Em minha visão, o presidente estadual do PSL, Flávio Moreno, acerta quando diz que o episódio dos "áudios vazados", que mostram conversas do presidente Jair Messias Bolsonaro (PSL) com o ex-ministro Gutavo Bebianno, é uma "crise passageira". Afinal, não vai durar os próximos quatro anos do governo de Bolsonaro.
Todavia, há pontos que merecem ser esmiuçados, e aí não é apenas uma avaliação do tempo de crise, mas sim do que ela provoca e das sequelas que deixa. Está aí o que o PSL deve pensar e repensar. Há um fato grave e inegável: o uso de pelo menos uma candidatura laranja pelo partido no Estado de Pernambuco.
Não é segredo que antes das transformações pelas quais o PSL passou - lá atrás com o Livres e mais recente com o Bolsonaro - a legenda veio tentando se mostrar como uma alternativa de convicções sólidas em determinados valores. Claro: no Livres, um conjunto de valores. Com Bolsonaro, outro conjunto. Tanto que houve a debandada dos membros do Livres quando Jair Messias Bolsonaro ingressou na agremiação.
A construção dessa imagem teve efeito: muita gente se elegeu e teve crescimento político no "efeito Bolsonaro".
Mas, independente desses conjuntos de valores, uma mensagem: uma sigla diferente. Se velhas práticas são apontadas, é preciso que o partido se diferencie das estruturas que critica e apoie em todas as suas esferas investigações por parte da Polícia Federal (PF). De forma profunda e doa em quem doer. Creio que Moreno concorda comigo.
Problemas há em todos os partidos e instituições onde há humanos. Ninguém está a salvo disso. A diferença é como se lida: trazendo à luz ou esperando a tempestade passar para jogar para debaixo do tapete. Nesse caso, não há elemento que jogue Bolsonaro dentro dessa crise. Ao contrário, mostra - inclusive nos áudios - que o presidente foi tomado de surpresa e determinou investigações. Ou seja: parece ter escolhido a luz.
Nos áudios, Bebianno trata do tema uma única vez: diz que não tem nada a ver com o fato e que também apoia as investigações. Joga a responsabilidade da esfera estadual de Pernambuco no parlamentar Luciano Bivar. O presidente Bolsonaro acerta ao determinar as investigações e ao agir politicamente de forma a evitar que a bomba caia em seu colo.
Agora, faltou um pouco de inteligência política de todas as partes para lidar com a crise e esta foi prolongada. Não se governa pelas redes sociais e nem com ímpetos, ainda mais quando se sabe que se lida com uma parcela da mídia que se guia por narrativas e busca - por convicções ideológicas - desestabilizar o governo a qualquer custo. Isso é uma realidade.
O que não quer dizer que todos os críticos se guiem por isso. Alguns buscam a crítica - como tem que ser - em nome do jornalismo isento e verdadeiro. E aí, se há o que criticar tem que ser criticado. E o fato envolvendo o PSL é um deles. Não é uma questão de governo, evidentemente. Mas um problema dentro da agremiação que elegeu o presidente e coloca nomes importantes como alvo: Bebianno e Bivar. Natural que acabe resvalando no governo mesmo sem ter a ver com a administração do país. A crise é política.
Em todo caso, imprensa livre sempre!
Dito isto:
Gustavo Bebianno - pelo lugar que ocupou - deveria ter a confiança do presidente Jair Bolsonaro. Aqui, um problema que não é a questão evolvendo o PSL: os áudios demonstram uma insatisfação de Bolsonaro com várias ações que estavam sendo adotadas pelo ex-ministro em tão pouco tempo de governo. A confiança foi se desgastando.
Bolsonaro responsabiliza Bebianno por vazametos seletivos e estratégicos na imprensa; de uma reunião sem sentido com um executivo do Globo (o que é bem diferente de se reunir com a imprensa. Afinal, os interesses de um jornalista ao buscar uma fonte do governo não são os mesmos de um executivo empresarial ao buscar se aproximar deste. É claro que a questão era um alinhamento editorial e isso tem um preço); e de uma ação intempestiva de anúncios de obras na Amazônia, onde o chefe do Executivo pede, no mínimo, mais cautela.
Nota-se ainda o seguinte no vazamento desses áudios: a conversa se dá de "um para um" - entre Bolsonaro e Bebianno - e o primeiro áudio não foi vazado, mas exposto por Carlos Bolsonaro, filho do presidente, com todos os riscos que este correu na intepretação a ser dada pelas narrativas. Porém, depois se fala em áudios vazados, para colocar o presidente como mentiroso. Ora, se não foi Bolsonaro que vazou o restante da conversa, as suspeitas recaem todas sobre Bebianno.
Isso só mostra que a relação de confiança entre os dois estava extremamete abalada e a questão não era apenas o PSL. Bebianno - diante desse quadro - não duraria muito no cargo. A diferença é que poderia ter sido construida uma saída honrosa ou até mudança de função, o que - em contexto diferente - poderia até ter amenizado a crise. Em todo caso, vejam só: para provar que não vazava nada a imprensa, Bebianno pode ter vazado os áudios. Interessante...
As sequelas do ocorrido é que devem ser a preocupação do governo agora. Quanto ao que ocorreu no PSL de Pernambuco que seja assunto dos órgãos de investigação, com exceção do surgimento de novidades que venham envolver outras pessoas do governo.
O governo agora deve ter foco nas reformas que quer aprovar: Previdência, Leis Anti-crimes e outros projetos que vão surgir. Trabalhar para dissipar a crise política e tirar lições sobre o uso indiscriminado das redes sociais. Não dá pra ficar remoendo e alimentando crises. Que a lição seja: a prudência de lidar com os fatos, com rotas de colisões públicas, mas sem provocá-las ou alimentá-las. De toda forma, com um áudio vazado o que se percebe é que o que envolve o partido foi só a cereja do bolo na relação com o ex-ministro.
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