Em uma longa entrevista ao jornal Folha de São Paulo, o deputado federal alagoano Arthur Lira (PP) – que lidera o partido na Câmara de Deputados – demonstrou insatisfação com o governo do presidente Jair Messias Bolsonaro (PSL), em especial com o líder do Executivo: o também parlamentar Vitor Hugo (PSL).
Lira reclama da ausência de articulação com a Casa, enquanto o líder do governo, Vitor Hugo, já fala em abrir diálogos que podem fazer com que o Executivo chegue a 372 parlamentares. Claro, o governo busca a quantidade necessária para as votações que considera importante, como a Reforma da Previdência e o pacote anticrime do ministro Sérgio Moro.
Em entrevista à Agência Brasil, Vitor Hugo destacou que houve um momento em que a imprensa e alguns analistas propagaram que o governo não ia dialogar com os partidos, mas sim com frentes temáticas. “Isso não é verdade, nunca foi uma intenção do governo. Sempre houve a intenção de trabalhar e articular dentro do Congresso com os partidos e mais uma vez vai ficar claro isso”.
De acordo com ele, no próximo dia 4, o presidente já receberá cinco líderes partidários para tratar da reforma da Previdência na Câmara.
O problema é o que se entende por articulação. Bolsonaro parece querer fugir da distribuição de cargos e benesses em troca dos votos necessários. São muitos os partidos que estão de fora do primeiro escalão e esta foi uma das promessas de Bolsonaro em campanha: não compor com base na distribuição de ministérios, como ocorria em governos anteriores, em nome da chamada governabilidade.
Apesar das falas recentes do líder do governo, Arthur Lira afirma que Jair Bolsonaro está isolado e que não existem líderes que conversem com Vitor Hugo. O pepista parece ter partido para o ataque.
Lira ainda ataca o discurso do governo sobre a “nova política”: “O que é a nova política? É a política da rede social? O velho é tudo o que não presta? O que tem de novo agora? Em três meses, muitos problemas. É isso o novo? A gente tem tido muita parcimônia e paciência”, frisou.
Arthur Lira comete exageros. O governo tem problemas sim, como por exemplo, o bate-cabeça na pasta do Ministério da Educação (MEC) que tem que ser resolvido o quanto antes, pois é uma área sensível, importante e com uma herança maldita. O que acontece hoje na pasta faz com que se atrase projetos e ações, afetando diversas áreas.
Todavia, o governo federal já encaminhou ao Congresso Nacional a Reforma da Previdência – que pode ser aprimorada pelo Legislativo – apresentou um projeto anticrimes, tem estabelecido políticas de concessão e privatizações – como no caso dos Aeroportos – que podem trazer resultados positivos ao país, sobretudo aos mais pobres, para consumir serviços com mais eficiência e menores preços.
Bolsonaro ainda foca em ações bilaterais com outros países que espero que tragam resultados positivos. Vender a imagem que o governo federal está parado não corresponde à realidade. Assim como não corresponde à realidade, a imagem de que está tudo em paz. Há sim setores que precisam ser ajustados e merecem a crítica.
Quanto à velha política brasileira criticada pelo governo federal, ela é definida: trata-se de reconhecer que antes havia um estamento burocrático de troca de benesses em nome de projetos de centralização de poder, que ampliou os gastos públicos e favoreceu a ocupação de estatais por meio do cabide de empregos. Isso resultou em mensalões e petrolões, onde o PP é sempre um partido citado. É isso que precisa acabar.
Os projetos – e deve haver sim articulação para isso, pois o diálogo faz parte da política, e nessa reclamação Lira tem razão – devem ser debatidos pelos seus méritos e consequências para a maioria da população, sem interesses secundários inconfessáveis. E isso faz parte de discutir uma nova forma de fazer política. Portanto, não se trata de novo e velho apenas pelos vocábulos em si.
Arthur Lira está certo quando diz que deputados não são empregados do governo. Não devem ser mesmo. Por isso que não se compra apoio com o toma lá da cá. É justamente aí que se estabelece a relação sadia, onde oposição e situação podem discutir pelos méritos e pelas visões de mundo que possuem, pois, oposição é essencial a qualquer governo. O preço da liberdade é a eterna vigilância.
Se a cobrança é por diálogo e esclarecimentos de pontos da Reforma, Arthur Lira está correto em cobrar e o governo federal – diferente do que muitos dizem – tem buscado isso, como por exemplo, na recente presença de Paulo Guedes, o ministro, nas discussões.
Ressalta-se também o papel da deputada federal Joice Halssemann, independente do que se acha dela. O próprio Arthur Lira reconhece que ela tem sido uma “apagadora de incêndios”. O que não pode é a coisa ser resolvida na base de distribuição de ministérios e estatais. Há muito o que fazer para se perder nessas mesquinharias.
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