A Coluna Labafero, aqui no CadaMinuto, mostrou a troca de farpas entre o deputado federal Paulo Fernando dos Santos, o Paulão (PT) e o senador Rodrigo Cunha (PSDB) por conta do processo da eleição para a presidência do Senado Federal.
Em que pese eu já ter tecido críticas a ambos, como também já ter elogiado Paulão quando este foi deputado estadual, por algumas de suas posturas, neste caso digo sem medo de errar: Paulão falha miseravelmente ao tentar associar Rodrigo Cunha ao presidente Jair Messias Bolsonaro (PSL).
Primeiro: Rodrigo Cunha - como todo tucano de destaque que conheço - buscou passar batido nas eleições presidenciais. Apoiou - no primeiro truno - o presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB) e na Assembleia Legislativa, quando deputado estadual, manteve posturas que o associam a uma visão social-democrata mesmo, muito longe de visões totalmente liberais, quiçá conservadoras.
No segundo turno, foi um político no estilo "sabonete", cuidando mais de sua própria campanha do que qualquer outra coisa. Evitou algumas bolas dividas, ao mesmo tempo que se alinhou com pelo menos um político da "velha política" em Arapiraca: o deputado federal Severino Pessoa (PRB): aquele que no parlamento estadual entrou mudo e saiu calado!
Todavia, isso não apaga a boa passagem de Cunha pelo parlmento estadual. Longe disso! Não se envolveu em escândalos, apresentou projetos dentro de sua linha de pensamento e participou de debates produtivos na Casa de Tavares Bastos. Isto lhe rendeu um capital político. Tudo graças as suas próprias ações e uma boa estratégia de marketing, o que é legítimo e faz parte do jogo.
Paulão aponta que, no Senado Federal, Cunha votou contra o senador Renan Calheiros por se associar à visão do governo de Jair Bolsonaro. Isto é falho! Motivo? Bem, desde a Assembleia Legislativa que Cunha faz oposição ao grupo de Calheiros e, consequentemente, ao governo Renan Filho (MDB).
Ao lado do deputado estadual Bruno Toledo (PROS) - ainda que ambos tenham estilos completamente diferentes - Cunha foi um dos poucos opositores daquela Casa. Desde ali, pela correlação de forças locais, já era oposição. Tanto que, no ninho tucano, torceu por uma candidatura do prefeito Rui Palmeira (PSDB) ao governo do Estado de Alagoas. Esta candidatura não veio.
No período eleitoral, por força das circunstâncias das alianças políticas, Cunha foi candidato ao Senado Federal com um discurso de oposição tanto a Renan Calheiros quanto ao seu companheiro de chapa: o ex-senador Benedito de Lira (PP). Cunha também foi contrário ao candidato ao governo de sua chapa: o senador Fernando Collor de Mello (PROS), que acabou desistindo da candidatura e substituído pelo delegado aposentado da PF, José Pinto de Luna (PROS).
Sendo assim, era natural que Cunha não votasse em em Renan Calheiros e nem em Fernando Collor para a presidência do Senado. Seria um contrassenso com suas posturas prévias, independente de Bolsonaro.
Em Alagoas, quando - ainda durante o processo eleitoral - foi apontado como eleitor de Jair Messias Bolsonaro, Cunha repudiou a posição mesmo tendo - entre seus eleitores - muitos eleitores do presidente. Apanhou dos dois lados, mas manteve uma parcela significativa de eleitores que queriam mudança. Se Cunha corresponderá à expectativa ou não, aí é com a História. Aguardemos...
Lembro disso por ter criticado a postura mansa de Rodrigo Cunha, que parecia - em momento tão decisivo de uma eleição claramente plebiscitária - subir no muro para buscar estar de boa com todo mundo.
Rodrigo Cunha está longe de ser um político de direita, em que pese ter muitas qualidades na vida política. Porém, quando o assunto é "direita versus esquerda", seu discurso entra naquela área nebulosa da isenção. Não é uma crítica, mas uma constatação.
Não faz sentido a fala de Paulão.
O deputado federal - este sim, calheirista desde a eleição - na realidade partiu em defesa do senador Renan Calheiros. É direito de Paulão defender o que ele acredita, mas impor uma visão binária sobre os adversários para colocá-los contra a parede é uma bobagem, ainda mais sendo conhecedor do processo político alagoano e sabendo quem é Rodrigo Cunha.
Para além disso, a dobradinha PSDB e Democratas é tão antiga quanto pergaminhos egípicios.
Agora, e se Rodrigo Cunha passar a apoiar Bolsonaro? Qual o problema da escolha política de acreditar em projetos que visam reformas estruturantes? É uma escolha! Assim como há oposição, há situação e, elas por si mesmas, são ambas legítimas. Não há o que se envergonhar em uma posição assumida. Basta defendê-la. O que faz vergonha são os argumentos a serem usados a partir daí, quando corresponderão ou não à realidade.
Acaso não causaria vergonha a defesa de um partido que se envolveu nos mensalões da vida, nos petrolões, que apoia Zé Dirceu, que tece comentários elogiosos a ditaduras como as de Venezuela e Cuba, que fez parte do Foro de São Paulo, que tem seus esqueletos no armário, que agigantou o Estado ainda mais e que promoveu um esquema de corrupção monstruoso em nome de um projeto de poder? O PT tem isso no histórico, em que pese também ter alguns acertos no governo, como a manutenção da matriz econômica no início da Era Lula e a unificação dos programas sociais em torno do Bolsa Família, que é até um projeto liberal.
Porém, os erros do PT não podem apenas ser chamado de erros. São crimes!
"Ah, mas e o caso envolvendo o senador Flávio Bolsonaro?", indagarão alguns. Como qualquer outro político que se envolva em escândalos, o senador do PSL que se explique bem explicado. Até agora não me convenceu. Só não perco o senso de proporcionalidade e separo as coisas. Um coisa é o caso Flávio Bolsonaro que tem que ser investigado sim. E aí, se deve, que pague. Outra coisa são as propostas de um governo que devem ser analisadas por suas consequências na vida do cidadão.
Nada impede de Rodrigo Cunha fazer essas análises e decidir o que apoiará ou não. O ataque de Paulão a Cunha é bobo, pueril e só se jutifica na defesa necessária aos Calheiros. Não foi dessa vez que Paulão emparedou Cunha!
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