Quem acompanha esse blog sabe que, na maioria das vezes, os textos refletem acontecimentos locais na tentativa de esmiuçá-los. Não busco ter o compromisso com o chamado “furo jornalístico”. Muitas vezes, uso desse material para compor algumas análises e opiniões, desenvolvendo o chamado jornalismo opinativo.

Uso da primeira pessoa para deixar claro que falo por mim e não pela equipe do CadaMinuto ou pelo portal em si. Pago o preço – no bom e no ruim – pelas minhas posições.

Todavia, caro (o) leitor (a), creio que a base da análise é o estudo. A base do estudo – por sua vez – são os livros. Por melhor que sejam os jornais, com seus textos, eles não substituem obras essências para compreender a realidade a nossa volta para além das notícias, que são recortes da realidade, e assim sempre serão, por mais honestas que sejam.

Em tempos de overdose de informação, entendo que os livros estão para os jornalistas assim como o bisturi se encontra para o cirurgião. Vou ainda além, a leitura deveria ser uma tarefa de todos. Obras transformam.

Bons livros fazem com que nossas opiniões sejam tratadas a chicotadas, expondo as contradições à luz do sol, que é o melhor desinfetante. Mais do que ter uma opinião própria, é vital sabermos se ela é uma opinião verdadeira e não apenas reflexo de narrativas que buscam enquadrar os fatos em convicções previamente assumidas.

Razão pela qual, até esta data, procuro ler até mesmo aqueles textos – sobretudo em obras – de pessoas que possuem visões de mundo discordantes das minhas.

Assim, tornei-me, por exemplo, leitor de Raymundo Faoro (autor de Os Donos do Poder). Trata-se de um intelectual de esquerda que assume paixões por ideologias que eu repudio. Todavia, não posso negar – em nome da verdade – que se trata de um estudioso que melhor definiu o estamento burocrático brasileiro, mostrando como esse país sempre foi governado ao sabor de oligarquias que colocavam toda a nação a serviço de seus interesses, entregando migalhas aos mais pobres, aumentando o abismo da injustiça, enquanto produziam discursos que enalteciam uma democracia inexistente.

Diferente do que se entende por democracia e sua representatividade, no Brasil, o agigantamento da máquina pública e do poder coercitivo do Estado, sempre fez com que o jogo democrático colocasse grande parte da população apenas como um “eleitor” para que do cidadão emanasse o poder, mas contra ele fosse exercido. Quem chegava ao topo sempre se dizia discursar em nome do povo. Isso se repetiu da política do Café com Leite, no positivismo anterior a esta, no nacional-desenvolvimentismo e também na social-democracia e no petismo.

Daí, os escândalos históricos de corrupção e uma classe que sempre concentrava privilégios para si e para os “amigos do rei”, como na política dos campeões nacionais, visíveis com o clube das empreiteiras, a JBS da vida e tudo aquilo que fundou muito mais uma plutocracia cleptomaníaca do que uma democracia sadia. A História desse país é sempre a história política da concentração do poder nas mãos de alguns que dominaram o Estado.

O petismo se aproveitou da realidade descrita por Faoro para aprofundar a corrupção em nível sistêmico e justificá-la com o discurso ideológico que já era presente nos meios culturais: o discurso da “luta de classes”, do “nós contra eles” e de que tudo que saísse dessa bolha era um extremismo a ser combatido.

Por essa razão, no governo que “combatia as elites” se viu o enriquecimento de banqueiros, os campeões nacionais amigos do rei lucrarem muito em esquemas monstruosos, a compra de parlamentares se aproveitando de um fisiologismo prévio etc.

Isso pode ser visto ao colocarmos no “mapa das estratégias” figuras como Ronan Maria Pinto, que chantageou a cúpula petista com informações do caso Celso Daniel, de José Carlos Bumlai e de outros tantos da “turma” que enriqueceram (ou enriqueceram mais ainda) fazendo os outros rirem, como posto no ditado popularizado pelo filme Tropa de Elite. Um exemplo disso está no livro de Sílvio Navarro sobre o caso Celso Daniel.

