O ano é 2017. Renan Calheiros concede entrevista ao Jornal Valor. Eis a declaração:
“Vocês jornalistas não acreditam, porque teve essa coisa de me aliar ao (ex-presidente José) Sarney. Então me taxam de velha política. Mas eu sempre fui de esquerda”.
No contexto, Renan Calheiros era um dos mais ferrenhos defensores do ex-presidente condenado Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Na sequência, atacou a Justiça e tantos outros na defesa da liberdade de Lula. Assim foi o caminho até o apoio à candidatura de Fernando Haddad à presidência da República.
Por sinal, em Alagoas, a história de Renan Calheiros e do PT estão umbilicalmente ligada. Não por acaso, em uma de suas eleições ao Senado Federal, precisou do PT para tirar de cena um dos rivais que eram filiados ao partido da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
No entanto, Renan Calheiros também já posou de social-democrata quando o presidente era Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e já construiu parcerias com os tucanos no âmbito local até o rompimento político com o ex-governador Teotonio Vilela Filho (PSDB), em 2007.
Renan Calheiros não pode acusar jornalistas de não entendê-lo. Ou melhor: se pode acusar, a culpa não é da imprensa que sempre viu o emedebista alagoano pular de galho em galho conforme as circunstâncias e ao sabor destas. Se há algo que o Renan Calheiros é, este algo seria o “renanzismo”.
A “ideologia” do “renanzismo” tem por base a sobrevivência do animal-político em qualquer que seja a fauna. Assim, renasce o novo Renan, como uma fênix ressurgida, na busca pelas declarações mais apropriadas para o momento. No próprio processo atual da disputa pela presidência do Senado Federal, Renan Calheiros tem agido assim, com declarações dúbias, ataques diretos e indiretos no twitter, enfim...
No dia de ontem, soltou – como já dito aqui – uma declaração de que “ainda não era candidato ao Senado Federal”. Parte da imprensa engoliu como se ele não fosse candidato. Calheiros nunca desistiu do páreo, mas luta por ser uma candidatura de aparências coletivas. Tem até o dia 1º para fazer isso e uma inteligência política de quem sabe muito bem se posicionar no xadrez.
Agora, aquele Renan Calheiros que dizia ter sido sempre de esquerda vem com uma nova pérola. Sabedor do espaço ocupado por Paulo Guedes – o superministro do presidente Jair Messias Bolsonaro (PSL) – Calheiros sabe que as ideias liberais do economista da Escola de Chicago depende do Congresso Nacional para serem implantadas.
Logo, o governo precisa das Casas – Câmara e Senado – sendo comandadas por quem se afina com essas agendas ou ao menos ofereça tal compromisso político. Então, o emedebista alagoano sai de ua reunião com lideranças do MDB e crava que será um novo Renan.
Do dia para a noite, acredite quem quiser, Renan Calheiros se desfaz do viés estatizante que assumia quando se dizia sempre de esquerda e frisa – conforme o UOL – que é um “liberal”, em tom de brincadeira. Todavia, como sempre, o dúbio camaleão também avisa: “Não subestime o velho, mas o novo vem aí”.
“Esse novo que vai assumir é menos acessível. O velho era sobrevivente, mais estatizante. Esse novo, não. É mais liberal e está querendo fazer as reformas de estado. Calheiros com isso trava uma espécie de guerra fria dentro do partido. O principal oponente é a senadora Simone Tebet.
Essa disputa, com declarações mais amenas e ações distantes dos holofotes, faz parte também do renanzismo, que é a ideologia de Calheiros que nunca mudará. O velho Renan e o novo Renan são formas de se adequar ao renanzismo. Afinal, como diz o próprio, será sempre o sobrevivente que está no comando.
Renan Calheiros com isso inaugura na política o que Oscar Wilde fez na literatura ao compor O Retrato de Dorian Gray. Divide uma única personalidade em três personagens. Lá, em Wilde, tinhamos o pintor, o lorde e o modelo. Em Calheiros, temos o sobrevivente, o velho e o novo. O velho está preso em um retrato para que Renan Calheiros nunca perca sua imagem de vista e saiba quem é no tempos áureos, o novo está na ativa para se manter vivo ao longo dos tempos e tempos sem fim. Já o sobrevivente, rege a orquestra.
No final das contas, Renan Calheiros é tão liberal quanto o ex-presidente americano Ronald Reagan foi comunista. No final das contas Renan Calheiros é sempre ele mesmo. Como diria o compositor Humberto Gessinger, na canção Além dos Outdoors, “as coisas mudam de nome para ser o que sempre serão”.
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