Circula pelos bastidores políticos a informação de que o PDT – do ex-governador e ex-deputado federal Ronaldo Lessa – anda insatisfeito com sua participação no atual governo de Renan Filho (MDB). Lessa e o grupo dos Calheiros foram aliados em muitos momentos na recente História política de Alagoas.
Quando concorreu ao governo do Estado de Alagoas, em 2010, Ronaldo Lessa contou com o apoio do senador Renan Calheiros, mas foi derrotado pelo então eleito ex-governador Teotonio Vilela Filho (PSDB). Na primeira eleição de Vilela (2016), Lessa também estava no grupo – por meio de uma aliança branca em função da legislação para as coligações – assim como Renan Calheiros. Somente depois que tucanos foram para um lado e emedebistas para o outro.
O ex-governador pedetista já ocupou espaços em uma retomada de aliança com tucanos no mandato anterior do prefeito de Maceió, Rui Palmeira (PSDB), depois que se elegeu deputado federal em 2014 no grupo que fez Renan Filho governador pela primeira vez. Para a reeleição de Renan Filho, Ronaldo Lessa retornou ao grupo e disputou a renovação de mandato para a Câmara de Deputados, mas não teve êxito.
Nessa aliança, o PDT ganhou cargos na Agência Reguladora dos Serviços Públicos de Alagoas (ARSAL), que hoje se encontra sob o comando do ex-deputado estadual Ronaldo Medeiros (MDB). Na ARSAL, o PDT viveu um “inferno astral” que o governo emedebista tentou varrer para baixo do tapete. Uma série de denúncias – incluindo fraude em contratos – levou o ex-presidente da ARSAL, Laílson Gomes a entregar o cargo.
Gomes saiu afirmando que as irregularidades eram cometidas no passado e que ele entrou em rota de colisão por tentar saná-las. Prometeu até apresentar um dossiê, mas esse nunca veio a público. O fato é que o passado ao qual Gomes se refere também pertence à gestão de Renan Filho. O governador nunca se pronunciou publicamente sobre o assunto, cujas primeiras denúncias se deram em meio ao processo eleitoral que ele disputava praticamente sozinho. Tanto que Renan Filho foi eleito em primeiro turno “massacrando” os adversários nas urnas.
O PDT saiu da ARSAL. O órgão ficou com problemas financeiros, sem poder de fiscalização – como chegou a colocar o próprio Ronaldo Lessa em um vídeo aos “companheiros” - e Medeiros assumiu a missão sem que fosse dado destaque aos ocorridos na Agência. A ARSAL, entretanto, era um belo presente em função da quantidade de cargos comissionados que possui. O PDT soube aproveitar isso muito bem.
Todavia, o PDT não ficou sem espaço. Houve uma discussão para nomear um deputado federal da base aliada em alguma secretaria para que, desta forma, Lessa – que está na primeira suplência – pudesse retornar à Brasília (DF). Isso não se concretizou. Para manter a aliança com os pedetistas, foi dado ao próprio Ronaldo Lessa o cargo de secretário de Agricultura. Mas, comparado com a ARSAL, o espaço é pouco.
Em vídeo, Ronaldo Lessa já reclamou da quantidade de cargos e da morosidade do Executivo nas nomeações. Em entrevista, no dia 1 desse mês, ao jornalista Edivaldo Júnior (blog da Gazetaweb), Lessa diz o seguinte: “Existe no PDT uma corrente de pensamento contrário a nossa participação no governo. A direção Nacional solicitou que devamos refletir sobre o assunto, embora eles também, como nós, acham que essa posição não é majoritária”.
Para bom entendedor, meia palavra basta. Há uma insatisfação no ar. O PDT – que já foi, em Alagoas, um partido de destaque – se encontra reduzido. Os espaços ocupados na política são poucos.
A não eleição de Lessa para a Câmara de Deputados fez a legenda sofrer mais ainda, pois ele ainda é a principal “estrela” da agremiação. Em uma pasta com poucos cargos, fica difícil de construir seus apoios. Na recente entrevista, o ex-deputado federal não esconde que essa questão é significativa, mas também fala de condições de trabalho.
A posição do PDT hoje preocupa Ronaldo Lessa por um motivo: as eleições de 2020 batem na porta. Sem capilaridade e sem outro nome com projeção política, o PDT pode ser apenas uma sigla a tentar composições para fazer vereadores, sem conseguir entrar em uma discussão majoritária. Depois de 2020 vem 2022 e assim sucessivamente. Quanto mais a sigla se encolhe, mais ela perde espaço.
Um impacto para um partido que já teve bancada legislativa, já governou Alagoas etc. As discussões sobre o espaço do PDT devem se intensificar a partir desse mês. Veremos. O PDT pensa em lançar um candidato à Prefeitura de Maceió, quem sabe o próprio Ronaldo Lessa. O somatório disso pode afastar o PDT do MDB.
A questão é: quem era Lessa no passado e quem é Lessa hoje. De acordo com Edivaldo Júnior, um grupo que tinha 80 cargos, hoje não consegue ter 40. Reflexos da política das “coalizões”, que muitas vezes se traduzem no puro “toma lá dá cá” da velha prática. Quanto às condições de trabalho, Lessa não consegue implementar seus projetos na Secretaria de Agricultura.
Ele enfrenta problemas que já foram apontados na Assembleia Legislativa até pela deputada da base aliada – Jó Pereira (MDB) – como o caso da distribuição de sementes. Há atrasos no programa de pagamento do leite e dificuldades para tocar programas. O que era para ser uma vitrine política, é um poço de problemas. Isto sem contar que a vida não anda tão fácil para quem abertamente tem uma posição de esquerda.
Se antes havia uma hegemonia que favorecia o discurso político que Ronaldo Lessa usa, o que já fez dele um símbolo da esquerda alagoana, atualmente enfrenta uma polarização. O fato é que o pedetista luta contra o ostracismo de sua imagem política e do PDT como um todo.
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