O vice-presidente General Hamilton Mourão (PRTB) foi construindo, desde o início do atual governo federal, a berlinda na qual se encontra, levantando a desconfiança dos eleitores apoiadores do presidente Jair Messias Bolsonaro (PSL) por meio de declarações a ações que são de fato questionáveis.
Não se trata apenas de pontuais divergências entre Mourão e o presidente, o que seria natural, pois ninguém é igual a ninguém e já houve casos assim no passado. Por exemplo: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já sofreu críticas do seu vice-presidente José Alencar em algum momento do governo. Quem for procurar, vai achar.
Mas, no caso de Mourão, são sistemáticas as suas posições que ultrapassam a “opinião” e muitas vezes atacam posições centrais do governo. Um dos exemplos é o que o vice falou sobre o aborto, assumindo ali uma posição que se alinha muito mais às esquerdas do que a um compromisso de campanha de Bolsonaro.
O vice também já entrou na polêmica envolvendo o ministro Ricardo Salles, em uma declaração sobre Chico Mendes. Hamilton Mourão praticamente entrou em rota de colisão com o titular da pasta de forma desnecessária, alimentando as pancadas que esse recebeu da imprensa.
Não se trata aqui de mérito, mas sim de entender que o vice deveria ter uma visão global do que está em jogo, sobretudo quando se sabe que o governo federal tem sido vitrine nos primeiros 100 dias de gestão. Afoito, Mourão fez mais um papel de opositor do que agregador. Natural que surjam as críticas, as cobranças e até o ambiente de confronto. Foi o general que se colocou nesse papel.
Mourão aceitou convite de evento em que ele era posto como a única voz racional do governo, se deixou levar por afagos midiáticos, recebeu a CUT em um momento de tensão, já criticou o ministro Onyx, dentre tantos outros episódios que se somam.
Fica parecendo que o vice é um antagonista de tudo que tem sido feito. O governo – por outro lado – não soube lidar com isso por meio de conversas internas no sentido de buscar apaziguar as coisas. Tudo foi correndo até chegarem as críticas abertas feitas pelo filho do presidente: Carlos Bolsonaro.
A rota de colisão que já se ensaiava ficou visível. Todavia, na cronologia dos fatos, quem a buscou foi Mourão. O vice deveria deixar a oposição ser oposição (pois esse é o papel dela e todo governo deve ter oposição) ao invés de assumir esse papel de forma gratuita e com direito a afagos midiáticos.
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