Pensar um Estado como uma babá onde o público e o privado se confundem e assim usufruir de benesses conforme a posição ocupada dentro de uma burocracia estamentária estatal. Isto define bem uma espécie de "cultura" (entre aspas mesmo!) existente nesse país. Não é exclusividade do gabinete da deptuada estadual Thaise Guedes, que nomeou parentes no recesso visando apenas os salários que estes ganhariam. 

Vasculhar os poderes pelo país afora é encontrar posturas semelhantes quiçá piores. Thaise Guedes foi pega e eis o escândalo posto. Bem feito para ela! 

Mas, eis aí um sintoma e não uma causa. O que verdadeiramente deve ser combatido é o modelo de Estado - seja o Legislativo, Executivo ou Estadual; seja nas esferas federais, municipais ou estaduais - que permite tantos benefícios a quem vai subindo na hierarquia do poder. 

E aí, dois pontos: 1) Quem nunca comeu mel, quando come se lambuza; 2) as tentações, a ocasião e as facilidades potencializam o mal-intencionado. 

São carros, auxílios disso e daquilo, celular, dinheiro até para comprar as vestes, milhares de assessores e o que se pode "fazer por fora". Tudo o que um trabalhador comum, da iniciativa privada, nem sonha em ter. 

Por sinal, um critério básico que deveria ser pensado pelo eleitor é: na iniciativa privada o que renderia o político no qual eu votei? No caso de Thaíse Guedes - e ela não é a única! - se tinha um gabinete de projetos de leis risíveis, como atrelar o plantio de árvores a venda de carros zero quilômetro, dentre outros que tratei nesse blog. 

Ou seja: o espírito legisferante de fazer o Estado tomar conta de tudo era presente em Guedes, além do assistencialismo. Salvo engano, houve bons projetos (sejamos justos!). Um deles, eu até elogiei nesse blog. Elogiei surpreso, mas elogiei. 

Mas Thaise Guedes - e não há nada de pessoal nisto, pois sequer a conheço - é só mais um exemplo de político totalmente despreparado para o cargo que ocupa. Tinha colegas iguais na Casa de Tavares Bastos, que entravam mudos e saiam calados. 

Estes também me incomodam como eleitor, mesmo que nada os desabone. É que não basta ser honesto, é preciso ser competente quando se quer ser líder e representante. Afinal, ninguém sabe nem o que eles pensam. É o caso de Severino Pessoa, que se elegeu deputado federal, Marquinhos Madeira e por aí vai. Se o parlamento tem por essência o debate, esses passaram 99% da atividade legislativa sem falar mais que uma frase com sujeito, verbo e predicado. 

Sei que para muitos políticos é difícil unir a sintática. O esforço pode ser hercúleo. 

Mas é do jogo democrático.

 Foram eleitos e possuem a legitimidade para o exercício de suas funções. Uma pena para eles e para a Casa que se fixam no quadro limitado de suas capacidades cognitivas e tarefas de bastidores. Algumas dessas tarefas de bastidores, quando expostas a luz, revelam os tais sintomas que destaquei. Não é a primeira vez que Guedes é questionada por nomeações de seu gabinete. Quem quiser saber mais pesquise no google. 

Agora, aproveitando a distância dos holofotes da imprensa, emplacou marido, irmã, tia e até uma babá como servidores em um período de recesso. Fica mais do que clara a manobra para ter acesso à grana sem muito esforço. O parlamento estadual reagiu e exenerou estas pessoas, mas o fez por pressão midiática e não por iniciativa própria. É sempre bom frisar isso. 

Mas o que realmente precisa? Reduzir as benesses dos poderes. No caso da Assembleia, repensar a estrutura ofertada a um deputado estadual, como é o caso da maldita GDE (Gratificação por Dedicação Exclusiva). O Poder Legislativo - assim como os demais - custa caro ao cidadão. Nada mais justo que este, que é quem paga a conta, se indague sobre o óbvio: a relação do custo-benefício. 

E isto não é atacar o parlamento. Muito pelo contrário. É defender e querer que este seja atuante e palco de pessoas vocacionadas a esta atividade. Não há democracia forte sem parlamento forte. O nosso parlamento - entra legislatura e sai legislatura - vive a conviver com escândalos. 

Thaíse Guedes, nesse sentido, nos oferta uma reflexão bem maior sobre uma Casa onde já aconteceu de tudo, onde auditorias nunca deram resultado positivo, onde a transparência não é exemplar, onde os servidores efetivos que de fato trabalham sofrem muito, como é o caso dos aposentados e sua longa luta na Casa. A lista é grande...

O que a deputada estadual fez está dentro da "cultura" assimilada pelo estamento burocrático do país. É a lei da vantagem diante da posição ocupada. É um exemplo do tanto de coisas que ainda temos a mudar, sobretudo porque um parlamento é um espaço vital à democracia. Guedes perdeu o mandato. Mas, a "cultura" do poder segue a rondar as cadeiras dos senhores parlamentares. 

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