Eram meras peças em um xadrez – apesar de terem seus lucros – de um esquema de manutenção de poder que estava bem acima deles, como os laços construídos pelo Foro de São Paulo na busca por “esquerdizar” toda a América Latina. Esse fez do Brasil um anão diplomático e cofre de ações que contavam com empréstimos fraudulentos do BNDES. A Operação Lava Jato – agora atacada pelas narrativas vermelhas – apenas desvendou a ponta do iceberg.

O PT não inventou a corrupção, mas soube usá-la a seu favor. Entender a profundidade disso não é ato que se possa fazer com leituras de jornais, mas sim ao se dedicar a entender o que revela Heitor de Paola com a obra o Eixo do Mal, Foro de São Paulo de Graça Salgueiro, a Hidra Vermelha de Carlos Azambuja ou O Continente da Esperança de Alejandro Peña Esclusa. E aqui são apenas algumas obras que tratam do assunto.

Além de tocar nos acontecimentos brasileiros, esses autores abrem portas para o ocorrido na Argentina, Venezuela, Cuba etc. Por sinal, um livro fundamental nesse processo é Hugo Chavez: o espectro de Leonardo Coutinho. Neste as ligações com as Farcs na Venezuela, há também sobre o Brasil.

Tudo isso só é possível com um Estado gigantesco que concentre poder de decisões e recursos, além de ter domínio sobre vários aspectos da vida de seus cidadãos, reduzindo as liberdades individuais e ampliando a bolha ideológica dentro da qual os assuntos vitais são discutidos. Por essa razão, se há governo, devemos ser vigilantes. Apoiar determinadas ações de um governo qualquer – seja ele qual for – não pode ser cheque em branco para tudo. O cidadão não pode se resumir a condição de eleitor, nem se colocar como um fantoche a serviço de ideologias, sejam elas quais forem. O preço é alto demais.

É que narrativas escondem verdades. Sempre será assim.

Agora, diante dos vazamentos ocorridos com as conversas de membros da Lava Jato, o que se quer – por parte de alguns compromissados com uma visão ideológica de mundo – é apagar todo esse passado da memória do brasileiro como se tivesse havido uma enorme teoria da conspiração para tirar o PT do poder, como se o partido vermelho não tivesse cometido crime algum. Ora, cometeu vários e com participação e anuência do senhor Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula (PT), figura-mor do partido.

No entanto, nada impede que o conteúdo dos vazamento sejam investigados. Pois, quem defende o Estado Democrático de Direito defende que se apure tudo. E há ali discussões sobre a paridade das armas em um processo jurídico. Se prejudicou o réu – por mais que ele seja Lula – tem que haver o direito da defesa usar o material.

Mas, nos escândalos vermelhos, não se trata apenas da corrupção material desvendada pela Lava Jato, mas também da corrupção moral que se vislumbra na forma como nossa Educação se encontra hoje e como o futuro do país foi comprometido. A herança é maldita. São milhões de desempregados, péssimos índices de Educação, serviços públicos precários, sentimento de dependência total do Estado, péssimo ambiente de negócios em relação ao mundo, uma economia heterodoxa que resultou em uma contabilidade criativa, que – por sua vez – gerou dois anos de queda consecutivas do PIB.

Nada disso se recupera do dia para a noite, mas o petismo faz questão de usar da própria herança como se fosse culpa de seus adversários, jogando tudo no colo de um governo que assumiu a pouco tempo.

Óbvio que nem tudo é culpa do PT. O Brasil já tinha esse ambiente péssimo antes, que foi mudado em partes por um plano econômico exitoso: o Real. Porém, o Partido dos Trabalhadores aprofundou erros, ainda que tenha tido alguns acertos, como a economia dos primeiros anos de Lula e a unificação dos programas sociais com base na ideia liberal de Milton Friedmann, como posta na obra deste autor: Livres Para Escolher.

