Ainda não li a entrevista do presidente da Associação dos Municípios de Alagoas (AMA), Hugo Wanderley (MDB), que sairá na edição desse fim de semana do CadaMinutoPress. Todavia, as declarações dadas por Wanderley, que foram expostas na Coluna Labafero, deste site, me chamaram atenção.
Elas são enfáticas em relação à economia brasileira e demonstram uma preocupação que, como cidadão, também possuo. Estamos de fato em uma encruzilhada, na qual as propostas do atual governo federal - e a forma como o Congresso Nacional lidará com elas – serão cruciais, pois trata-se de ações estruturantes e profundas e não apenas superficiais. Os impactos serão, portanto, em curto, médio e longo prazo.
Sendo assim, as frases postas por Hugo Wanderley, que soam como diagnóstico, devem ter fundamentação, creio eu, em análises e propostas. Afinal, ocupa um posto importante: o de representante de diversos prefeitos.
Estes gestores sabem que, diante dessas reformas estruturantes que vão sendo propostas, está pelo menos (ainda no campo das ideias) a busca do governo federal pela descentralização de recursos. E aí, entramos em um ponto caro aos prefeitos: o atual pacto federativo.
São muitos os municípios – e Hugo Wanderley deve conhecer essa realidade melhor que eu – que vivem dependentes administrativa e financeiramente do Fundo de Participação Municipal (FPM), dentro de um pacto federativo que concentra recursos e ações na União e transforma as gestões municipais, com exceção dos municípios que possuem maior arrecadação de impostos locais, em meros gestores de programas federais. Daí, as históricas marchas de prefeitos, onde todos vão à Brasília (DF) com o pires na mão. Não é verdade, Wanderley?
Espero que o governo federal enfrente esse problema, pois é nas cidades onde o povo vive. Logo, discutir o federalismo – como já era feito pelo intelectual Tavares Bastos no século XIX – é importantíssimo, dentro de um contexto onde também se discuta maior liberdade econômica, reforma tributária (que o governo federal também busca elaborar, mas que só será possível discutir o mérito depois de apresentada) e da necessidade de discutirmos previdência, como já ocorre com a Reforma da Previdência que se encontra no Congresso Nacional.
Que o presidente da AMA tenha tocado nesses pontos. Eles precisam entrar em pauta e nada mais justo que um representante da esfera municipal o faça, pois é quem mais sente o problema na pele. Ainda mais quando gestor de uma cidade pequena que deve também ter sua dependência em relação ao FPM.
Hugo Wanderley sabe a dificuldade de estimular o empreendedorismo e encontrar alternativas nessas regiões. O governo federal – em especial o ministro da Economia, Paulo Guedes – tem a obrigação de olhar para estas situações.
Dito isso, a declaração de Hugo Wanderley que me chamou atenção é a seguinte: “Nós estamos enfrentando a maior crise política do nosso país”. Creio que o presidente da AMA se refere ao conjunto dos últimos anos, mas, ainda assim, é preciso fazer adendos. Ele reclama que não se sente os efeitos da economia. Concordo ele quanto a essa segunda parte. Os números também concordam comigo. Tivemos pequenas melhoras no ano passado e agora, com a sinalização da retomada de crescimento do PIB, mas, ainda assim, de forma tímida. O desemprego está aí e é preocupante. O índice é alarmante e ultrapassa os 12 milhões de brasileiros.
Esse trimestre uma notícia negativa para ao atual governo: queda no PIB. Logo, frustração de receita. Diversos motivos, dentre os quais, a morosidade para aprovar reformas. E aí, não se pode culpar apenas o Executivo. Todavia, o prefeito tem sim motivos para estar preocupado. A retomada de confiança do mercado no início do ano, a alta na Bolsa etc, responde a fatores externos e internos. Externo temos problemas. Internamente também. Quanto mais demora para reformas andarem, mas os investimentos se retraem a espera do melhor ambiente.
Agora, dizer que é o nosso pior momento, não corresponde a verdade. Hugo Wanderley é jovem. Creio que mais jovem que eu. Assim como ele, não vivenciei como adulto as turbulências dos anos 1980. Porém, nossas juventudes não servem de desculpas para desconhecer a História.
O Brasil já foi bem mais fechado do que é hoje, dentro de uma mentalidade nacional-desenvolvimentista que condenou o país ao atraso em muitos setores, pois nos fechamos para o mundo e perdemos oportunidades. Fruto disso, vivemos uma instabilidade terrível nos anos de 1980, com a sucessão de planos econômicos que sempre frustravam as expectativas. Nossa moeda perdia valor, o trabalhador não tinha poder de compra e, muitas vezes, fazia cálculos para saber quanto receberia no fim do mês, diante da inflação insuportável. Pagávamos até ágio sobre as mercadorias.
Enquanto isso, o gasto público galopava e o poder coercitivo estatal era tão grande que até controle de preços quis fazer. Tiro pela culatra. Vale lembrar: chegamos à hiperinflação, com uma variação anual de quase 500% na década de 1990 e uma média anual na década de 1980 de 233,5%. A situação só se reverteu com o Plano Real, que trouxe para patamares de um dígito, chegando a dois dígitos em alguns anos. Mas, uma economia bem mais estável. Muito mais.
Essa conquista foi ameaçada quando os governos petistas abandonaram a matriz ortodoxa, caro Hugo Wanderley, resultando na herança que temos hoje. Nos anos de 2015 e 2016 tivemos dois anos consecutivos com queda no PIB e o orçamento deficitário que persiste. O orçamento deficitário de 2015 também atingiu estados, como o Rio Grande do Sul. Era um momento pior que o atual.
Atualmente, lidamos com as consequências. Tanto que a retração do governo Dilma Rousseff foi de um ineditismo histórico. A inflação em 2015 chegou a mais de 9%, em 2016 ficou um pouco abaixo de 9%. Em 2017, conforme o IPC, retomamos e ficamos em aproximadamente 4%. 2018 foi de quase 3,5%. Agora, em 2019, o índice é de 4,3%. Claro: sinal de alerta.
No mais, aguardarei a entrevista de Hugo Wanderley, pois ele promete abrir uma boa discussão com sua entrevista do CadaMinutoPress.
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