Uma das características da real ofensa é o dolo. Ou seja: a real intenção de ferir alguém. É claro que também é possível causar mal a alguém sem querer e aí também se faz necessária a desculpa. Todavia, cabe o exame de consciência para saber se ferimos mesmo ou apenas nos deparamos com a histeria de alguns.
Em nossa época de hipersensbilidade, do politicamente correto como mera agenda política, o que vemos muito por aí são os "ofendidos" por procuração. Na realidade, trata-se de quem politiza tudo para tentar falar em nomes de "coletivos".
Aqui, para quem quiser se aprofundar no tema, indico o livro Crítica da Vítima, um ensaio de Daniele Giglioli que mostra claramente o quanto algumas pessoas se aproveitam politicamente disto para tentar - na linguagem pós-moderna da internet - "lacrar" com tudo para bancar os mais inteligentinhos de plantão, os descolados e colocar os outros como opressores por qualquer motivo torpe. Rogam para si a procuração de representantes de uma classe, minoria etc.
É óbvio que o preconceito e a ofensa injustificada a qualquer pessoa - independente de quem ela seja - deve ser combatida. Todavia, é preciso inteligência para entender quando realmente estamos diante de uma atitude preconceituosa e de quando estamos diante da histeria daqueles que se sentem os "justiceiros sociais".
Falo aqui do episódio envolvendo a deputada estadual Cibele Moura (PSDB). Nas vésperas do Carnaval, ela postou uma foto com uma fantasia de índia. Nada tinha demais. A parlamentar não fez qualquer agressão a quem quer que seja. Apenas usou a fantasia que quis e está no direito dela. Não houve dolo, não há intenção de ofender, muito menos de ridicularizar qualquer cultura. Ela não faz isso em momento algum.
Mas, ela foi alvo dos que se sentiram ofendidos pelos índios. Foram comentários que atribuiram a Moura uma intenção que ela nunca teve. Diante disso, mais recentemente - como mostra a Coluna Labafero - o deputado estadua Cabo Bebeto (PSL) saiu em defesa de Cibele Moura. Classificou os ataques à deputada estadual como "mimimi". Ele está correto.
Todavia, como defender quem pediu desculpas por um erro que não cometeu? É, Cibele Moura pediu desculpas pelo que não fez. Cedeu à pressão do politicamente correto. Que a parlamentar entenda que quando fazemos isso, damos voz a uma patrulha que sempre quer policiar o pensamento alheio e ferir a liberdade de expressão de forma seletiva.
Afinal, essa mesma patrulha não se manifesta quando - por exemplo - os símbolos cristãos servem de fantasia nos períodos carnavalescos ou protestos por aí com a intenção clara de chocar, como confessou um dos próprios carnavalescos da Gaviões da Fiel ao colocar a imagem de Cristo apanhando de Satanás em plena avenida.
A solidariedade de cabo Bebeto, apesar de correta, se faz inútil. É que Cibele Moura acabou por vestir a "fantasia" que quiseram colocar nela: a de "opressora" ainda que não tenha oprimido ninguém. Moura comete o erro de querer agradar a todos pela prática do bom-mocismo. Todavia, ela é jovem e pode aprender a brigar por sua liberdade de expressão e por posições sólidas e não apenas discursos genéricos. Tem estrada para isso e espero que pequenos episódios sirvam de lição.
No mais, antes que falem sobre a crítica à Gaviões da Fiel e aos símbolos religiosos, digo: não os faço pelo uso em si, mas sim pelo dolo. Há ali a intenção de ofender e chocar, o que torna a coisa diferente. Todavia, ainda assim não defendo a censura prévia. As pessoas possuem o direito de se manifestarem como quiserem e, a partir do que causam, responderem por isso.
No caso de Moura, pelas bandeiras que já vi defender (ainda que de forma genérica e dentro de discursos que me soam ensaiados demais), está uma clara preocupação com pautas do próprio progressismo. Moura já teve posições feministas, de defesa de minorias e até uma aderência ao politicamente correto.
Porém, como até aqui seus discursos são genéricos, não há nem o que concordar ou discordar, pois são diretrizes muito superficiais de um mandato que se inicia.
Até esta data fiz um único texto sobre uma de suas ideias: a única concreta até agora na Assembleia Legislativa. Ela apresentou um projeto para implantação da disciplina de empreendedorismo nas escolas da rede estadual de Alagoas.
O que disse sobre esse tema? A ideia é boa. A preocupação é válida e mostra uma intenção que me agrada, pois versa sobre uma preocupação com uma juventude que vem se formando sem perspectiva diante de um mercado de trabalho difícil.
Porém, a crítica que faço é do ponto de vista legal da matéria, uma vez que gera despesas para o Executivo e pode extrapolar as prerrogativas parlamentares. Agora, ali - naquela pauta - está algo interessante para o parlamento estadual discutir e buscar contribuir como pode.
Não vou, portanto, julgar Cibele Moura por sua "linhagem" política, já que o pai - Abraão Moura - é um conhecido articulador político de bastidores. Seria fácil e injusto com ela. Analisarei sempre - quando for relevante - o mandato de Cibele Moura pelo que ela produz. Ela é adulta e responde por ela mesma e espero que assim seja no parlmento estadual.
Por fim, cabo Bebeto está correto: a deputada estadual foi alvo do "mimimi". Mas reafirmo: é inútil solidariedade e defesa de quem baixa a cabeça diante da pressão. A frouxidão deslegitima o que teriamos a dizer. Uma pena!
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