A deputada Jó Pereira (MDB) fez mais um discurso na Casa de Tavares Bastos ressaltando o vocábulo mais presente do dicionário das articulações políticas na Assembleia: “independência”. Aliás, Pereira começou essa legislatura com alfinetadas no Executivo de Renan Filho (MDB), mesmo ambos sendo do mesmo partido.

O grupo político dela – que nunca esteve distante do opositor PP do deputado federal Arthur Lira e do ex-senador Benedito de Lira – inclinou mais ainda na direção pepista. Como em política, não há ponto sem nó (e quando há o nó sem ponto, todo político é expert em desatá-lo), Jó Pereira quer alçar voos maiores diante do espaço político que hoje ocupa.

É legítimo. É natural até de todo político!

No mais, é possível discordar das pautas de Jó Pereira. Eu discordo de quase todas. Ela já afirmou que tem um pé no cordão vermelho e no cordão azul, referindo-se às correntes de direita e esquerda. Eu digo sem medo de errar. Jó Pereira tem os dois pés nas ideologias progressista. Se tiver algo na direita, é o dedo midinho do pé direito que encosta no campo político liberal, mas só às vezes.

Porém, mesmo discordando, é inegável que é hoje uma das parlamentares mais atuantes. É incansável na participação de eventos, nos discursos da Assembleia Legislativa etc. Ouso dizer: há uma honestidade intelectual que a faz acreditar de fato naquilo que ela acredita. E isso é bom para a democracia, pois torna o ambiente legislativo plural.

Dito isso, vamos ao mais recente discurso de Jó Pereira. Ela iniciou o ano proclamando uma independência após a retaliação do governo nas negociações para eleger o presidente da Casa de Tavares Bastos, o deputado Marcelo Victor (Solidariedade). O governador emedebista queria emplacar o tio: o deputado Olavo Calheiros (MDB). Ninguém quis.

O grupo de Jó Pereira – por retaliação do Executivo – foi exonerado. Fernando Pereira deixou a Assistência Social.

Agora, o governador Renan Filho busca recompor a base para ter ampla maioria na Assembleia Legislativa do Estado de Alagoas. Os Pereiras devem voltar ao governo. A deputada estadual já se antecipa como quem diz: “olha, a minha independência continua aqui!”.

Mas porque digo isso? Bem, vejam a declaração da parlamentar na mais recente sessão ordinária:

“Alagoas precisa exercitar menos palanque e mais gestão (...) Não sou oposição ao governo, menos ainda ao jovem Renan Filho (...) Quero e desejo sucesso, tenho compromisso com Alagoas. Mas também não sou situação por ver contemplados amigos, conhecidos ou familiares na estrutura do governo. Esses são colaboradores convidados pelo chefe do Executivo ou por seus secretários, ou até indicados pelo grupo que, com orgulho, faço parte, as no sentido de colaborar com o sucesso do governo e não para pautar minha atuação parlamentar”.

Soa ou não como uma justificativa? Do outro lado: o Executivo deve esperar mais de Jó Pereira. Articulações não se fazem apenas pelas questões técnicas por mais competentes que sejam os colaboradores.

Ser situação ou oposição não é problema, assim como ser independente também não. A questão é a prática disso. Pereira tem a faca e o queijo na mão para um bom mandato nesse sentido.

Por exemplo, um deputado pode ser situação por acreditar no projeto macro de um governo e ser crítico ao pontual, justamente quando entender que este pontual prejudica o macro. Estar alinhada ou desalinhada a uma linha de pensamento de governo não é problema. O problema é fechar os olhos para os erros desse governo em relação à linha que se acredita.

O mesmo ocorre em ser oposição. É possível ser oposição ao macro, mas reconhecer acertos pontuais do governo aqui e acolá, mas entendendo que na condução maior, o governo leva o Estado para fins que se discorda. Quando classifico Davi Maia (Democratas) por oposição – por exemplo – é por entender que ele tem uma visão liberal e de direita que não está contida no macro do governo.

A pergunta que deve ser feita a Jó Pereira – portanto – é: qual a posição dela em relação à visão macro que o governo possui para Alagoas? Ela aprova ou desaprova? A independência está aí. Ou seja: em saber ser independente mesmo dentro dessa situação. Caso contrário, fica parecendo que ser situação ou oposição se faz simplesmente por troca de benesses, o que é prática comum nos parlamentos, e que a única posição correta é ser “independente”.

Que o discurso da deputada estadual não seja, portanto, mera justificativa em função da forma como se deu o início da legislatura. E quem dirá isso é a história e não eu. Logo, não julgo aqui. Julgarei com o tempo devido.

Pereira tem bandeiras que independem de governo A ou B. Julgo isso importante, ainda que minha visão contrarie tais bandeiras. Digo isso ao leitor para frisar: são estas – a partir de agora – que serão a régua da coerência da parlamentar. Em outras palavras, como ela reagirá a estes pontos quando em confronto com a visão do governo, no macro e no micro, em função do seu grupo político agora voltar ao Executivo. Ser oposição ou situação não é pecado por si só. São, aliás, duas facetas importantes da democracia.

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