Eis que blog Brasil News se dispôs a fazer uma matéria sobre as fakenews produzidas contra o senador Renan Calheiros (MDB). Bem, o senador Renan Calheiros é um político alvo de polêmicas e, obviamente, ele tem consciência disso. Como todos que estão em polêmicas, deve sim ser alvo de muitas notícias falsas e outras verdadeiras.

Mas estas notícias falsas seriam as responsáveis pelo desgaste de Renan Calheiros perante parcela da opinião pública? Claro que não!

Quanto a estas notícias falsas - assim como qualquer cidadão - Renan Calheiros tem todo o direito da reposição da verdade. Todavia, creio que a reportagem em questão se equivoca ao pontuar seus argumentos para falar em "fakenews" em alguns dos casos.

Primeiro, começa afirmando que a maior parte dos grupos que tem usado a hastag #ForaRenan é de apoiadores e eleitores do atual presidente Jair Messias Bolsonaro (PSL). E daí? Isso não diz absolutamente nada. Ainda que verdade seja, é o mesmo que dizer que a hastag #LulaLivre é utilizada por apoiadores do PT e/ou eleitores de esquerda de uma forma geral. Isto não diz absolutamente nada sobre as informações com a hastag.

O que diz sobre a informação e sua qualidade é esta informação em si. Pouco importa neste caso quem vota em quem. As pessoas - de uma forma geral - possuem o direito de manifestarem suas posições e assim gostarem ou não de Renan Calheiros. A validade dos argumentos será utilizada de outra forma. O que a matéria quer dar a entender é que há uma mobilização governista por trás dessas exposições, ou que estas são articuladas por grupos específicos sabe-se lá com quais interesses. Não diz, mas fica subentendido.

Dito isso, elenca pontos que foram debatidos desde antes das eleições, como - por exemplo - a relação entre o senador Renan Calheiros e o andamento da Operação Lava Jato. Faz parte do jogo político falar dos inquéritos que possuem ou possuíram Renan Calheiros como alvo.

Alguns, foram arquivados e Calheiros se livrou do peso. Mas, o desgaste político é inevitável.

O problema é que as críticas às movimentações políticas do senador são rebatidas com declarações oficiais do próprio Renan Calheiros. Uma coisa é falar dos bastidores da política, em que se sonda e publica o não dito. Claro, aí podem haver mentiras e verdades. Outra coisa são as falas oficiais de políticos de uma forma geral, que se posicionam estratégicamente e pensando cirurgicamente no impacto de suas declarações. Logo, também nestas podem existir mentiras e verdades.

Nunca é demais esquecer que as polêmicas em torno da posição de vários políticos do MDB em relação à Lava Jato nasceram com substâncias factíveis. O momento do projeto de lei de abuso de autoridade veio em que contexto? As gravações envolvendo Romero Jucá? Etc. Tudo isso serviu como termômetro de bastidores. Ah, mas publicamente Renan Calheiros se posicionou favorável a Lava Jato, dizem alguns. Vocês acham que seria diferente?

Isto não é afirmar que Renan Calheiros é culpado ou inocente. Não! A avaliação é política. A Lava Jato provocou uma sangria que passou a ser temida por vários detentores de mandato, pois ninguém sabia ao certo onde daria. Claro, em dezembro de 2016, Calheiros considerou a Lava Jato "sagrada". Afinal, no ano seguinte era eleição e a Lava Jato estava nas graças do povo.

Mas, nesse contexto e por conta dos desdobramentos da Lava Jato, Renan Calheiros também já comprou brigas. Eis uma de suas declarações: "E vão seguir divertindo a plateia...Mandam prender o Pezão porque o pé cresceu demais; mandam Adib Assad citar Serra, Alckmin, Marta; fazem outra denúncia contra o Lula, desta vez por ter recebido doação para o Instituto (só quem pode receber por palestra é o Dellangnol)...aproveitam também e mandam Pallocci fazer uma nova delação. Entre eles, alguém questiona: e a prova? E outro responde: nunca precisamos de prova. E o jogo continua..."

Cada um que fique livre para suas análises. Mas não é tão simples como apenas pegar uma ou outra declaração dada por um político e tomá-la como absoluta verdade para estabelecer que todo o resto é falso.
Um dos princípios básicos é justamente o ceticismo em relação às declarações oficiais. Afinal, se as declarações oficiais fossem a verdade pura, que razão teria a imprensa para especular e publicar sobre os bastidores do governo Bolsonaro? Era só esperar pelas declarações do atual presidente e acreditar nelas.

Mas, a imprensa não pode se prender ao oficial. Políticos possuem seus interesses e muitas falas fazem parte do plano.

A reportagem também diz que é falsa a informação de que Renan Calheiros é anti-Moro porque - em novembro do ano passado - o senador elogiou a indicação de Sérgio Moro para o Ministério da Justiça: "A presença do Moro no governo é muito importante, sem dúvida ele qualificará o novo governo". Claro, o contexto era outro.

