Em suas redes sociais, o governador de Alagoas, Renan Filho (MDB), resolveu mirar no ministro da Educação, Ricardo Vélez. Além da crítica ao titular da pasta no governo de Jair Messias Bolsonaro (PSL), o chefe do Executivo estadual se refere ao ministro como “esse cara”, deixando e lado até as formalidades.
A crítica de Renan Filho se faz por conta de recentes matérias de jornais nacionais. Nessas, é dito que Vélez afirmou mudanças em conteúdos didáticos dos livros de História no que diz respeito ao período militar iniciado em 1964.
A fala de Vélez é a seguinte: “Haverá mudanças progressivas (no conteúdo dos livros didáticos) na medida em que seja resgatada uma visão da História mais ampla”.
O ministro ressaltou que o papel do Ministério da Educação é garantir a regular distribuição do livro didático “de forma tal que as crianças possam ter a ideia verídica, real, do que foi a sua história”.
Foi mais uma polêmica na qual Vélez acabou se envolvendo.
O ministro, em que pese ter uma obra respeitável com livros como A Grande Mentira, Da Guerra à Pacificação, Patrimonialismo e Realidade Latino-Americana, dentre outros, não tem conseguido gerir a pasta, enfrentado conflitos internos e dado declarações que lhe causaram ainda mais desgastes.
Mesmo em setores de apoiadores do governo, Vélez tem sofrido com as críticas. Razão pela qual o próprio presidente Jair Messias Bolsonaro apontou – em recente entrevista – para uma mudança no MEC.
Sobre a declaração em relação aos livros didáticos, Vélez se defendeu em suas redes sociais. Ele destaca que não falou em mudanças bruscas de conteúdo que venham a deturpar a História. “O que eu disse ao Valor foi que mudanças poderiam ser realizadas progressivamente, trazendo uma versão mais ampla da História, e só após passar por uma banca de cientistas da área. Doutrinação como foi feito pela esquerda, jamais!”.
No entanto, mesmo tentando se explicar, foi alvo do governador de Alagoas. Renan Filho foi enfático: “Antecipo: se o ministro da Educação, Ricardo Vélez, inventar de rever nossa história vou proteger nossos livros, alunos e professores. Esse cara, que teima em permanecer no cargo, que vive no cai e não cai, não pode brincar com os fatos históricos brasileiros”.
“Para de brincar com coisa séria, ministro Ricardo Vélez. Com a tranquilidade de um rio que corre para o mar, toda comunidade educacional brasileira resistirá a ti, enquanto tentas camuflar sua incapacidade de gestão com essa falsa cortina de fumaça”, complementou o governador.
Renan Filho – nas eleições passadas – esteve o lado do PT do candidato Fernando Haddad, sendo – consequentemente – oposição ao presidente Bolsonaro.
Há pontos na crítica de Renan Filho que correspondem à verdade. De fato, o ministro tem tido dificuldades imensas para gerir a pasta e os conflitos ali presentes se tornaram visíveis. Educação é um terreno sensível e exige um norte claro, que inclusive já havia sido traçado por Vélez antes de assumir, como a preocupação maior com o Ensino básico e fundamental.
Os índices históricos da Educação brasileira são lamentáveis e fazem parte de uma herança de governos passados que se preocupou mais com o quantitativo que o qualitativo. Isso é um fato. Mudar esse cenário é uma das missões do MEC, junto com todas as pastas estaduais e municipais.
Agora, é inegável que temos sim problemas graves estruturais nas redes de ensino, de valorização profissional, de material didático, de métodos etc. Dizer que muitos desses materiais didáticos – incluindo livros – precisam de revisões com base em uma banca técnica de avaliação de conteúdos não é nenhum absurdo. A própria base curricular – que infelizmente é centralizada – precisa sim de análise.
Todavia, essa análise não pode estar submetida a uma visão política e/ou ideológica, seja ela qual for, para que não se construa ali uma hegemonia, mas para que se tenha sim a pluralidade, respeitando os fatos pelo que eles são. Para isso, existe o conhecimento técnico. Afinal, o que vimos em muitas questões do Enem, em passado recente, mostram claramente que a coisa não anda bem.
Vélez – infelizmente – não tem se mostrado a pessoa certa para isso. Mas que, apesar de pontos certos na crítica, há um exagero de Renan Filho, isso há. Afinal, é notório que o aluno tem saído da escola sem conhecer o básico da Língua Portuguesa, da História de seu país, da Filosofia, da Matemática etc. Precisamos repensar isso de forma séria, sem transformar a Educação em cenário de batalha política, como alguns tem feito ao ponto de doutrinação e hegemonia serem problemas reais.
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