Deveria ter tratado deste tema ante, mas confesso que só vi no dia de ontem as declarações do parlamentar João Henrique Cadas e elas me chamaram atenção pelo que é genérico. O deputado usa vocábulos impreciosos – que dependem de contextos e daquilo que outros parlamentares podem entender – para se colocar como um advogado dos pares. Então, aqui vai uma reflexão sobre o assunto.

O deputado federal João Henrique Caldas (PSB) resolveu dar uma “lacrada”, pelo que leio no blog da jornalista Vanessa Alencar. Em plena campanha pela presidência da Câmara de Deputados, JHC afirma que “o tempo de atacar, ameaçar e desrespeitar um deputado no exercício do seu mandato acabou”. Como presidente, ele promete ser o advogado de cada um dos parlamentares da Casa.

O problema é que o “atacar” e o “desrespeitar” precisam ser melhores definidos, inclusive o “ameaçar”. Pois, não raro, são os muitos parlamentares que são alvo de críticas de seus próprios eleitores e por setores da imprensa em função de ações e opiniões que estes mesmos dão. Como uma democracia não se encerra no voto, é direito do cidadão essa crítica que por vezes se faz pelo deboche, pela sátira, pelo humor e por tudo aquilo que pode ser tido como “ataque” ou “desrespeito”.

Não é a população que tem que respeitar inicialmente um parlamentar. É ele que tem que respeitar a função nobre para a qual foi eleito. O voto é uma aposta com base na expectativa do que o eleito possa fazer pelo bem-comum. Ao menos assim deveria ser.

O parlamentar é o empregado e nós somos os patrões. E as Vossas Excelências – muitas vezes – se comportam como vossas excrescências mesmo. E aí, não há como manter o respeito por quem primeiro não respeita a população.

É claro que há críticas injustas e ameaças. Estas sim, podem ser rebatidas levando em conta a proporcionalidade. Cada parlamentar pode agir por si. Para as primeiras e para as segundas, os deputados federais não precisam de um presidente de Poder que seja advogado, pois possuem diversos assessores cada um deles e todo um aparato jurídico para as medidas cabíveis. Por exemplo, quando alvo de calúnia, injúria e difamação, qualquer um pode recorrer à Justiça. Quantos não já fizeram.

Isto nunca foi um problema e não é o que leva o parlmento ao descrédito profundo que tem hoje. O Congresso se colocou nessa posição. Por lá, há projetos que parecem piadas. Então, como levar muitos dos nossos representantes a sério? Claro, o eleitor tem parcela de culpa nisso.

Logo, o discurso de JHC está longe de ser uma prioridade. Como candidato à presidência, deveria estar mais focado nos reais problemas de um Congresso que perdeu sua credibilidade por culpa própria, após legislaturas em que seus membros foram envolvidos nos piores escândalos desse país, haja vista mensalão, petrolão e Operação Lava Jato.

O espírito corporativista na Casa não tende a ajudar. A altivez do Poder – que é essencial à democracia – pode ser resgata por meio de um candidato à presidência que se comprometa com reformas estruturais necessárias ao mesmo tempo em que se mostrará crítico a estas na busca por prevalecer o que é bom para o Estado e para a população.

JHC poderia sê-lo. É um parlmentar jovem, com ideias oxigenadas e antenando com mudanças de rumos. Só precisa ajustar discurso e foco. Preocupa-se menos com marketing e mais com conteúdo. Pois, ele é sim uma boa aposta.

Esta posição definida, aí sim, fará diferença. Quanto aos deputados, cada um que responda por seus atos e sofra as consequências, que podem ir da crítica às zombarias nas redes sociais. Muitas vezes, ridicularizar um político é o que resta ao cidadão para colocá-lo um nível abaixo do panteão dos deuses construídos pelas benesses que já possuem.

Cito aqui o caso envovendo o humorista Danilo Gentilli quando recebeu uma moção de censura do Congresso Nacional por “ofender” uma parlamentar com uma piada. Para JHC, isto seria uma ameaça? Um ataque? Que ele possa definir melhor o seu discurso, pois – repito - é sem dúvida um parlamentar atuante que já se compromissou com boas bandeiras, como quando defendeu os usuários de internet, dentre outras pautas. E demonstrou isso até quando foi deputado estadual em Alagoas.

Sendo assim, não digo aqui que JHC seja um deputado ruim. Longe disso! Já elogiei algumas de suas ações e mantenho o elogio. Porém, sua recente fala coloca uma indagação que não passa batida por mim. Até onde irá um espírito corporativista? Uma coisa é defender o Poder, que é obrigação do presidente e de todos os parlamentares. Outra coisa e ofertar uma solidariedade irrestrita a cada um de seus membros quando alvos das consequências da forma como atuam nesse parlamento.

Espero que não seja este o sentido do discurso de JHC.

Sem contar que a fala de JHC se dá no momento em que o deputado federal Jean Wyllys deixa o país se dizendo ameaçado. Não passa pela cabeça de JHC, Wyllys está promovendo uma narrativa para virar um pseudo-herói lá fora brincando de exilado. Aconselho ao nobre deputado, que procure no youtube a análise feita pelo jornalista Caio Copolla. Ela é cirúrgica.

Cabe à Polícia Federal investigar as supostas ameaças a Jean Wyllys e mostrar a real potencialidade destas. A mais grave delas, até aqui, tem o ameaçador preso. É o mesmo que também ameaçou o senador Magno Malta.

O que há com Jean Wyllys é um parlmentar em descrédito. Que caiu de mais de 140 mil votos para pouco mais de 24 mil e acabou sendo puxado por Marcelo Freixo (PSOL). Muitas das críticas que Wyllys sofreu não foram ataques, mas sim oposição ao que suas ideias representam. No entanto, digo, se há alguém que ameaçou o deputado, este alguém tem que pagar por isso. Para isso, existem órgãos de investigação e a Justiça.

O parlamento não precisa de um presidente que seja advogado de cada um dos deputados federais. Muito menos que este presidente abdique de suas funções para ir fazer sustentação oral em tribunais superiores. O palamento precisa de um presidente que trabalhe para recuperar a credibilidade do Congresso, sabia direcionar a pauta, dar espaço às diversas correntes de pensamento que o forma, e manter a relação de independência e harmonia entre os poderes.

Claro, fará parte do presidente também a defesa das prerrogativas de seus pares para que tenham o justo julgamento por suas ações, sejam internamente – como na Comissão de Ética – ou externamente. Mas isso não é um corporativismo irrestrito. Portanto, essa história de atingiu um deputado, atingiu o plenário ou “mexeu com um mexeu com todos” é o tipo de falácia que fica bonitinha na boca de atores globais.

Quero o direito de mexer com os deputados, de satirizar quando merecido, de apontar o dedo quando achar que devo, pois é cidadania também. Afinal, assim como tantos brasileiros, eu pago a conta e quero que a bodega funcione direito.

Estou no twitter: @lulavilar