A política tem suas nuanças. Se há quem ache que ela é dicotômica entre heróis e vilões tende ao reducionismo, paciência...
Tenho – e não escondo – uma visão de mundo que se encaixa mais no espectro do que se considera uma direita. Os motivos? Acredito em uma moralidade objetiva que se dá em uma sociedade por ordem espontânea ou por uma visão transcendente de mundo (este é meu caso, pois sou cristão).
Assim como diz Bastiat, em A Lei, tenho a crença de que é sempre preciso defender o indivíduo do poder coercitivo do Estado, pois ele sempre tende a crescer, o que faz com que o preço da liberdade seja a eterna vigilância. E tal liberdade só existe – como demonstra muito Richard Pipes (em Propriedade e Liberdade) – diante da preservação do conceito da propriedade privada e da valorização da vida.
Tenho uma aversão quase que natural ao coletivismo promovido por ideologias, principalmente quando estas bebem na fonte das que mais causaram atrocidades no século XX: nazismo, fascismo e comunismo. Estas deixaram um rastro de cadáveres e sangue. Em que pese possuírem diferenças em seus cernes ideológicos, são semelhantes em suas práticas: supressão das liberdades, campos de concentração, estados totalitários e mentalidades revolucionárias e autoritárias, além de outros pontos. Fica aqui duas dicas de obras interessantes que demonstram isso: A Ideologia do Século XX do brasileiro Meira Penna e A Infelicidade do Século de Alain Besançon.
Tais ideologias visavam o controle de populações, mudanças de comportamento, a imposição do novo homem na promessa da construção de um paraíso na Terra a partir de classes eleitas, seja pelo viés econômico ou racial. Enfim, picaretagem disfarçada de ciência: o tal pseudocentificismo. Estudar a natureza e a história das ideias políticas – como fez Eric Voegelin – nos mostra de forma precisa os desdobramentos destas. No século XXI, temos um mundo secularizado em que ainda muitos acreditam no “papai” Estado como salvador da pátria ou depositam fé demasiada na política como instrumento de correção social.
Michael Oakeshott fala muito sobre isso e da necessidade do ceticismo em relação aos famosos engenheiros-sociais com suas soluções mágicas para os problemas da humanidade, colocando-as nas mãos de políticos para resolverem tudo por meio de projetos de leis, uns mais bizarros que os outros, mas cheios daquelas boas intenções que pavimentam o caminho para o inferno. Conservador como era Edmund Burke, Oakeshott demonstra que a História dá lições. Estamos sempre a subir nos ombros dos gigantes para aprender com os erros e as conquistas do passado, preservando o que é bom e refletindo sobre o que é mal.
Assim, a política deve ter o seu lugar na sociedade, mas não é o todo. Não é uma causa assumida que enobrece o homem. Há – por vezes – práticas dos direitistas que levam minhas críticas por observar nelas uma estatolatria, demagogia, exageros etc. O mesmo ocorre com a esquerda. Isso também nunca me furtou de elogiar acertos de pessoas que estão em campo de pensamento oposto ao meu, como a prodigiosa inteligência do intelectual Raymundo Faoro, ao descrever o estamento burocrático que tomou conta do país desde a fundação da nossa República.
Faoro é um homem ligado às esquerdas, mas foi cirúrgico em Os Donos do Poder.
De toda forma, não observar – por meio do estudo profundo e da análise das fontes primárias – quais são as correntes e poder que atuam sobre nós e que conduzem o tabuleiro político é analisar tudo pela mesquinharia da política do cotidiano, como se só existisse ela.
Governos – quaisquer que sejam – cometem erros e acertos. Todavia, alguns, em suas construções ideológicas de mundo vão para além do aparente. Afinal, a ideologia é um discurso que justifica a ação. No governo petista passado, isso foi um fato. Quem despreza isso ou faz por má-fé ou por ignorância.
No caso, por exemplo, da existência do Foro de São Paulo, o que se tem é um clube que – nutrido da ideologia esquerdista – buscou construir o maior número possível de governos alinhados ideologicamente para agir em bloco na América Latina, mantendo o poder. O Foro aglutinou os partidos políticos de esquerda e organizações criminosas como as Farcs. Tudo isso sendo justificado por um discurso ideológico. Ninguém precisa acreditar em mim, basta acessar o site do próprio Foro.
Como isso custa dinheiro, o Brasil contribuiu ofertando os recursos dos brasileiros como cofre. Os empréstimos fraudulentos do BNDES fazem parte disso. Quando o ex-ministro preso Antonio Palocci fala do uso desses recursos fala parte do assunto. Fomos roubados, assaltados! Tudo isso em nome de um projeto de poder que se camuflava em uma ideologia. Dizer isso significa dizer que a direita é santa? Não! Se houver crimes cometidos pela direita, que sejam investigados e punidos.
O que se diz é que a promoção de um projeto de poder com base na corrupção sistêmica e se apoiando em mecanismos internacionais que interferiam diretamente nas soberanias nacionais que formam a América Latina é um fato. Não é por acaso que a Lava Jato extrapolou fronteiras e há denúncias para além do Brasil. É só ligar os pontos. Some a isso uma turma de intelectuais orgânicos que trabalharam duro para defender e justificar os discursos petistas. Informações a serem buscadas não faltaram.
Claro, é sempre mais fácil fazer de tudo isso um “espantalho”.
A Lava Jato descobriu a ponta do iceberg. Por isso foi tão longe a partir – inicialmente – de um caso que parecia mais um, entre tantos, de corrupção no país. Mas o fio foi puxado e veio toda a rede, veio a forma como a Petrobras foi usada, veio outros esquemas e por aí vai. O ministro – então juiz – Sergio Moro se tornou um personagem nesse enrendo da História do país. Cumpriu um papel importante e teve – grande parte de suas sentenças – mantidas nas demais instâncias.
Agora, há os vazamentos do The Intercept. Bem, repito o que sempre disse aqui: se existir algo – do ponto de vista jurídico – que possa ser usado pela defesa do condenado Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula (PT), que a defesa use. Mas não com base em matérias publicadas no site, mas sim as fontes primárias que são a origem do noticiado. E essa é a política menor da qual falo no texto, pois tira de cena tudo o que ocorreu no Brasil e na América Latina nos últimos anos.
Mas, repito: se houve elementos comprovados que venham a garantir – dentro do processo penal – algum recurso a Lula, mesmo ele sendo quem é passará a ter esse direito. Todavia, em nada isso inocenta Lula de saber de toda essa história narrada aqui, do que promovem as ideologias que imperam no Foro de São Paulo, do quanto isso foi fundamental para fazer do país um aliado ideológico de republiquetas como Venezuela e Cuba, da roubalheira promovida pela turma, da compra de apoios no mensalão da vida e por aí vai...
E isso sem contar com a irresponsabilidade com as contas públicas, os dois anos de PIB negativo etc. Em resumo: o PT cometeu crimes absurdos no poder. Muitos destes tiveram motivação ideológica e discurso de apoio por conta disso e faziam parte de um conjunto que visava o poder e manutenção destes por meio dessas práticas. E havia apoio internacional para isso. Se há quem negue, paciência...
Dito isso, estamos em outro governo. E aí, se esse cometer casos de corrupção, que se investigue e puna. Se houver erros, que se critique. Eu até creio que existam esses erros, como a perda de tempo em relação ao Ministério da Educação, que já critiquei. Cada coisa em seu devido lugar!
Estou no twitter: @lulavilar