Oficialmente, Laílson Gomes deixou o cargo de presidente da Agência Reguladora dos Serviços Públicos de Alagoas (ARSAL) “a pedido próprio”, que foi encaminhado – por carta – ao governador Renan Filho (MDB). Todavia, o “oficialmente” não corresponde necessariamente à realidade dos fatos.

É a tentativa de uma saída honrosa para que a ARSAL volte à caixa de ferramentas para as composições políticas sem que ninguém se lembre do que se passou por lá...

Mas, como a memória existe, vale ressaltar:

A permanência de Gomes na dianteira da ARSAL já era insustentável desde o início do segundo mandato de Renan Filho. Os motivos eram vários: desde as denúncias que se acumulavam, que iam de problemas em contrato às dificuldades de gestão do órgão, até às correlações de forças políticas do novo governo. Sim, grupos políticos disputavam a ARSAL e não se entendiam dentro do órgão.

Fora isso, o PDT do ex-deputado federal Ronaldo Lessa terminou o processo eleitoral de 2016 menor do que entrou. Lessa – padrinho político de Laílson Gomes no governo Renan Filho – ficou sem forças para manter o mesmo espaço do PDT na gestão seguinte. Ainda assim, permanece aliado de Renan Filho, tendo sido nomeado secretário de Agricultura.

A situação vivenciada pela ARSAL é grave. Laílson Gomes diz que os problemas existentes são herança da gestão passada e – em uma entrevista – disse até que entregaria um dossiê com informações sobre o órgão. Gomes sai de cena de forma discreta e não houve apresentação de dossiê algum. Ele alega inocência e diz – em outras palavras – que paga o preço por tentar consertar o órgão.

Mais um motivo, então: a saída de Laílson Gomes não pode ser motivo para varrer o que de grave foi dito pela imprensa entre o final do ano passado e o início desse ano, e que já rende investigação. Se é o ex-gestor que tentou moralizar o órgão, poderá provar. Se não, pagará por isso. E se tentou moralizar é porque os problemas antigos aconteciam debaixo das barbas do governador; se não, é porque aconteciam debaixo das barbas do mesmo jeito!

Então, deve ser um compromisso do Executivo de Renan Filho – justamente em nome da transparência – apurar tudo o que ocorreu na ARSAL durante o seu primeiro mandato de governador, já que a última gestão foi para a berlinda e passou a acusar gestões anteriores.

Vale lembrar que o no final do ano passado, a ARSAL teve que ser socorrida financeiramente pelo Executivo para conseguir fechar as suas contas. Servidores ficaram com atraso salarial, houve risco de corte de energia elétrica do prédio sede, dentre outros problemas. Agora, com três meses de nova gestão, a ARSAL ainda tem dificuldades de funcionamento.

Isso só se refere ao administrativo.

No campo das denúncias, é apontado problemas na contratação de uma empresa responsável pelos terceirizados. Houve ainda o episódio que ficou conhecido como “farra das diárias”, já tratado por esse blog.

Em meio às polêmicas, Laílson Gomes disse que sofreu porque combateu forças políticas que disputavam a ARSAL. Isso também nunca ficou esclarecido. No dia de ontem, 10, em vídeo nas redes sociais, o próprio Ronaldo Lessa assume o mesmo discurso.

Gomes entrega o cargo, mas praticamente foi convidado a sair diante dos problemas que a ARSAL enfrentava e – conforme informações de bastidores –  isso não deixou Ronaldo Lessa muito satisfeito.

Bem, quando assumiu a presidência do órgão, Laílson Gomes disse a seguinte frase: “Vamos colocar a ARSAL em um lugar onde ela nunca esteve!”. De certa forma, ele pode ter cumprido a promessa. Afinal, a Agência acumula problemas que até então eram inéditos, ao menos para o público. Tomara que o próximo gestor – e com o apoio do governo – tenha a coragem de passar tudo a limpo. E aí, quem for podre que se quebre. Afinal, hoje o lugar da ARSAL - como prometido por Gomes - é de destaque, nas manchetes negativas e no Ministério Público, mas de destaque! 

É que é dinheiro público, governador!

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