No momento em que escrevo esse texto já são 290 mortos e 500 feridos no massacre do Sri Lanka que teve como alvo cristãos, no exato momento da celebração da Páscoa. O governo decretou estado de emergência. Segundo informações das agências internacionais, o poder público local atribuiu o ataque terrorista ao grupo islâmico NTJ e há a possibilidade de ter tido ajuda estrangeira.

Até o fechamento desse texto, 24 pessoas foram presas. Um detalhe: 14 dias antes, relatórios de inteligência apontavam para a realização desses ataques. É assustador. Aliás, é indescritível o ocorrido. Trata-se de pessoas assassinadas em um massacre terrorista apenas pela expressão de sua fé.

Quem é cristão (e eu sou) e acompanha o trabalho desenvolvido pela Igreja Que Sofre (www.acn.org.br) sabe que este caso não faz parte de algo isolado, pois é reflexo do que vem ocorrendo em regiões do mundo na perseguição aos cristãos. O relatório mais recente produzido pela entidade mostra que em 38 locais do mundo há evidências (muitas com violência e morte) de violações significativas à liberdade religiosa.

Nos últimos anos, a entidade mostra – em números – que houve um aumento considerável de ataque aos cristãos associado a uma cortina de indiferença que só se rompe diante de fatos assustadores que chocam o mundo. Enquanto isso, outros tantos contam com o silêncio.

O relatório da ACN traz todas as perseguições separadas por países como Afeganistão, Andorra, Arábia Saudita, dentre tantos outros. Eles são divididos em duas áreas: uma amarela, onde há discriminação religiosa (porém com menos violência) e a perseguição, onde atos violentos e de terrorismo acontecem.

De acordo com o relatório de 2016, por exemplo, 90 mil cristãos foram assassinados só por conta da fé. O universo dos cristãos em risco por conta do que creem é – ainda conforme a ACN – de 500 milhões de pessoas. São todos alvos em potencial.

Por conta da situação, na região de Alepo, o número de cristãos encolheu cinco vezes. Em 2018, 245 milhões foram vítimas de algum tipo de perseguição, sendo 4.305 mortos e pouco mais de 3 mil presos. No mesmo ano, 1.847 igrejas foram atacadas.

A nação tida como mais intransigente – conforme o relatório Portas Abertas – é a Coreia do Norte, onde se estima que 50 mil cristãos estejam presos. Depois da Coreia do Norte, aparecem o Afeganistão e a Somália, por conta de grupos extremistas islâmicos.

Entre as regiões que mais matam cristãos, está a Nigéria, com pouco mais de 3 mil no ano passado. É quase a totalidade dos números. O ano de 2018 foi o ano em que mais a Igreja enfrentou perseguições na história da humanidade. É difícil de acreditar, mas são dados concretos.

Eis um trecho de um texto sobre o relatório do Portas Abertas:

“O total foi de 3.150 casos no período de pesquisa da Lista Mundial da Perseguição, contra 1.905 no período anterior. Do total de 3.150 prisões arbitrárias, 1.131 ocorreram na China. Vietnã e Mianmar também foram países em que esses números cresceram assustadoramente, indo de 25 para 186 no Vietnã, e de 19 para 154 em Mianmar”.

Quantas vezes tais números são explorados pela grande mídia ocidental? Pouquíssimas!

A situação – que não é nova! – gerou uma obra completa, publicada em 2014. Mesmo com os números defasados, o livro Perseguidos: O Ataque Global Aos Cristãos, escrito por Paul Marshall, Lela Gilbert, Nina Shea, merece ser lido. Detalhe: não é uma publicação católica.

O caso do Sri Lanka, que nos leva a uma tristeza extrema, chama ainda mais a atenção pelos números. Repugnante, repudiável e como disse anteriormente, é impossível de descrever. Não há adjetivo suficiente.

A vida é sagrada. O ser humano deve ser respeitado pelo simples fato de ser humano. É a base da tolerância verdadeira. O respeito à vida independe de credo, etnia, questões sexuais etc. E essa é a base do amor cristão que nos chama a amar aqueles que nem conosco concordam, que não compartilham de nossa fé, pois devemos amar o humano em sua potencialidade, como descreve o filósofo brasileiro Mário Ferreira dos Santos.

Meus caros leitores, conheçam o trabalho do Portas Abertas e da Igreja que Sofre. Tenham a real informação do que tem sido a vida de muitos cristãos nessas regiões do globo terrestre e do que eles passam para poderem professar sua fé. É fácil, de certa forma, ser cristão no Ocidente, em que estamos distantes dessa realidade, ainda que pese haver críticas e ataques a Fé aqui e ali. Mas em nada se compara a quem de fato arrisca sua própria vida para declarar o amor a Nosso Senhor Jesus Cristo.

Aos que – como eu – são cristãos, peço que orem pelas vítimas do Sri Lanka e por tantos outros que se tornam mártires da Fé. Para muitos de nossos irmãos, a vida não é fácil simplesmente por conta da crença que possuem. O que ocorreu no Sri Lanka não pode jamais se repetir. É dever nosso defender a vida e amar ao próximo independente de qualquer coisa.

Estou no twitter: @lulavilar