Acontece que, com o tempo, até isso foi corrompido. O Bolsa Família se tornou um programa eleitoreiro apenas com porta de entrada, e os anos de economia ortodoxa serviram para engordar um cofre que deu migalhas aos pobres, ampliou os gastos públicos e – em uma mentalidade nacional-desenvolvimentista – não preparou o país para o futuro como deveria. Em que pese ter divergências terríveis com esse autor, o livro Década Perdida de Marco Antonio Villa, mostra isso muito bem.

Mas, alguns querem dizer que a culpa de tudo foi a Operação Lava Jato. É uma piada de mal gosto.

O petismo sequestrou o futuro do país e assassinou reputações de adversários tentando colocar qualquer questionamento as suas “belíssimas intenções” como um extremista a serviço das elites, da CIA, do imperialismo americano, ou de qualquer outro fantasma que eles amam criar. Agora, o alvo é a Lava Jato para dar sustentação a um discurso que reviva essa esquerda que foi retirada do poder e recebeu uma sonora rejeição em muitas urnas desse país. Mas, o que não é a democracia petista, para alguns é “golpe”.

O jornalista Ivo Patarra - nos corajosos trabalhos O Chefe e Petroladrões – mostra muito bem como o esquema funcionava. E sobre a corrupção moral associada à corrupção material, que saía pervertendo instituições e meios culturais, criando a bolha ideológica, temos uma obra excelente publicada recentemente: A Corrupção da Inteligência de Flávio Gordon.

Evidente que para alguns, por mais que nesses livros que cito aqui existam fatos, comprovações, argumentações embasadas, fontes primárias etc, tudo será resumido ao seguinte: “é a extrema-direita tentando tomar o poder”. Haja paciência! Mas, a escolha é sua, caríssimo (a) leitor (a), de querer adentrar ou não nessas obras para encarar o que ali está exposto e assim poder fazer suas observações, por meio da comparação, e tirar suas conclusões. Cada um acredita no que quer.

Sobre governos, de uma forma geral, eu digo: vigilância sempre, inclusive nesse.

Por isso, finalizo essa coluna falando também de algumas obras que podem ajudar a entender a relação entre Estado e indivíduo, levando em consideração aspectos econômicos e a liberdade. Assim, indico ao leitor que queira se aprofundar – pois colunas de jornais são sempre insuficientes por conta de seus espaços; logo livros são importantes – a leitura do economista Thomas Sowell, que mostra bem que quando as ideologias políticas ficam acima da realidade, vencem as narrativas e a verdade se perde. Com sua perda, há consequências drásticas sobretudo para os mais pobres.

Uma obra importante de Sowell nesse sentido é o livro Discriminação e Disparidades. Lá, Sowell explica porque os ideólogos de plantão odeiam economistas que insistem que não há “almoço grátis”, mas o ódio deles não altera a realidade.

Os recursos são finitos e, para que gerem riqueza e renda, é necessário trabalhar com eles da melhor forma dentro do possível. O Brasil – nesse caso – precisa de reforma estruturantes que reduzam a máquina pública e seu poder coercitivo, que retire a corda do pescoço de quem gera riqueza para que se multipliquem investimentos e com isso empregos. O tripé fundamental nesse sentido é a reforma tributária, a revisão do pacto federativo e a reforma da previdência. Claro, governos não são perfeitos.

Por isso, os parlamentos – caso discutam sério o assunto e com foco na nação e não nos umbigos dos parlamentares – podem promover correções com base em dados técnicos. A gritaria e o estardalhaço é mera politicagem, seja de um lado ou de outro. São grupos querendo construir narrativas com base em interesses tribais ou individuais. Esses confundem mais que explicam. Por isso, caros leitores, indico livros e estudos. É responsabilidade nossa sabermos exatamente – com conceitos e opinião substanciada – que caminho devemos tomar para termos futuro. Há muito que nosso país sofre com esse Leviatã que privilegia castas enquanto entrega ao povo migalhas. E os mais privilegiados ainda possuem a cara de pau de se autoproclamarem os pais dos pobres. É – repito - uma piada de péssimo gosto.

Estou no twitter: @lulavilar