Após uma ação realizada pela Comissão dos Direitos Humanos do Conselho Regional de Psicologia de Alagoas (CRP/AL), durante as prévias carnavalescas de Maceió, nesta sexta (22) e sábado (23), utilizando uma política de redução de danos, sobre o uso de drogas e álcool, gerar muita repercussão entre foliões e internautas, um dos idealizadores da ação esclareceu que a abordagem utilizada é reconhecida pelo Ministério da Saúde (MS).

A ação distribuiu panfletos que explicam e esclarecem maneiras ditas como “adequadas”, e com redução de danos à saúde para o uso de álcool e drogas. O conteúdo do material distribuído repercutiu de forma negativa entre os internautas e pessoas que participavam da festa.

O texto oferece explicações como qual o papel adequado para fumar maconha e chama atenção para que o consumidor observe o estado de conservação da erva. Para drogas que devem ser inaladas, como loló, lança perfume e thinner, a orientação dada no panfleto diz para não utilizar o material sozinho e esperar os batimentos cardíacos normalizarem entre uma doze e outra. Há dicas de redução de danos também para o uso da cocaína, LSD, Ecstasy, Crack e álcool.

A ação “(Res)pire: reduzir para aproveitar” é assinada pela Comissão de Direitos Humanos do CRP/AL e foi muito criticada nas redes sociais.

“Li e não acreditei”! Parece uma cartilha para que as pessoas aprendam a usar drogas”, escreveu uma internauta.

“Será que ações de combate não estão mais funcionando e por isso resolveram ensinar a usar”, diz outro post."

Um dos idealizadores da ação, o psicólogo Benjamin Vanderlei explicou em entrevista ao Cada Minuto, que todo o trabalho realizado é baseado em uma política do próprio Sistema Único de Saúde (SUS) e reconhecida pelo Ministério da Saúde (MS).

“Aquilo que a gente trabalhou na ação é baseado numa política do próprio Sistema Único de Saúde (SUS). É uma política reconhecida pelo Ministério da Saúde (MS), através da Portaria nº 1028, de 1º julho de 2005. É uma portaria sobre o uso de drogas e redução de danos pautada pelo próprio, MS, ou seja, pelo governo Federal”, explicou o psicólogo.

Segundo a Lei, no âmbito da psicoterapia a redução de danos, conhecida no meio como RD, corresponde a uma abordagem ou perspectiva e é utilizada para proporcionar uma reflexão ampliada sobre a possibilidade de diminuir danos relacionados a alguma prática que cause ou possa causar agravos.

A RD é também uma política pública oficial da saúde no Brasil, e de diversos outros países, para lidar de forma adequada com problemas que podem ser gerados pelo uso de álcool e outras drogas. E, segundo a portaria, não pode ser confundida com incentivo ao uso de drogas, embora fundamente-se no princípio da tolerância ou respeito às escolhas individuais.

Benjamin Vanderlei disse que a equipe que executou a ação imaginava que iria repercutir de forma que as pessoas tivessem contato com a RD para entender o seu significado, mas não imaginaram que tomaria uma proporção negativa.

"Em certa medida, nós imaginávamos que iria repercutir para as pessoas que tivessem contato e saberem o que significa uma política de redução de danos. Mas, não de tomar uma proporção, por exemplo, de acharem que talvez estamos incentivando ao uso de alguma coisa. Porque pelo contrário, é uma política de saúde e a gente esperava uma recepção das pessoas dizendo: ‘Olha, eles estão promovendo uma política de saúde’! Esse era o esperando que a gente entendia que iria acontecer com essa ação, mas não uma repercussão negativa.  Imaginávamos que talvez tivesse, mas que não tomasse proporções tão grande”, ressaltou.

Apesar das críticas, o psicólogo disse que a ação pretende estimular o debate sobre essa política, para que as pessoas entendam o que significa a política de redução de danos.

“É uma política que vai muito além da iniciativa privada, no sentido que é uma política de saúde e que é reconhecida pelo MS. Pretendemos continuar levantando esse debate, sobre a política de redução de danos, sobre o uso de psicoativos e a influência que isso tem. Para que as pessoas tenham conhecimento e possam saber o que significa. Estamos fazendo um trabalho que é um trabalho de Estado, não é um trabalho feito por qualquer pensamento. A gente quer mesmo estimular esse debate, para que as pessoas entendam o que significa”, finalizou Benjamin Vanderlei.

 

*Estagiária sob supervisão da editoria