O ministro da Economia, Paulo Guedes, não perdeu o controle na Câmara de Deputados como apregoam alguns textos por aí. Guedes foi firme, didático em relação ao projeto de Reforma da Previdência que defende, apresentando seus argumentos. Todavia, dançou conforme a música que a oposição quis compor, rebatendo os ataques na mesma moeda.
O ministro foi firme e não levou desaforo para casa. Em resumo é isso!
Durante a audiência, Guedes pontou números e mostrou que a atual Previdência gasta 10 vezes mais que a Educação. Nos últimos 40 anos, os gastos públicos saltaram de 18% para 45% do PIB. Um dado importante que não pode ser ignorado, pois mostra o quanto o Estado fica estrangulado e sua incapacidade para novos investimentos.
Não é culpa de um governo A ou B, mas de governos que sempre adotaram a mentalidade estatista, que resultou em uma máquina pública caríssima, sustentada por uma alta carga tributária e que não consegue prestar – com qualidade – os serviços básicos a população. Ou seja: a culpa é de todos os que por lá passaram.
Como se não bastasse, dentro desse Estado, há um estamento burocrático que privilegia os que estão no topo e sentencia a maioria da população a uma tragédia, onde o setor produtivo é visto como vilão e a livre iniciativa passa a ser alvo de todo tipo de burocracia. Essa realidade também se reflete na previdência: a maior parte dos recursos se destinam aos mais privilegiados desde sempre. Os ricos acabam se aposentado mais cedo que os pobres.
Guedes ainda mostrou a necessidade do tal “R$ 1 trilhão” na Reforma da Previdência. Ele fez uma exposição antes da discussão. “O problema é tão dramático que ano passado foi gasto R$ 700 bilhões com a previdência e R$ 70 bilhões com a Educação, que é o nosso futuro. O mais importante: antes da população brasileira envelhecer, no formato atual, a Previdência já está condenada”.
Claro que o Congresso Nacional pode discutir e tentar melhorar a Reforma. Há pontos que podem ser debatidos de forma séria. Mas é preciso trabalhar em cima dos dados. Em 1980, eram 14 contribuintes por idoso. Hoje, temos a metade disso. Em 2060, pelos cálculos de Guedes, serão 2,3 por idoso. É uma preocupação.
A preocupação é com as gerações futuras para que estas tenham uma aposentadoria justa. O foco tem que ser esse, seja do governo ou da oposição. Não é uma questão ideológica ou política, mas de futuro do país para garantir o pagamento de aposentadorias, benefícios e assistências sociais. Se seguir nesse modelo, não há como garantir os pagamentos nos futuros, pois hoje – pela forma como se encontra – estamos taxando os mais pobres e transferindo as maiores rendas para os mais favorecidos.
O secretário da Previdência, Rogério Marinho, destacou que a necessidade da Reforma da Previdência foi discutida em todos os governos passados, inclusive nos de Lula e Dilma Rousseff, ambos do PT. Atualmente, conforme os dados da própria Previdência, 82% dos benefícios são de dois salários mínimos no máximo. 15% da fatia mais rica fica com 47% da renda previdenciária.
Indico ao leitor que assista a sessão na íntegra, preste atenção nos dados e tire suas conclusões. Tudo isso foi apresentado, mas como a “treta” é o que chama atenção, foram as respostas mais duras de Guedes que repercutiram na maioria da imprensa.
Guedes dançou nesse ponto conforme a música, pois a oposição o atacou primeiro, querendo atribuir ao ministro a possibilidade de crimes de responsabilidade. É quando ele sobe o tom.
Em uma resposta à deputada federal Jandira Feghali (PCdoB), Guedes rebateu: “Quem fica 16 anos no poder não tem o direito de vir agora e dizer: ‘olha, tem um desemprego enorme, tem 50 milhões de pessoas desempregadas. De onde virá o crescimento?’. Virá quando repararmos os rombos causados. Os rombos foram amplos, gerais e irrestritos. Foi roubo na Petrobras, rombo no Correios. Quebraram muita coisa. É difícil consertar (...) o pior é que o futuro é um buraco que só cresce, um buraco fiscal que ameaça engolir o Brasil”.
Guedes também foi duro com o deputado José Guimarães (PT) por conta do caso dos “dólares na cueca”. Mas, em resumo, após uma discussão técnica, o ministro – que não tem sague de barata – reagiu ao tom que a oposição tentou impor.
O crescimento da população e a forma de financiamento são problemas reais que acabam – nas palavras do ministro – criando uma fábrica de desigualdades. Essa é a tese do ministro e ele mostra que não leva desaforo pra casa. Bateu, levou! Gostem ou não, é isso.
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