Eu não sei se Renan Calheiros é anti-Moro ou não. Para mim é preciso muito mais que a fala do próprio Renan. Sabe como é: em relação a qualquer político, eu prefiro ser cético. Mas o que digo é que ele já teve dias menos amigáveis com Moro, quando defendeu com unhas e dentes a liberdade do ex-presidente condenado Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula (PT).

Querem um exemplo?

Bem, Renan Calheiros já disse o seguinte sobre Moro: "juiz de exceção". O acusou - em outras palavras - de querer estar no lugar do Supremo Tribunal Federal (STF), descredibilizando assim uma sentença. "Um juiz de exceção não pode substituir, por mais que queira, o Supremo Tribunal Federal. E aí, por conta dessa polarização, o entendimento de que ser julgado pelo Supremo não é ser julgado pela Justiça. Nessa excepcionalidade que vivemos, tem de ser julgado pelo juiz de exceção", colocou.

Claro, Calheiros tem todo o direito de discordar do conteúdo de uma sentença. Mas, veja que ele vai além e ataca o juiz, colocando-o como um autoritário e respondendo a uma "polarização" e não ao que se encontra na legislação. Discurso que remete a ala mais radical da esquerda. Só que Renan sempre faz de forma cirúrgica. É muito mais inteligente que estes radicais.

O contexto era uma defesa da acusação à Dilma Rousseff (PT) de querer blindar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2016.

Fica aí para as análises do leitor.

Nem sempre houve esse apoio a Moro e - mesmo quando o juiz foi indicado ministro - Renan Calheiros também já fez críticas mais amenas, como discordar de uma proposta de Medida Provisória. Mas, aí, uma discordância normal, pois estava apenas no campo das ideias. E creio eu que, naquele momento, Calheiros tinha razão. Tenho desconfianças de quem abusa de MPs.

Sobre o episódio de boicote a Flávio Bolsonaro (PSL). Bem, aí são declarações de Renan Calheiros que - de forma pública - relamente disse que o futuro senador não pode ser investigado nem no Rio de Janeiro e nem no Senado contra informações de bastidores, que dão conta de que o filho do presidente foi tratado como um adversário na disputa pela presidência da Casa, logo nos momentos iniciais dessa discussão. Realmente, difícil saber onde se encontra a verdade.

O fato é que Flávio Bolsonaro precisa realmente explicar os pontos contraditórios das acusações que pensam sobre ele. Assim como tem que fazer qualquer político. Flávio Bolsonaro sofre o desgaste por isso e acabou sendo descartado em qualquer disputa pela presidência do Senado, pois a política não perdoa e nem espera pela Justiça.

O capital político que forma a reputação de seu dono é julgado bem antes disso na opinião pública. É um fato.
Daí políticos de forma geral pensarem sempre muito cirurgicamente nas narrativas e como encaixar suas declarações oficiais nestas. Ora, se o pressupoto de qualquer político é este, a verdade é secundária. No caso de Flávio Bolsonaro, ainda foi alvo da narrativa que a esquerda sempre esteve a espera sem que esta se importe com o que é verdade ou não.

Por fim, a matéria fala que é falso que Renan Calheiros quer criar um Senado "opositor" a Bolsonaro. Ora, meus caros, Renan Calheiros é um animal-político e a forma como muda de posicionamento, como quando disse ele mesmo, que deixou de ser estatista para tornar um liberal, já é prova suficiente de sua mutação em busca da adaptação. Logo, difícil previsões sobre as convicções de Calheiros.

O que se tem de concreto é que: o homem que hoje se aproxima do governo é o mesmo homem que andou de braços dados com o PT e fez uma defesa ferrenha de Lula, Dilma. O homem que construiu a aliança entre o MDB e o PT em Alagoas. Que tem um histórico ligado ao Partido dos Trabalhadores. O homem que trabalhou para salvar os direitos políticos de Dilma Rousseff no impeachment.

Será que o eleitor de Bolsonaro - caso esses grupos sejam apenas de eleitores de Bolsonaro mesmo - não possuem o direito à desconfiança em relação ao "novo Renan"?

Logo, não se trata de fakenews alguma contra Renan Calheiros nesse caso. Trata-se sim de um sentimento de parcela da opinião pública que não quer o emedebista presidindo o Senado Federal.

E isso por uma série de elementos que se acumulam na recente História da política brasileira.

E aí, podem juntar todas as declarações oficiais que Renan Calheiros já deu a imprensa ou em seu twitter. A conclusão sempre será a mesma: fatos nos quais esse sentimento anti-Renan se apoiam sempre existirão. Existirão tambem fakes, pois há mesmo quem as invente. Mas, bastam os fatos, ora bolas.

Estou no twitter: @lulavilar