Já comentei aqui em outro texto que o grupo político do qual faz parte a deputada estadual Jó Pereira (MDB) - que tem uma linha mais progressista na Casa de Tavares Bastos, como a defesa das questões de gênero, dentre outras - anda cada vez mais distante das esferas palacianas. Recentemente, alguns membros desse grupo até entraram no PP, partido do ex-senador Benedito de Lira e do deputado federal Arthur Lira, que foram coordenadores da oposição. 

É claro: nunca estiveram distantes também. Pereira votou em Benedito de Lira.

Jó Pereira ainda é do partido do governador Renan Filho (MDB). Se será por muito tempo ou não, é outra história. Mas se reelegeu na composição política que levou Renan Filho de volta ao Executivo. 

Dito isso, seria injusto dizer que Jó Pereira já não criticou o governo estadual em outros momentos. Sim, o fez. Mas no limite de uma base governista. Todavia, ao contrário de muitos na Casa, sua atuação se firmou em uma identidade no primeiro mandato. Pode-se criticar - como eu já fiz - os valores que a parlamentar defende, mas não se pode dizer que não houve coerência da deputada da diversidade. Não falo em tom de crítica, mas por saber que é bandeira cara a ela. 

Tanto que ela foi contraponto a quem tinha o pensamento mais liberal. No caso, por exemplo, o deputado Bruno Toledo (PROS). Não foram raros os embates de ideias entre os dois, mas sempre respeitosos e pautados por suas convicções. Em minha visão, mesmo pensando o contrário da linha mestra do madato progressista de Jó Pereira, acho que tais embates enriquecem o parlamento e mostram ao eleitor quem é quem para que ele decida. 

Acho até um ganho o retorno de Pereira à Casa e espero debates firmes com os mais liberais como Davi Maia (Democratas). Que eles surjam. Enriquece a Assembleia.

É bem melhor do que os muitos deputados que entram mudo e saem calados do parlamento estadual, como foi o caso de Severino Pessoa - atualmente deputado federal - e Marquinhos Madeira. Estes, nulidades na produção de pensamento. Logo, mesmo discordando de Pereira em quase tudo, tenho respeito por ela e por seu mandato. 

Agora, na nova legislatura, ela chegou - para dizer no popular - "chutando o pau da barraca". Reflexos das movimentações políticas do grupo que faz parte? Difícil afirmar ainda. Agora, eu afirmo por conta e risco: Jó Pereira e seu grupo político estão em busca de maior protagonismo, sobretudo na avenida aberta carente de novas lideranças. Não estranhem se Jó Pereira, em futuro próximo, for nome cogitado para alianças políticas em Maceió. Em maior espaço de tempo, presença disputada nas disputas estaduais. 

Claro, se indagarem isso à deputada, ela dirá o óbvio: "Ainda é muito cedo". Aposto nisso. Todavia, os ventos da política são os ventos da política não é mesmo?

Na sessão passada, Jó Pereira conseguiu trazer para si o que deveria ser uma busca de todo parlamentar ao levar um tema à Casa: o centro das atenções. É o que garante repercussão e faz nascer resolutividade para o que é debatido. Ela defendeu uma Assembleia Legislativa proativa e mais independente. 

E nesse gancho, fez cobranças ao Executivo, como resolução do atraso do pagamento aos pequenos e médios produtores rurais que atuam para  Programa do Leite em Alagoas. Eles estão - segundo a deputada - sem receber há 120 dias. Sim, o assunto é sério. O foco acertado. 

Claro, em seu discurso teve seu toque de defensora das minorias ao falar de feminismo. 

Ao seguir falando do Estado, lembrou que o governo terá apoio em seus acertos, mas também terá o confronto necessário quando for preciso. É um discurso de linha de independência que para o bom entendedor bastam meias-palavras. 

E o confronto já veio: Pereira foi dura ao falar da questão dos produtores de leite. Eis um trecho: "O governo de Alagoas tem ou não tem condições de permanecer com o programa? Se tem, em que tamanho? Precisamos saber”, cobrou. E aí, Renan Filho: tem ou não tem?

Mas não é só isso: Jó Pereira destacou urgência na aplicação do Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar, o PAA Alagoano.

“No ano passado sofremos contingenciamento e cortes fortes nos PAA’s de execução por parte de órgãos federais. Um pouco foi realizado pela Conab, outras execuções pela Emater, mas com recursos do governo federal. O nosso PAA Alagoano não pôde ser efetuado porque era uma lei recente e por isso, em ano eleitoral, não era permitida sua execução no período”, disse.

Agora, vejam: Jó Pereira disse que não tem pé na direita ou ná esquerda, mas sim os dois pés no chão, na consciência de que temos que defender sempre o Estado democrático, do direito ao desenvolvimento socioeconômico do indivíduo e do coletivo, combatendo desigualdade e privilégios, avançando sempre calçados em planejamento de políticas públicas de Estado". 

Bem, levando em consideração as pautas travadas por Pereira na legislatura passada, digo: ter os pés no chão não elimina ter um viés de pensamento mais à direita ou mais à esquerda. Tirar os pés do chão é, aí sim, enxergar a realidade apenas por prismas ideológicos de uma determinada concepção política, pois toda ideologia possui suas falhas na tentativa de racionalizar todo o comportamento humano dentro de uma caixinha. O indivíduo é sempre maior que isso e bem mais complexo, mesmo que tenha a tendência para um lado ou para o outro.

Jó Pereira busca sim ter os pés no chão procurando o encadeamento lógico e argumentos plausíveis para o que defende. Ela é uma paramentar inteligente e com talento natural para a tribuna.

Mas, Jó Pereira, Oh, Jó Pereira, convenhamos Jó Pereira, é inegável que suas convicções possuem um pé e meio na esquerda, bastando observar as bandeiras abraçadas. É só ler realmente o que é direita e esquerda sem cair em espantalhos por ambos os lados. Um dia eu até posso detalhar isso melhor...

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