Muito mais que jornais, artigos de opinião - por melhores que eles sejam! - o fundamental para compreender a realidade na América Latina são livros que investigaram o assunto nos últimos anos, mostrando quem são as forças que assumiram o poder e as influências de mecanismos que, mesmo com seus documentos expostos e fontes primárias às claras, foram ignorados pela maioria da mídia brasileira.

Por sorte, tivemos nomes corajosos nesses tempos que trouxeram excelentes trabalhos para o público. Já citei nos espaços onde publico, em tempos idos, O Eixo do Mal Latino-Americano E a Nova Ordem Mundial de Heitor de Paola, bem como O Continente da Esperança de Alejandro Pena Escusa. Não poderia ficar de fora o Manual do Idiota Latino-Americano, de vários autores, incluindo Alvaro Vargas Llosa.

Porém, quando o assunto é o bolivarianismo e o chamado "Socialismo do Século XXI", que foi pensando dentro de mecanismos como o Foro de São Paulo, a Frente Francisco Miranda, o CEPS na Espanha, dentre outros, ainda não encontrei um trabalho melhor e mais aprofundado que o de Leonardo Coutinho. O ditador Nicolas Maduro não seria nada sem a falácia chamada Hugo Chávez.

A obra de Coutinho chama-se Hugo Chávez: O Espectro. Mostra muito bem como os governos que se dizem revolucionários construíram seus laços ideológicos, interferiram em soberanias e destruíram as economias e os conjuntos de valores dessas sociedades, levando o caos, e depois fabricando um inimigo incomum - como o tal "imperialismo" - para depois se colocarem como salvadores da pátria na construção de um socialismo.

Coutinho mostra - com provas cabais - a ligação desses governos com o narcotráfico internacional, o que não é novidade, pois tais fatos já se desenrolava na Cuba de Fidel Castro, na preparação de guerrilheiros, como mostram os autores como Humberto Fontova, nas obras sobre Castro e Che Guevara. Ou então A Vida Secreta de Fidel de Juan Reinaldo Sanchez. A literatura sobre o assunto é farta.

No caso da Venezuela, ainda há negociações com o terrorismo ao longo do governo Chávez que ajudaram ao país chegar onde chegou. Isto sem contar com a promoção de uma desordem no continente e com a tentativa de projeções globais. A obra de Coutinho revela fontes primárias, aponta para vídeos existentes, reportagens e até documentos.

Em um dos capítulos, aparece a interferência direta de Chávez para levar Evo Morales ao poder e - assim como feito consigo mesmo - a estratégia para a construção de um mito, envolvendo até a manipulação de fatos para simular um atentado a vida de Morales. Nada mais que uma narrativa derrubada pelas próprias investigações e, diante disso, jogada para baixo do tapete.

No turbilhão dos acontecimentos, ligações perigosas que chegaram a colocar as Forças Armadas bolivianas a serviço de ações de narcotraficantes e o uso de petrodólares para financiar movimentos revolucionários no continente. Tudo feito com o viés ideológico que também transformou o BNDES brasileiro em uma espécie de "cofre" para ações nesses países durante os governos petistas. Os valores investidos se pode observar recentemente diante da divulgação dos contratos do banco estatal.

O dinheiro dos brasileiros ajudou nesse contexto a financiar tiranias. Tudo pelo compromisso ideológico. Em um dos capítulos, crava Coutinho: "Quanto mais desorganizado o mundo se tornasse, mais liberdade ele (Chávez) teria para fazer sua almejada revolução". Maduro é o herdeiro de tudo isso.

Motivo pelo qual - ainda ao lado de Fidel Castro - Chávez fundou a Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (ALBA), com a declarada função de fazer frente a uma hegemonia militar americana. Assim, Chávez usou, como quis, a bonança do petróleo para os planos de mudar o mundo. Foi o ponta-pé inicial para empurrar a Venezuela para o caos social e econômico que vive hoje, com o objetivo explícito de um regime ditatorial.

Ali já entravam, por exemplo, as ligações com o Irã, quando Maduro era um chanceler. Um passo importante para estabelecer conexões também com a Argentina, por meio de Nestor Kirchner - à época - e assim retomar a cooperação nuclear com o Irã. Vale pesquisar aqui - se o leitor tiver tempo - pela morte do promotor Alberto Nisman. Tem tudo a ver com esse assunto.

Mas ainda há quem ache que falar de Foro de São Paulo e investigar o passado é mera "teoria da conspiração", mesmo com o ex-presidente e condenado Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula (PT), já tendo falado da importância dessa "coisita" para que todos chegassem ao poder dentro dessa conjuntura que é exposta por Leonardo Coutinho em sua obra.

Não é apenas Lula. No Youtube há uma entrevista do ex-ministro mensaleiro José Dirceu falando - no programa Provocações - da importância do Foro e dos presidentes que chegaram ao poder depois dele.

Um dos capítulos da obra de Coutinho que merce toda atenção é o que fala do "narcobolivarianismo". Ele até cita o esquema iniciado em Cuba que é revelado por Juan Reinaldo Sanchez, ex-guarda-costas de Fidel Castro. A Venezuela passou a ser - sob o chavismo - a responsável pelo escoamento de 90% da droga produzida na Colômbia. Sabe-se lá o que essa grana financiou.

Se o leitor se aventurar na dica deste blog, também preste atenção nos personagens. Um deles que tem importância significativa é Diosdado Cabello - que integra essas relações perigosas. Cabello visitou o Brasil por convite da JBS de Joesley Batista. Na época, foi recebido por Lula, por Dilma Rousseff (PT) e por Michel Temer (MDB) e até pelo presidente - na época - do Congresso Nacional, Renan Calheiros (MDB), segundo Leonardo Coutinho. E aqui falo apenas da influência de Cabello, pois é difícil saber especificamente quais assuntos tratados.

Oficialmente, foi dito, que ele tratava no Brasil das dívidas da Venezuela com fornecedores. O objetivo era atrair investimentos para seu país, "apesar da crescente insolvência com os exportadores brasileiros".

Enfim, o livro de Coutinho mostra muito do jogo de poder dos bastidores e de como esses governos - nos últimos anos - foram parceiros ideológicos fortes, envolvendo grandes empresários, políticos etc. Muitas vezes, cada um desses querendo o seu quinhão, sem se importarem com o que abriam passagem. Tanto que Cabello esteve no Brasil com um autêntico representante do governo venezuelano.

Vale a pena, diante do que se tem escrito sobre a Venezuela recentemente, a leitura desta obra de Leonardo Coutinho. Por isso, fica  dica: Hugo Chávez, o Espectro. Evidentemente, os outros livros aqui citados também são indicados para aprofundar o assunto.

PS: Caro leitor, houve dois erros de digitação nesse texto. Já corrigidos. Obrigado. 

Estou no twitter: @lulavilar