fato se concentrar em serviços essenciais. Razão pela qual o liberalismo econômico é sempre a saída e não o estatismo.

Dito isso, o caso concreto: a reforma e ampliação do Hemocentro Regional de Arapiraca (Hemoal) contou com investimentos do Estado, mas depois teve o projeto abandonado. As obras – que foram iniciadas em 2016 – hoje são apenas um esqueleto que acumula entulho e lixo.

A Secretaria de Estado de Saúde confirma a desistência do projeto. Mas, ao que tudo indica, fica por isso mesmo. Dinheiro público que foi perdido. E a população só soube da resposta do governo Renan Filho – se é que se pode chamar de resposta! - por conta de um requerimento feito por uma vereadora de Arapiraca: Aurélia Fernandes (PSB).

É justamente essa nota que chama a atenção e que merecia questionamentos mais duros por parte da oposição no Estado de Alagoas. O caso deveria ser discutido pelos nobres deputados estaduais de oposição de Alagoas, pois – em tese – o parlamento tem justamente um papel fiscalizador.

Na legislatura passada, por exemplo, o deputado estadual Bruno Toledo (PROS) já demonstrava uma preocupação com as obras da Saúde, que focavam em prédios públicos, mas o Executivo não apresentava um planejamento para gerir. Algumas dessas ações contam com o financiamento oriundo do Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza (Fecoep) em Alagoas, que abraça vários projetos que apontam para um desvio de finalidade. E isso acontece pela ausência de um Plano Estadual para o Fecoep. Assunto que atualmente é cobrado por uma deputada do MDB, mesmo partido de Renan Filho, que é Jó Pereira.

Não digo aqui que seja a origem dos recursos das obras do Hemoal de Arapiraca. Não sei! Mas pontuo isso para mostrar que este problema singular pode ser fruto de uma pasta que não consegue ter planejamento no médio e longo prazo. Se assim for, estamos diante de algo que pode estourar no colo do próximo governador seja ele de qual partido for.

Não bastasse isso, a Secretaria tem que ir além da nota que divulgou e se explicar em detalhes. Responder, por exemplo, se os recursos estão mesmo perdidos? Se o que foi feito não vai mais servir para nada? E por quais razões não foi detectado antes que tal investimento não atenderia a demanda, ora bolas… Fica parecendo que tudo foi feito sem um efetivo estudo de impacto.

Todos nós pagamos por isso.

A Secretaria de Saúde diz que “após ampliar de 40 para 120 o número de leitos do Hospital de Emergência do Agreste, constatou-se que haveria um aumento na demanda de transfusões, necessitando, desse modo, ampliar em 100% a área do Hemocentro de Alagoas, Unidade Arapiraca, e não apenas 40%, como previa o projeto arquitetônico anterior”.

Então, quer dizer que só depois das obras iniciadas a Secretaria conseguiu dimensionar uma necessidade óbvia: se eu passo a atender a mais pessoas (o que é bom) eu preciso de uma estrutura que atenda mais pessoas. Ora, é uma tautologia visível que deveria caber em um planejamento sério.

Qualquer gestor – em uma empresa privada – seria sumariamente demitido diante de tal coisa. Afinal, pensar em uma ampliação de rede requer bem mais do que simplesmente um novo prédio físico, seja por reforma ou construído a partir do zero.

Mas a nota segue: “Como o terreno da sede atual não comporta o novo projeto de expansão, que contará, inclusive, com um Ambulatório de Hematologia, visando atender os portadores de doenças hematológicas do Agreste e Sertão, a nova sede deverá ser construída no terreno onde atualmente funciona a Central Arapiraca do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que será transferida para um terreno localizado ao lado do Hospital de Emergência do Agreste”.

E o que acontece com o já feito? Fica lá parado mesmo servindo de depósito de lixo? Terá alguma utilidade para o que custou dinheiro do contribuinte? É difícil até de acreditar na explicação que coloca uma emenda pior que o soneto. Espanta-me ainda o silêncio por parte das autoridades que deveriam cobrar mais explicações sobre o assunto. É revoltante, para quem tem o mínimo de bom senso, ler tal reportagem (pelo que ela acertadamente denuncia) e a nota, pelo que ela não consegue explicar.